3.1. O Efeito de Aplicações Lipschitzianas sobre a Medida de Lebesgue
3.1.1 Notação.
Dado , escrevemos:
e para , escrevemos:
Claramente se é um cubo -dimensional com aresta (veja Definição 1.4.22) então , para todos . Provamos agora a seguinte recíproca para essa afirmação:
3.1.2 Lema.
Sejam e tais que , para todos . Então está contido em um cubo -dimensional de aresta ; em particular:
Demonstração.
Se é vazio, não há nada para se mostrar. Senão, seja a projeção sobre a -ésima coordenada e considere o conjunto . Temos , para todos e portanto ; se , segue que:
e portanto:
3.1.3 Definição.
Seja uma função definida num subconjunto de . Dizemos que é Lipschitziana se existe uma constante tal que:
para todos . A constante é dita uma constante de Lipschitz para a função .
Claramente toda função Lipschitziana é (uniformemente) contínua.
3.1.4 Lema.
Seja um subconjunto de . Dado , existe um conjunto enumerável de cubos -dimensionais tal que e .
Demonstração.
3.1.5 Proposição.
Seja uma função Lipschitziana com constante de Lipschitz , onde é um subconjunto de . Então, para todo subconjunto de , temos:
Demonstração.
3.1.6 Corolário.
Se é uma função Lipschitziana definida num subconjunto de então leva subconjuntos de de medida nula em subconjuntos de medida nula de .∎
3.1.7 Observação.
Recorde que toda aplicação linear é Lipschitziana. Mais explicitamente, se a norma da aplicação linear é definida por:
então:
para todo , donde segue facilmente que é uma constante de Lipschitz para . A finitude do supremo em (3.1.4) segue, por exemplo, do fato que a aplicação é contínua e a bola é compacta.
3.1.8 Corolário.
Uma aplicação linear de em leva subconjuntos de medida nula de em subconjuntos de medida nula de .
3.1.9 Corolário.
Todo subespaço vetorial próprio de tem medida nula.
Demonstração.
3.1.10 Definição.
Uma função definida num subconjunto de é dita localmente Lipschitziana se todo possui uma vizinhança em tal que a função é Lipschitziana.
3.1.11 Proposição.
Se é uma função localmente Lipschitziana definida num subconjunto de então leva subconjuntos de de medida nula em subconjuntos de medida nula de .
Demonstração.
Para cada seja um aberto em contendo tal que a restrição de a seja Lipschitziana. A cobertura aberta possui uma subcobertura enumerável . Agora, dado qualquer subconjunto de com , segue do Corolário 3.1.6 que:
para todo . A conclusão é obtida agora da igualdade:
3.1.12 Proposição.
Seja uma função localmente Lipschitziana definida num subconjunto de . Então, para todo subconjunto mensurável de contido em , temos que é mensurável.
Demonstração.
Como é mensurável, pelo Corolário 1.4.31, existe um subconjunto de de tipo com e ; temos então que , onde é um e tem medida nula. Como é localmente Lipschitziana então é localmente contínua e portanto contínua; daí leva compactos em compactos. Como é uma união enumerável de fechados e todo fechado é uma união enumerável de compactos, segue que é uma união enumerável de compactos; portanto também é uma união enumerável de compactos. Temos então:
onde é um e (é mensurável e) tem medida nula, pela Proposição 3.1.11. ∎
3.1.13 Corolário.
Se é uma aplicação linear então leva subconjuntos mensuráveis de em subconjuntos mensuráveis de .