1.4. Medida de Lebesgue em
1.4.1 Definição.
Seja um subconjunto arbitrário. A medida exterior de Lebesgue de , denotada por , é definida como sendo o ínfimo do conjunto de todas as somas da forma , onde é uma seqüência de blocos retangulares -dimensionais com ; em símbolos:
onde:
Note que é sempre possível cobrir um subconjunto de com uma coleção enumerável de blocos retangulares -dimensionais (i.e., ), já que, por exemplo, . Obviamente temos , para todo .
1.4.2 Observação.
Todo subconjunto limitado de possui medida exterior finita. De fato, se é limitado então existe um bloco retangular -dimensional contendo . Tomando e para , temos e portanto . Veremos logo adiante (Corolários 1.4.6 e 1.4.7) que a recíproca dessa afirmação não é verdadeira, i.e., subconjuntos de com medida exterior finita não precisam ser limitados.
1.4.3 Lema.
Se é um bloco retangular -dimensional então:
ou seja, a medida exterior de um bloco retangular -dimensional coincide com seu volume.
Demonstração.
Tomando e para , obtemos uma cobertura de por blocos retangulares com ; isso mostra que . Para mostrar a desigualdade oposta, devemos escolher uma cobertura arbitrária de por blocos retangulares e mostrar que . Seja dado e seja para cada , um bloco retangular -dimensional que contém no seu interior e tal que . Os interiores dos blocos , , constituem então uma cobertura aberta do compacto e dessa cobertura aberta podemos extrair uma subcobertura finita; existe portanto tal que . Usando o Lema 1.3.5 obtemos:
Como é arbitrário, a conclusão segue. ∎
1.4.4 Lema.
Se então .
Demonstração.
Basta observar que (recorde (1.4.1)). ∎
1.4.5 Lema.
Se , …, são subconjuntos de então:
Além do mais, se é uma seqüência de subconjuntos de então:
Demonstração.
Como , tomando para , podemos considerar apenas o caso de uma seqüência infinita de subconjuntos de . Seja dado . Para cada existe uma cobertura de por blocos retangulares -dimensionais de modo que:
Daí é uma cobertura enumerável do conjunto por blocos retangulares -dimensionais e portanto:
Como é arbitrário, a conclusão segue. ∎
1.4.6 Corolário.
A união de uma coleção enumerável de conjuntos de medida exterior nula tem medida exterior nula. Em particular, todo conjunto enumerável tem medida exterior nula.∎
1.4.7 Corolário.
Dado e então todo subconjunto do hiperplano afim tem medida exterior nula.
Demonstração.
Basta observar que , onde:
é um bloco retangular -dimensional de volume zero. ∎
1.4.8 Corolário.
Todo subconjunto da fronteira de um bloco retangular -dimensional tem medida exterior nula.
Demonstração.
Basta observar que a fronteira de um bloco retangular -dimensional é uma união finita de blocos retangulares -dimensionais de volume zero. ∎
1.4.9 Corolário.
Sejam tais que ou ; então:
Demonstração.
1.4.10 Lema.
A medida exterior é invariante por translação, i.e., dados um subconjunto de e então:
onde denota a translação de por .
Demonstração.
É fácil ver que se é um bloco retangular -dimensional então também é um bloco retangular -dimensional e:
em particular, se é uma cobertura de por blocos retangulares -dimensionais então é uma cobertura de por blocos retangulares -dimensionais e . Isso mostra que (recorde (1.4.1)). Como , o mesmo argumento mostra que ; logo:
1.4.11 Notação.
Dado um subconjunto , denotamos por ou por o interior do conjunto .
1.4.12 Lema.
Dados e então existe um aberto com e .
Demonstração.
Note que não podemos concluir do Lema 1.4.12 que , nem mesmo se ; quando tem medida exterior finita, o Corolário 1.4.9 nos garante que , mas veremos adiante que é possível que a desigualdade estrita ocorra.
1.4.13 Definição.
Um subconjunto é dito (Lebesgue) mensurável se para todo , existe um aberto contendo tal que .
1.4.14 Observação.
Obviamente, todo aberto em é mensurável; de fato, se é aberto, podemos tomar na Definição 1.4.13, para todo .
1.4.15 Lema.
A união de uma coleção enumerável de subconjuntos mensuráveis de é mensurável.
Demonstração.
Seja uma seqüência de subconjuntos mensuráveis de . Dado então, para cada , podemos encontrar um aberto contendo tal que . Tomando então é aberto, contém e:
1.4.16 Lema.
Todo subconjunto de com medida exterior nula é mensurável.
