Capítulo 4 Fase Supercrítica: Unicidade do Aglomerado Infinito

A ergodicidade da medida produto tem como conseqüência que, quase certamente, existe um aglomerado infinito quando θ(p)>0\theta(p)>0.

De fato, o evento de que existe um aglomerado infinito (xd{|Cx|=}\cup_{x\in\mathbb{Z}^{d}}\{|C_{x}|=\infty\}) é invariante por translação e portanto trivial sob PpP_{p}. (O que decorre também deste evento ser caudal e da Lei 0-1 de Kolmogorov.)

Neste capítulo, a ergodicidade será explorada para estabelecer um dos aspectos mais interessantes desta fase, o fato de que o aglomerado infinito é único (quase certamente).

Vamos definir por η\eta a variável aleatória que conta o número de aglomerados infinitos distintos de uma configuração de Ω\Omega. η\eta é invariante por translação (pois translações das configurações de Ω\Omega não alteram o número de aglomerados infinitos delas) e as medidas PpP_{p} são ergódicas, por serem produto. Portanto, por uma conhecida lei 0-1, η\eta é constante quase certamente. Em princípio, η\eta pode assumir qualquer valor inteiro, desde 0 até \infty. O resultado principal deste capítulo exclui η2\eta\geq 2.

Teorema 4.1

Qualquer que seja p[0,1]p\in[0,1],

Pp(η=0)=1P_{p}(\eta=0)=1 (4.1)

ou

Pp(η=1)=1.P_{p}(\eta=1)=1. (4.2)

O Teorema 4.1 é provado por meio das seguintes proposições, devidas respectivamente a Newman e Schulman [15] e Aizenman, Kesten e Newman [6]. A primeira, exclui 2η<2\leq\eta<\infty. A segunda exclui η3\eta\geq 3. (Infelizmente, não se pode incluir \infty na primeira ou 22 na segunda.)

Proposição 4.1

Qualquer que seja p[0,1]p\in[0,1],

Pp(η=0)=1P_{p}(\eta=0)=1 (4.3)

ou

Pp(η=1)=1P_{p}(\eta=1)=1 (4.4)

ou

Pp(η=)=1.P_{p}(\eta=\infty)=1. (4.5)

Prova

Seja kpk_{p} a constante tal que Pp(η=kp)=1P_{p}(\eta=k_{p})=1. Suponha que 1kp<1\leq k_{p}<\infty. Vamos mostrar que disto se segue que Pp(η=1)>0P_{p}(\eta=1)>0, o que implica pela trivialidade de η\eta que kp=1k_{p}=1.

De fato, denotando por QnQ_{n} o cubo de lado 2n+12n+1 centrado na origem., considere o evento

An={todos os aglomerados infinitos intersectam Qn}.A_{n}=\{\mbox{todos os aglomerados infinitos intersectam $Q_{n}$}\}. (4.6)

Note que AnA_{n} depende da configuração de elos apenas da fronteira de QnQ_{n} para fora. Como kp<k_{p}<\infty,

limnPp(An,η=kp)=Pp(η=kp)=1.\lim_{n\to\infty}P_{p}(A_{n},\eta=k_{p})=P_{p}(\eta=k_{p})=1. (4.7)

Seja n0n_{0} tal que Pp(An0)>0P_{p}(A_{n_{0}})>0 e considere o evento

Bn0={todos os elos interiores de Qn0 estão abertos}.B_{n_{0}}=\{\mbox{todos os elos interiores de $Q_{n_{0}}$ estão abertos}\}. (4.8)

Note que Bn0B_{n_{0}} depende apenas dos elos interiores a Qn0Q_{n_{0}} e logo é independente de An0A_{n_{0}}.

Finalmente, o evento de que η=1\eta=1 contem An0Bn0A_{n_{0}}\cap B_{n_{0}}. Concluimos da discussão acima que

Pp(η=1)Pp(An0Bn0)=Pp(An0)Pp(Bn0)>0.P_{p}(\eta=1)\geq P_{p}(A_{n_{0}}\cap B_{n_{0}})=P_{p}(A_{n_{0}})P_{p}(B_{n_{0% }})>0.\quad\triangle (4.9)
Proposição 4.2

Qualquer que seja p[0,1]p\in[0,1],

Pp(η3)=0.P_{p}(\eta\geq 3)=0. (4.10)

Deste resultado apresentaremos uma prova diferente da original de Aizenman, Kesten e Newman, mais simples e geral, devida a Burton e Keane [16]. Ela se vale do argumento geométrico esboçado a seguir.

