4.3 Probabilidade Condicional Regular
Já sabemos definir por exemplo . Gostaríamos porém de garantir que essa expressão definisse uma probabilidade em , e chamaríamos essa probabilidade de . Mas certamente gostaríamos que fosse uma função -aditiva. Essa especulação parece promissora, por exemplo se e são disjuntos,
Ótimo, mas ainda temos o seguinte problema.
Lembramos que a equação acima está bem definida apenas quase certamente. Poderíamos portanto garantir que para uma classe enumerável de conjuntos , essa aditividade fosse satisfeita. Porém, a -álgebra é frequentemente não enumerável, portanto não conseguimos a -aditividade plena. Isso pode ser contornado se o espaço for canônico, como afirma o nosso próximo resultado.
Ele nos ajudará bastante ao fazermos cálculos usando condicionais, de maneira semelhante à Lei da Probabilidade Total. Esse é o conteúdo do seguinte resultado.
[Teorema da Desintegração] Sejam espaços mensuráveis e , com canônico. Se é uma probabilidade no espaço produto e denotamos por a primeira distribuição marginal de , então existe um núcleo de transição satisfazendo
Em particular,
Nesse caso denotamos por (como de costume denota a -ésima coordenada canônica).
Demonstração.
Como de costume, basta resolver o caso . De fato, se assumimos a validade do teorema para a reta, podemos usar a função bi-mensurável para concluir o caso geral.
Nos restringiremos agora ao espaço . Para cada , definimos por
Observando que é absolutamente contínua com respeito a , podemos definir
Observamos as seguintes propriedades de :
-
a)
para cada , , -quase certamente, pois para todo ,
-
b)
para , , -quase certamente, pois para todo e
-
c)
(analogamente ) quando tende a infinito, -quase certamente. Para ver isso, note que a sequência de variáveis aleatórias é quase certamente monótona não decrescente, logo converge -quase certamente. Sendo limitada, converge em e como sua integral em converge para um, , quase certamente (analogamente para ).
Existe pois um conjunto com no qual as três hipóteses acima são satisfeitas. Definimos como sendo igual a em e igual a (uma função de distribuição fixa) caso contrário (que claramente será mensurável). Finalmente podemos definir , que satisfaz para todo as hipóteses do Teorema 2.3. Logo, existe para cada uma medida em satisfazendo -quase certamente.
Precisamos mostrar que é um núcleo, e para isso basta observar que são mensuráveis e a família forma um -sistema que gera .
Finalmente, vamos verificar (4.36), notando que se e ,
Como a classe é um -sistema gerando terminamos a prova. ∎
Interpretamos da seguinte forma. Se alguém tiver acesso à -álgebra , ou seja, essa pessoa é capaz de observar o valor de , ela pode não saber o valor de , mas já pode atualizar sua distribuição para .
Uma das grandes vantagens de ter um núcleo de transição a determinar uma distribuição conjunta, como foi feito acima, é que podemos usar a versão generalizada de Fubini. Antes, nós somente podiamos usar Fubini para espaços construídos através de um núcleo.
Se com canônico é dotado da probabilidade , mostre que
-quase certamtente.
Sejam e as projeções canônicas em um espaço produto , com canônico. Então, se e são independentes com respeito a , vale
Considere em as projeções canônicas e . Calcule, em cada um dos exemplos abaixo, a probabilidade condicional regular , justificando sua resposta,
-
a)
Quando é a medida uniforme em (ou seja, a medida de Lebesgue em restrita a e normalizada para ser uma probabilidade).
-
b)
Quando é a medida (uniforme em ).