Demonstração.
Seja com . Dado então, pelo Lema 1.4.12, existe um aberto contendo tal que . Concluímos então que:
1.4.17 Notação.
No que segue, denota a distância Euclideana entre os pontos , i.e., , onde denota a norma Euclideana de um vetor , definida por . Dados e um subconjunto não vazio denotamos por a distância entre e definida por:
e dados subconjuntos não vazios denotamos por a distância entre os conjuntos e definida por:
1.4.18 Lema.
Dados subconjuntos com então .
Demonstração.
Em vista do Lema 1.4.5 é suficiente mostrar a desigualdade:
Para isso, seja uma cobertura de por blocos retangulares -dimensionais e vamos mostrar que:
Como , existe tal que , para todos , . Para cada com , podemos escolher uma partição de de modo que os sub-blocos de determinados por tenham todos diâmetro menor do que . Seja (respectivamente, ) o conjunto dos sub-blocos de determinados por que interceptam (respectivamente, interceptam ). Um bloco de diâmetro menor do que não pode interceptar ambos os conjuntos e e portanto e são subconjuntos disjuntos de . Segue do Lema 1.3.3 que:
Como , temos que a coleção formada pelos blocos com e pelos blocos pertencentes a para algum com constitui uma cobertura enumerável de por blocos retangulares -dimensionais; logo:
Similarmente:
Somando as desigualdades (1.4.6) e (1.4.7) e usando (1.4.5) obtemos (1.4.4), o que completa a demonstração. ∎
1.4.19 Corolário.
Se , …, são subconjuntos compactos dois a dois disjuntos de então .
Demonstração.
O caso segue do Lema 1.4.18, observando que a distância entre compactos disjuntos é positiva. O caso geral segue por indução. ∎
1.4.20 Corolário.
Se , …, são blocos retangulares -dimensionais com interiores dois a dois disjuntos então .
Demonstração.
Dado , podemos para cada encontrar um bloco retangular -dimensional contido no interior de e satisfazendo (note que no caso podemos tomar ). Os blocos , são subconjuntos compactos dois a dois disjuntos de e portanto o Corolário 1.4.19 nos dá:
Como é arbitrário, concluímos que:
A desigualdade oposta segue do Lema 1.4.5. ∎
1.4.21 Corolário.
Se é uma seqüência de blocos retangulares -dimensionais com interiores dois a dois disjuntos então:
Demonstração.
1.4.22 Definição.
Um cubo -dimensional é um bloco retangular -dimensional não vazio tal que:
o valor comum aos escalares é chamado a aresta de .
1.4.23 Lema.
Se é um aberto então existe um conjunto enumerável de cubos -dimensionais com interiores dois a dois disjuntos tal que . Em particular, é igual à união de uma coleção enumerável de blocos retangulares -dimensionais com interiores dois a dois disjuntos.
Demonstração.
Para cada seja o conjunto de todos os cubos -dimensionais de aresta e com vértices em pontos de cujas coordenadas são múltiplos inteiros de ; mais precisamente:
Cada é portanto um conjunto enumerável de cubos -dimensionais. As seguintes propriedades são de fácil verificação:
-
(a)
os cubos pertencentes a possuem interiores dois a dois disjuntos, para todo ;
-
(b)
, para todo ;
-
(c)
dados com então todo cubo pertencente a está contido em algum cubo pertencente a ;
-
(d)
todo cubo pertencente a tem diâmetro igual a .
Construiremos agora indutivamente uma seqüência onde cada é um subconjunto de . Seja o conjunto dos cubos tais que . Supondo construído para , seja o conjunto dos cubos que estão contidos em e que tem interior disjunto do interior de todos os cubos pertencentes a . Tome . Como cada é enumerável, segue que é enumerável. Afirmamos que os cubos pertencentes a possuem interiores dois a dois disjuntos. De fato, sejam cubos distintos, digamos e com . Se então, por construção, o interior de é disjunto do interior de qualquer cubo pertencente a ; em particular, o interior de é disjunto do interior de . Se , segue da propriedade (a) acima que os cubos e possuem interiores disjuntos. Para terminar a demonstração, verifiquemos que . Obviamente temos . Seja . Como é aberto, existe tal que a bola fechada de centro e raio está contida em . Em vista das propriedades (b) e (d) acima, vemos que existe com e, além disso, . Se então ; caso contrário, existem e um cubo tal que os interiores de e se interceptam. Em vista da propriedade (c), existe um cubo contendo . Daí e os interiores de e se interceptam; a propriedade (a) implica então que e portanto . Em qualquer caso, mostramos que , o que completa a demonstração. ∎
1.4.24 Lema.
Todo subconjunto compacto de é mensurável.
