Capítulo 6 Continuidade no Ponto Crítico: Renormalização
Neste último capítulo trataremos de forma pincelada de um método de ataque ao problema de se provar a continuidade de em em mais dimensões do que duas. Neste caso, não temos nem a auto-dualidade da rede hipercúbica nem conhecemos (ou esperamos algum dia conhecer) o valor exato de . Ambos conhecimentos foram úteis em (Capítulo 5).
A idéia será relacionar a ocorrência de percolação a um evento em volume finito, cuja probabilidade, sendo contínua (pois as probabilidades de todos tais eventos são polinômios em ), nos permitirá concluir que, se há percolação para , então há também para com suficientemente pequeno.
O método é chamado de renormalização. A versão a ser esboçada, que chamaremos renormalização estática, não foi ainda realizada com rigor em modelos de percolação (uma prova para a Proposição 6.2 abaixo ainda não foi feita), mas técnicas de renormalização dinâmica muito similares foram aplicadas com sucesso para percolação em semi-espaços de , [7]. O problema da continuidade no ponto crítico em inteiro permanece aberto para valores intermediários de entre e , este último o menor valor para o qual Hara e Slade [17] podem aplicar sua expansão em laços e obter a continuidade a partir daí, entre outros resultados ( estava em 19 segundo as últimas notícias, mas não se espera que possa vir abaixo de 7).
Para , considere a partição de em cubos concêntricos de lado e como na figura abaixo e seja o evento em que existe um caminho aberto dentro dos dois cubos grandes conectando a superfície dos dois cubos menores (vide Figura 6.1).
Para garantir interconexão, precisamos intersectar com outro evento
em que , , é o evento de que todos os sítios do cubo menor , que estiverem ligados por caminhos abertos à fronteira do cubo grande respectivo, estarão conectados entre si por caminhos abertos dentro do cubo grande.
Seja .
Proposição 6.1
Seja Existe tal que se (para algum e ) , então .
Um argumento para a validade deste resultado será esboçado adiante.
Proposição 6.2 (Conjectura)
Se, para algum , , então
Teorema 6.1
Se a Proposição 6.2 conjecturada for verdadeira, então
Prova do teorema.
Primeiro mostraremos que a Proposição 6.2 conjecturada implica que se , então
(portanto para algum e ).
De fato, para cada fixo,
para , pois de outra forma haveria probabilidade positiva de que 2 sítios do cubo menor estivessem em aglomerados infinitos disjuntos. Logo
do que se conclui que
Agora suponha que, para algum , . Pelo argumento acima podemos escolher e tais que . Mas é um polinômio em . Logo
para algum positivo. Pela Proposição 6.1
Temos portanto que implica que para algum . Logo não pode ser positivo, pois isto implicaria em positivo para algum , o que contradiz a definição de .
(Esboço de) Prova da Proposição 6.1 (em ).
Considere uma rede renormalizada isomórfica a na qual cada sítio corresponde a um cubo em , como na Figura 6.2. Declare um elo renormalizado aberto se ocorrer.
Teremos então um modelo de percolação dependente na rede renormalizada com uma medida de probabilidade tal que
Precisamos mostrar que existe tal que se for maior do que , então percolação dependente ocorre na rede renormalizada. Se isto ocorrer, obviamente percolação independente ocorrerá na rede original.
A prova de que percolação dependente ocorre em renormalizada pode ser feita pelo mesmo argumento de Peierls na prova da Proposição 1.2.2 (a partir dos circuitos nos elos duais de ) com a única pequena modificação de que a medida nos elos não é mais independente, mas apenas localmente dependente. Deixamos os detalhes para o leitor.