A ocorrência de três aglomerados infinitos disjuntos (e a ergodicidade de PpP_{p}) tem como conseqüência a existência de uma densidade de pontos triplos especiais, isto é, sítios ligados por elos disjuntos a três aglomerados infinitos, que seriam disjuntos ao se remover os elos incidentes àqueles sítios. Mas um lema sobre grafos (que será enunciado abaixo como exercício) mostra que dentro de um cubo podem existir um número de pontos triplos especiais apenas da ordem da área da fronteira do cubo. Da contradição segue o resultado da proposição.

Agora enunciamos o lema sobre grafos, em forma de exercício para o leitor.

Exercício

Seja G um grafo conexo com conjunto de sítios S e conjunto de elos E. Um sítio xx em S será chamado um ponto triplo para G se

  • i)

    existirem apenas três elos de E tocando xx e

  • ii)

    o grafo G\\backslash{xx}, em que xx é removido de S e os três elos tocando em xx são removidos de E, tem exatamente três componentes conexos. (Denotaremos os conjuntos de sítios destes três componentes E1(x),E2(x),E3(x)E_{1}(x),E_{2}(x),E_{3}(x) e os chamaremos de ramos. Veja Figura 4.1.)

 é um ponto triplo
Figura 4.1: xx é um ponto triplo

a. Suponha que G seja um grafo conexo e que x1,x2,,xnx_{1},x_{2},\ldots,x_{n} sejam pontos triplos distintos para G. Mostre que para algum i dois dos três ramos em xix_{i}, digamos E2(xi)E_{2}(x_{i}) e E3(xi)E_{3}(x_{i}) não contêm nenhum dos outros pontos triplos ({x1,,xn}\{xi}\{x_{1},\ldots,x_{n}\}\backslash\{x_{i}\}).[Sugestão: indução em n]

b. Considere o grafo G\mbox{G}^{\prime} obtido de G e x1,,xnx_{1},\ldots,x_{n} do item anterior removendo-se todos os sítios de E3(xi)E_{3}(x_{i}) e todos os elos tocando estes sítios. Mostre que {x1,,xn}\{xi}\{x_{1},\ldots,x_{n}\}\backslash\{x_{i}\} são pontos triplos para G\mbox{G}^{\prime}.

c. Suponha que G seja um grafo conexo e que x1,,xnx_{1},\ldots,x_{n} sejam pontos triplos distintos de G. Entre os 3n ramos,

E1(x1),E2(x1),E3(x1),E1(x2),,E3(xn),E_{1}(x_{1}),E_{2}(x_{1}),E_{3}(x_{1}),E_{1}(x_{2}),\ldots,E_{3}(x_{n}),

mostre que se pode achar pelo menos n+2 ramos disjuntos.

Prova da Proposição 4.2

Suponha que Pp(η3)>0P_{p}(\eta\geq 3)>0. Vamos procurar uma contradição.

Seja o evento

Fn\displaystyle F_{n} =\displaystyle= {pelo menos três aglomerados infinitos abertos distintos\displaystyle\{\mbox{pelo menos três aglomerados infinitos abertos distintos}
atingem Qn1}.\displaystyle\mbox{atingem $Q_{n-1}$}\}.