Demonstração.
Seja um subconjunto compacto e seja dado . Pelo Lema 1.4.12 existe um aberto tal que . Vamos mostrar que . Pelo Lema 1.4.23, o aberto pode ser escrito como uma união enumerável de blocos retangulares -dimensionais com interiores dois a dois disjuntos. Para cada os conjuntos e são compactos e disjuntos; os Corolários 1.4.19 e 1.4.20 implicam então que:
Como é limitado, a Observação 1.4.2 nos diz que e portanto a desigualdade acima implica que:
Como é arbitrário, concluímos que e, finalmente, o Corolário 1.4.21 nos dá . ∎
1.4.25 Corolário.
Todo subconjunto fechado de é mensurável.
Demonstração.
Se é fechado então é uma união enumerável de compactos. A conclusão segue do Lema 1.4.15. ∎
1.4.26 Definição.
Um subconjunto de é dito de tipo (ou, simplesmente, um conjunto ) se pode ser escrito como uma interseção de uma coleção enumerável de abertos de . Similarmente, um subconjunto de é dito de tipo (ou, simplesmente, um conjunto ) se pode ser escrito como uma união de uma coleção enumerável de fechados de .
Obviamente o complementar de um conjunto de tipo é de tipo (e vice-versa).
1.4.27 Corolário.
Todo subconjunto de de tipo é mensurável.
1.4.28 Lema.
Se é mensurável então existe um subconjunto de de tipo tal que e .
Demonstração.
Para todo existe um aberto contendo tal que . Daí o conjunto é um que contém e:
para todo . Logo . ∎
1.4.29 Corolário.
O complementar de um subconjunto mensurável de também é mensurável.
Demonstração.
1.4.30 Corolário.
Se é mensurável então para todo existe um subconjunto fechado contido em tal que .
Demonstração.
Pelo Corolário 1.4.29, é mensurável e portanto existe um aberto contendo tal que Tomando então é fechado e . Como , segue que . ∎
1.4.31 Corolário.
Se é mensurável então existe um subconjunto de de tipo tal que e .
Demonstração.
1.4.32 Definição.
Seja um conjunto arbitrário. Uma álgebra de partes de é um subconjunto não vazio satisfazendo as seguintes condições:
-
(a)
se então ;
-
(b)
se então .
Uma -álgebra de partes de é um subconjunto não vazio satisfazendo a condição (a) acima e também a condição:
-
(b’)
se é uma seqüência de elementos de então .
Note que toda -álgebra de partes de é também uma álgebra de partes de . De fato, se é uma -álgebra de partes de e se , podemos tomar e para todo na condição (b’); daí .
1.4.33 Observação.
Se é uma álgebra (em particular, se é uma -álgebra) de partes de então e . De fato, como , existe algum elemento . Daí e portanto ; além do mais, .
1.4.34 Teorema.
A coleção de todos os subconjuntos mensuráveis de é uma -álgebra de partes de que contém todos os subconjuntos abertos de e todos os subconjuntos de com medida exterior nula.
1.4.35 Definição.
Se é um conjunto arbitrário e se é uma coleção arbitrária de partes de então a -álgebra de partes de gerada por , denotada por , é a menor -álgebra de partes de que contém , i.e., é uma -álgebra de partes de tal que:
-
(1)
;
-
(2)
se é uma -álgebra de partes de tal que então .
Dizemos também que é um conjunto de geradores para a -álgebra . A -álgebra de partes de gerada pela coleção de todos os subconjuntos abertos de é chamada a -álgebra de Borel de e é denotada por . Os elementos de são chamados conjuntos Boreleanos de .
No Exercício 1.22 pedimos ao leitor para justificar o fato de que a -álgebra gerada por uma coleção está de fato bem definida, ou seja, existe uma única -álgebra satisfazendo as propriedades (1) e (2) acima.
1.4.36 Corolário.
Todo conjunto Boreleano de é mensurável.
Demonstração.
Pelo Teorema 1.4.34, os conjuntos mensuráveis formam uma -álgebra que contém os abertos de ; portanto, deve conter também a -álgebra de Borel. ∎
1.4.37 Lema.
Se é uma álgebra de partes de um conjunto e se então e pertencem a . Além do mais, se é uma -álgebra de partes de e se é uma seqüência de elementos de então .
Demonstração.
Se é uma álgebra e então e portanto ; além do mais, . Se é uma -álgebra e é uma seqüência de elementos de então para todo e portanto . ∎
1.4.38 Corolário.
A interseção de uma coleção enumerável de subconjuntos mensuráveis de é mensurável e a diferença de dois subconjuntos mensuráveis de é mensurável.
1.4.39 Lema.
Para todo com e para todo existe um subconjunto limitado tal que:
Além do mais, se é mensurável, podemos escolher o conjunto também mensurável.
Demonstração.
Pelo Lema 1.4.12 existe um aberto contendo tal que . O Lema 1.4.23 nos permite escrever , onde é uma seqüência de blocos retangulares -dimensionais com interiores dois a dois disjuntos. O Corolário 1.4.21 nos dá:
portanto a série é convergente e existe tal que:
Seja . Temos que e é limitado. Note que se é mensurável então também é mensurável. Como segue que e portanto:
A desigualdade segue do Corolário 1.4.9. ∎
1.4.40 Corolário.
Se é mensurável e então para todo existe um subconjunto compacto contido em tal que:
Demonstração.
1.4.41 Proposição.
Se , …, são subconjuntos mensuráveis dois a dois disjuntos de então:
Além do mais, se é uma seqüência de subconjuntos mensuráveis dois a dois disjuntos de então:
Demonstração.
Comecemos provando (1.4.8). Se para algum então também e portanto não há nada a mostrar. Se para todo então para todo o Corolário 1.4.40 nos dá um subconjunto compacto de tal que . Usando o Corolário 1.4.19 obtemos:
Como é arbitrário, concluímos que:
O Lema 1.4.5 nos dá a desigualdade oposta, provando (1.4.8). Passemos então à prova de (1.4.9). A identidade (1.4.8) nos dá:
para todo . Fazendo concluímos que:
Novamente a desigualdade oposta segue do Lema 1.4.5, o que prova (1.4.9). ∎
1.4.42 Definição.
Sejam um conjunto e uma -álgebra de partes de . O par é chamado um espaço mensurável; uma medida no espaço mensurável é uma função tal que e tal que, se é uma seqüência de elementos dois a dois disjuntos de então:
Os elementos da -álgebra são ditos subconjuntos mensuráveis de . A trinca é chamada um espaço de medida .
Se é um espaço de medida e se , …, é uma coleção finita de elementos dois a dois disjuntos de então . De fato, basta tomar para e usar (1.4.10).
1.4.43 Notação.
Denotaremos por a -álgebra de todos os subconjuntos Lebesgue mensuráveis de e por a restrição à da função que associa a cada parte de sua medida exterior de Lebesgue.
1.4.44 Definição.
Se é um subconjunto mensurável então o escalar é chamado a medida de Lebesgue de .
Note que para todo , i.e., a medida de Lebesgue de um conjunto mensurável simplesmente coincide com sua medida exterior de Lebesgue; apenas nos permitimos remover o adjetivo “exterior” quando lidamos com conjuntos mensuráveis.
Provamos o seguinte:
1.4.45 Teorema.
A trinca é um espaço de medida.
1.4.46 Lema.
Seja um espaço de medida e sejam com . Então ; além do mais, se então:
Demonstração.
Basta observar que é uma união disjunta de elementos de e portanto . ∎
1.4.47 Notação.
Se é uma seqüência de conjuntos então a notação indica que para todo (i.e., a seqüência é crescente) e que . Analogamente, escreveremos para indicar que para todo (i.e., a seqüência é decrescente) e que .
1.4.48 Lema.
Seja um espaço de medida e seja uma seqüência de elementos de . Temos:
-
(a)
se então ;
-
(b)
se e se então .
Demonstração.
Provemos inicialmente o item (a). Defina e , para todo ; evidentemente , para todo . É fácil ver que os conjuntos são dois a dois disjuntos e que:
para todo ; logo:
Passemos à prova do item (b). Se então para todo . Como é uma seqüência de elementos de e , segue do item (a) que:
Usando o Lema 1.4.46 obtemos:
Como , a conclusão segue. ∎
1.4.49 Definição.
Um envelope mensurável de um subconjunto de é um subconjunto mensurável de tal que e .
1.4.50 Lema.
Para todo existe um subconjunto de de tipo contendo tal que .
Demonstração.