Note que Fn{η3}F_{n}\uparrow\{\eta\geq 3\} quando nn\uparrow\infty, logo existe n0n_{0} tal que Pp(Fn0)>0P_{p}(F_{n_{0}})>0. Dados y1,y2,y3y_{1},y_{2},y_{3} três pontos distintos no interior das faces de Qn0\partial Q_{n_{0}}, seja o evento

Fn0(y1,y2,y3)\displaystyle F_{n_{0}}(y_{1},y_{2},y_{3}) =\displaystyle= {y1,y2,y3pertencem a aglomerados infinitos distintos\displaystyle\{y_{1},y_{2},y_{3}\,\,\mbox{pertencem a aglomerados infinitos distintos}
usando apenas elos exteriores a Qn0}.\displaystyle\mbox{usando apenas elos exteriores a $Q_{n_{0}}$}\}.
11footnotetext: exclui elos com pelo menos uma extremidade em Qn1Q_{n-1}

Como Fn0y1,y2,y3Fn0(y1,y2,y3)F_{n_{0}}\subset\bigcup_{y_{1},y_{2},y_{3}}F_{n_{0}}(y_{1},y_{2},y_{3}), temos que

Pp(Fn0(y1,y2,y3))>0P_{p}(F_{n_{0}}(y_{1},y_{2},y_{3}))>0 (4.11)

para algum y1,y2,y3y_{1},y_{2},y_{3}. Dados estes y1,y2,y3y_{1},y_{2},y_{3}, seja x=x(y1,y2,y3)x=x(y_{1},y_{2},y_{3}) um ponto do interior de Qn0Q_{n_{0}} com a propriedade de que há três caminhos de elos disjuntos no interior Qn0Q_{n_{0}}22 2 Qn1Q_{n-1} mais os elos com uma extremidade em Qn1Q_{n-1} ligando xx a y1,y2,y3y_{1},y_{2},y_{3} respectivamente. Defina agora o evento

Fn0(y1,y2,y3)\displaystyle F^{\prime}_{n_{0}}(y_{1},y_{2},y_{3}) =\displaystyle= {os três caminhos mencionados acima estão abertos,\displaystyle\{\mbox{os três caminhos mencionados acima estão abertos,}
todos os demais elos do interior de Qn estão fechados}.\displaystyle\mbox{todos os demais elos do interior de $Q_{n}$ estão fechados}\}.
O evento
Figura 4.2: O evento Fn0(y1,y2,y3)F^{\prime}_{n_{0}}(y_{1},y_{2},y_{3}).

Logo

Pp(Fn0(y1,y2,y3)Fn0(y1,y2,y3))\displaystyle P_{p}(F_{n_{0}}(y_{1},y_{2},y_{3})\cap F^{\prime}_{n_{0}}(y_{1},% y_{2},y_{3}))
=\displaystyle= Pp(Fn0(y1,y2,y3))Pp(Fn0(y1,y2,y3))>0,\displaystyle P_{p}(F_{n_{0}}(y_{1},y_{2},y_{3}))P_{p}(F^{\prime}_{n_{0}}(y_{1% },y_{2},y_{3}))>0,

onde a igualdade segue da independência dos eventos (o primeiro depende apenas de elos exteriores a Qn0Q_{n_{0}}; o segundo, apenas de elos interiores).

Vamos dizer agora que um ponto triplo (segundo a definição no exercício acima) é um ponto triplo especial se seus ramos são infinitos. Note que

{x(y1,y2,y3) é um ponto triplo especial}Fn0(y1,y2,y3)Fn0(y1,y2,y3).\{\mbox{$x(y_{1},y_{2},y_{3})$ é um ponto triplo especial}\}\supset F_{n_{0}}(% y_{1},y_{2},y_{3})\cap F^{\prime}_{n_{0}}(y_{1},y_{2},y_{3}).

De toda discussão acima, concluimos que, se Pp(η3)>0P_{p}(\eta\geq 3)>0, então

Pp(x é um ponto triplo especial)>0.P_{p}(\mbox{$x$ é um ponto triplo especial})>0. (4.12)

A probabilidade acima não depende de xx, pela invariância por translação de PpP_{p}. Vamos denotá-la por ρ\rho. Segue-se que

Ep(#{pontos triplos especiais em Qn1})=(2n1)dρ,E_{p}(\mbox{\#\{pontos triplos especiais em $Q_{n-1}$}\})=(2n-1)^{d}\rho, (4.13)

logo

Pp[#(pontos triplos especiais em Qn1)(2n1)dρ)]>0P_{p}[\mbox{\#(pontos triplos especiais em $Q_{n-1}$})\geq(2n-1)^{d}\rho)]>0 (4.14)

para todo nn (pois, para toda variável aleatória integrável X,

P(XE(X))>0).P(X\geq E(X))>0).

Por outro lado, é uma conseqüência do exercício acima que o número de pontos triplos especiais em Qn1Q_{n-1} é inferior a 2d(2n1)d12d(2n-1)^{d-1} para toda configuração de Ω\Omega e todo nn, o que contradiz (4.14) para nn suficientemente grande. Da contradição segue o resultado.

Vamos agora argumentar a afirmação no começo do parágrafo anterior. Cada ramo de cada ponto triplo especial (pte) toca um (ou mais) sítios em alguma face de Qn\partial Q_{n} (2d(2n1)d12d(2n-1)^{d-1} é o total de sítios em Qn\partial Q_{n}).

Considere os componentes conexos dos pte’s usando apenas elos no interior de QnQ_{n}. Digamos que cada componente contenha n1,n2,n_{1},n_{2},\ldots pte’s cada (isto é, o ii-ésimo componente contem nin_{i} pte’s). Logo

n1+n2+n_{1}+n_{2}+\ldots (4.15)

dá o total de pte’s em Qn1Q_{n-1}. Usando a linguagem do exercício acima, cada componente contem nin_{i} pontos triplos. Daquele resultado sabemos que podemos achar pelo menos ni+2n_{i}+2 ramos distintos dentre as 3ni3n_{i} possibilidades. Portanto, podemos achar

(n1+2)+(n2+2)+(n_{1}+2)+(n_{2}+2)+\ldots (4.16)

ramos distintos de todos os pontos triplos. Como cada um toca pelo menos um ponto das faces de QnQ_{n}, será necessário que

n1+n2+(n1+2)+(n2+2)+2d(2n1)d1,n_{1}+n_{2}+\ldots\leq(n_{1}+2)+(n_{2}+2)+\ldots\leq 2d(2n-1)^{d-1}, (4.17)

como queríamos mostrar. \quad\triangle

A seguir, apresentamos alguns corolários do Teorema 4.1. Lembramos que τp(x,y)\tau_{p}(x,y) é a função de conectividade dos sítios xx e yy, isto é,

τp(x,y)=Pp(xy).\tau_{p}(x,y)=P_{p}(x\leftrightarrow y).
Corolário 4.1
τp(x,y)[θ(p)]2\tau_{p}(x,y)\geq[\theta(p)]^{2} (4.18)

O resultado acima tem como conseqüência que, na fase supercrítica, a função de conectividade entre dois pontos não decai quando a distância entre eles cresce.

Prova

τp(x,y)\displaystyle\tau_{p}(x,y) \displaystyle\geq Pp(x e y estão no mesmo aglomerado infinito)\displaystyle P_{p}(\mbox{$x$ e $y$ estão no mesmo aglomerado infinito})
=\displaystyle= Pp(|Cx|=|Cy|=)Pp(|Cx|=)Pp(|Cy|=)=θ(p)2,\displaystyle P_{p}(|C_{x}|=|C_{y}|=\infty)\geq P_{p}(|C_{x}|=\infty)P_{p}(|C_% {y}|=\infty)=\theta(p)^{2},

onde a primeira igualdade deve-se ao Teorema 4.1 e a última desigualdade é FKG. \quad\triangle

Corolário 4.2

θ(p)\theta(p) é contínua à esquerda em (pc,1](p_{c},1].

Prova

Vamos construir modelos de percolação para todo p[0,1]p\in[0,1] acoplados usando uma família de variáveis i.i.d. Uniformes em [0,1][0,1] {Ze,e𝔼d}\{Z_{e},e\in\mathbb{E}^{d}\} declarando um elo ee pp-aberto se Ze<pZ_{e}<p (como na prova da monotonicidade de θ(p)\theta(p)). Seja CpC_{p} o aglomerado da origem com elos pp-abertos.

Se πp\pi\leq p então CπCpC_{\pi}\subset C_{p} e

limπpθ(π)\displaystyle\lim_{\pi\uparrow p}\theta(\pi) =\displaystyle= limπp(|Cπ|=)\displaystyle\lim_{\pi\uparrow p}\mathbb{P}(|C_{\pi}|=\infty)
=\displaystyle= (π<p{|Cπ|=}).\displaystyle\mathbb{P}(\cup_{\pi<p}\{|C_{\pi}|=\infty\}).

Queremos mostrar que a última probabilidade acima vale θ(p)\theta(p). Consideremos então

θ(p)(π<p{|Cπ|=})=(|Cp|=,|Cπ|<π<p)\theta(p)-\mathbb{P}(\cup_{\pi<p}\{|C_{\pi}|=\infty\})=\mathbb{P}(|C_{p}|=% \infty,|C_{\pi}|<\infty\,\forall\,\pi<p) (4.19)

para p>pcp>p_{c}. Para concluirmos que a última expressão é nula, basta argumentarmos que se |Cp|=|C_{p}|=\infty e o aglomerado infinito pp-aberto for único, então |Cπ|=|C_{\pi}|=\infty para algum π<p\pi<p.

De fato, nestas condições, tome α\alpha satisfazendo pc<α<pp_{c}<\alpha<p. Então, quase certamente existe um aglomerado infinito α\alpha-aberto, IαI_{\alpha}, que precisa satisfazer IαCpI_{\alpha}\subset C_{p} (pois do contrário haveria dois aglomerados infinitos de elos pp-abertos!).

Logo, existe um caminho finito de elos pp-abertos γ\gamma ligando a origem a IαI_{\alpha}. Como γ\gamma é finito e cada elo ee nele tem Ze<pZ_{e}<p, então

μ=max{Ze,eγ}<p.\mu=\max\{Z_{e},\,e\in\gamma\}<p.

Se π\pi for tal que πα\pi\geq\alpha e μ<π<p\mu<\pi<p, então IαI_{\alpha} e γ\gamma são π\pi-abertos. Portanto |Cπ|=|C_{\pi}|=\infty.\quad\triangle

O resultado acima, junto com o seguinte (que não é corolário da unicidade do aglomerado infinito) nos diz que θ(p)\theta(p) é contínua em (pc,1](p_{c},1].

Proposição 4.3

θ(p)\theta(p) é contínua à direita.

Prova

Seja AnA_{n} o evento de que a origem está ligada à fronteira de SnS_{n} por um caminho aberto. (An)n1(A_{n})_{n\geq 1} é uma seqüência decrescente e

Pp(An)θ(p)P_{p}(A_{n})\downarrow\theta(p)

quando nn\uparrow\infty. Pp(An)P_{p}(A_{n}) é contínua em pp (pois é um polinômio) e, usando o modelo padrão do Capítulo 1, é fácil ver também que é crescente nesta variável. Logo, θ(p)\theta(p) é o limite decrescente de funções contínuas crescentes. Um resultado de análise sobre funções semi-contínuas inferiores (ou um argumento direto) nos dá o resultado. \quad\triangle

Observação 4.1

Como conseqüência dos dois últimos resultados, temos que θ(p)\theta(p) será contínua em [0,1][0,1] se e somente se θ(pc)=0\theta(p_{c})=0.

Para o próximo corolário, vamos dizer que ocorre um cruzamento da esquerda para a direita no cubo QnQ_{n} se houver um caminho de elos abertos contidos em QnQ_{n} ligando a face esquerda de QnQ_{n} a sua face direita. Denotemos por EDnED_{n} o evento de que tal cruzamento ocorre. EDnED_{n} poderia ser visto como uma versão a volume finito do evento de que há percolação. É uma decorrência do decaimento exponencial do raio de CC na fase subcrítica que Pp(EDn)0P_{p}(ED_{n})\to 0 quando nn\to\infty neste caso (verifique). O caso supercrítico será tratado no próximo resultado.

Corolário 4.3

Se θ(p)>0\theta(p)>0, então

Pp(EDn)1P_{p}(ED_{n})\to 1 (4.20)

quando nn\to\infty.

Veremos no próximo capítulo que em p=pcp=p_{c} um evento similar a EDnED_{n} tem probabilidade que não converge nem para 0 nem para 1 quando nn\to\infty.

Prova

Seja ImI_{m} o evento de que algum sítio de QmQ_{m} está num aglomerado infinito. Dado ϵ>0\epsilon>0, escolha mm grande o suficiente para que

Pp(Im)>1ϵP_{p}(I_{m})>1-\epsilon (4.21)

(isto é possível pela discussão nos primeiros parágrafos do capítulo).

Temos que, para nmn\geq m

Imi=12d{QmFiemQn},I_{m}\subset\cup_{i=1}^{2d}\left\{Q_{m}\leftrightarrow F_{i}\,\mbox{em}\,Q_{n}% \right\}, (4.22)

onde F1,,F2dF_{1},\ldots,F_{2d} são as faces de QnQ_{n}.

Logo

1Pp(Im)\displaystyle 1-P_{p}(I_{m}) \displaystyle\geq 1Pp(i=12d{QmFiemQn})\displaystyle 1-P_{p}\left(\cup_{i=1}^{2d}\left\{Q_{m}\leftrightarrow F_{i}\,% \mbox{em}\,Q_{n}\right\}\right) (4.23)
=\displaystyle= Pp(i=12d{QmFiemQn}c)\displaystyle P_{p}\left(\cap_{i=1}^{2d}\left\{Q_{m}\leftrightarrow F_{i}\,% \mbox{em}\,Q_{n}\right\}^{c}\right)
\displaystyle\geq [1Pp(QmFemQn)]2d,\displaystyle\left[1-P_{p}\left(Q_{m}\leftrightarrow F\,\mbox{em}\,Q_{n}\right% )\right]^{2d},

onde F{F1,,F2d}F\in\{F_{1},\ldots,F_{2d}\} e a última desigualdade segue de FKG pelo fato de que os eventos na intersecção são decrescentes e também do fato que estes eventos têm a mesma probabilidade (vide prova do Lema 5.1 na página 5.1).

De (4.21) e (4.23), temos que

Pp(QmFemQn)1ϵ1/2dP_{p}\left(Q_{m}\leftrightarrow F\,\mbox{em}\,Q_{n}\right)\geq 1-\epsilon^{1/{% 2d}} (4.24)

Sejam FeF_{e} e FdF_{d} as faces esquerda e direita de QnQ_{n} respectivamente. Por FKG e (4.24),

Pp({QmFeemQn}{QmFdemQn})(1ϵ1/2d)2P_{p}\left(\{Q_{m}\leftrightarrow F_{e}\,\mbox{em}\,Q_{n}\}\cap\{Q_{m}% \leftrightarrow F_{d}\,\mbox{em}\,Q_{n}\}\right)\geq(1-\epsilon^{1/{2d}})^{2} (4.25)

Seja agora Am,nA_{m,n} o evento de que há 2 sítios em Qm\partial Q_{m} em 2 aglomerados abertos disjuntos, ambos tocando Qn\partial Q_{n}. Temos que Am,nAm,n+1A_{m,n}\supset A_{m,n+1} e Am,nAmA_{m,n}\downarrow A_{m} quando nn\uparrow\infty, onde AmA_{m} é o evento de que há 2 aglomerados abertos infinitos disjuntos tocando QmQ_{m}.

O evento
Figura 4.3: O evento Am,nA_{m,n}

Em conclusão

Pp(Am,n)Pp(Am)=0P_{p}(A_{m,n})\to P_{p}(A_{m})=0 (4.26)

quando nn\to\infty e portanto, de

Pp(EDn)(1ϵ1/2d)2Pp(Am,n),P_{p}(ED_{n})\geq(1-\epsilon^{1/{2d}})^{2}-P_{p}(A_{m,n}), (4.27)

que decorre de

{QmFeemQn}{QmFdemQn}EDnAm,n,\{Q_{m}\leftrightarrow F_{e}\,\mbox{em}\,Q_{n}\}\cap\{Q_{m}\leftrightarrow F_{% d}\,\mbox{em}\,Q_{n}\}\subset ED_{n}\cup A_{m,n}, (4.28)

temos

lim infnPp(EDn)(1ϵ1/2d)2\liminf_{n\to\infty}P_{p}(ED_{n})\geq(1-\epsilon^{1/{2d}})^{2} (4.29)

e o resultado segue de ϵ\epsilon ser arbitrário. \quad\triangle