Para cada o Lema 1.4.12 nos dá um aberto contendo tal que . Daí é um contendo e:
para todo . A conclusão segue. ∎
1.4.51 Corolário.
Todo subconjunto de admite um envelope mensurável.
Demonstração.
Basta observar que todo é mensurável (vide Corolário 1.4.38). ∎
1.4.52 Lema.
Sejam , …, subconjuntos de e suponha que existam subconjuntos mensuráveis dois a dois disjuntos , …, de de modo que , para . Então:
Além do mais, se é uma seqüência de subconjuntos de tal que existe uma seqüência de subconjuntos mensuráveis de dois a dois disjuntos de modo que para todo então:
Demonstração.
Tomando para , podemos considerar apenas o caso de uma seqüência infinita de subconjuntos de . Seja um envelope mensurável do conjunto . Daí, para todo , o conjunto é mensurável e . Como os conjuntos são dois a dois disjuntos e , temos:
A desigualdade segue do Lema 1.4.5. ∎
1.4.53 Proposição (Carathéodory).
Um subconjunto é mensurável se e somente se para todo vale:
Demonstração.
Se é mensurável então , onde e estão respectivamente contidos nos conjuntos mensuráveis disjuntos e . A identidade (1.4.11) segue portanto do Lema 1.4.52. Reciprocamente, suponha que a identidade (1.4.11) vale para todo . Para cada seja e seja um envelope mensurável para . A identidade (1.4.11) com nos dá:
Como vemos que:
como é limitado, temos que (vide Observação 1.4.2) e portanto . Em particular, pelo Lema 1.4.16, é mensurável. Tomando vemos que , é mensurável e:
Daí é mensurável e portanto também é mensurável. ∎
1.4.54 Observação.
Na verdade, a demonstração apresentada para a Proposição 1.4.53 mostra algo mais forte: se a identidade (1.4.11) vale para todo conjunto mensurável então é mensurável. Em vista do Lema 1.4.50, todo subconjunto de admite um envelope mensurável de tipo e portanto a demonstração que apresentamos para a Proposição 1.4.53 mostra até mesmo o seguinte: se a identidade (1.4.11) vale para todo subconjunto de de tipo então é mensurável.
1.4.55 Lema.
Seja uma seqüência de subconjuntos (não necessariamente mensuráveis) de tal que . Então:
Demonstração.
Temos que a seqüência é crescente e limitada superiormente por , donde o limite existe (em ) e é menor ou igual a . Para provar que é menor ou igual a , escolha um envelope mensurável para e defina , para todo . Daí cada é mensurável e , donde também é um envelope mensurável de . Além do mais, temos , onde é um conjunto mensurável que contém . A conclusão segue agora do Lema 1.4.48 observando que:
1.4.1. Medida interior
O conceito de medida interior é útil para entender melhor o fenômeno da não mensurabilidade de um subconjunto de .
1.4.56 Definição.
Seja um subconjunto de . A medida interior de Lebesgue de é definida por:
1.4.57 Lema.
Se é mensurável então . Reciprocamente, dado com então é mensurável.
Demonstração.
Suponha que é mensurável e mostremos que as medidas interior e exterior de coincidem. Em primeiro lugar, se tem medida exterior finita isso segue diretamente do Corolário 1.4.40. Suponha então que . Pelo Corolário 1.4.30, existe um subconjunto fechado contido em tal que . Daí:
e portanto . Para cada , seja . Daí cada é compacto e ; o Lema 1.4.48 nos dá:
Logo . Suponha agora que as medidas interior e exterior de são iguais e finitas e mostremos que é mensurável. Seja dado . Temos que existe um subconjunto compacto tal que:
Pelo Lema 1.4.12, existe um aberto contendo tal que:
Portanto:
A conclusão segue. ∎
1.4.58 Corolário.
Se é mensurável então:
1.4.59 Corolário.
Dados e um subconjunto mensurável de então .
1.4.60 Lema.
Dados então vale a desigualdade:
se então vale também a desigualdade:
Demonstração.
Pelo resultado do Exercício 1.31, existe de tipo tal que e . Seja um envelope mensurável de . Temos e portanto:
onde usamos o Corolário 1.4.59 e o fato que é um subconjunto mensurável de . Suponha agora que . Seja um envelope mensurável de e seja de tipo tal que e (Exercício 1.31). Como , temos e portanto:
1.4.61 Corolário.
Seja um subconjunto mensurável e sejam , tais que e . Então:
Demonstração.
O Lema 1.4.60 nos dá: