1.4. Medida de Lebesgue em n{\mathds{R}^{n}}

1.4.1 Definição.

Seja AnA\subset\mathds{R}^{n} um subconjunto arbitrário. A medida exterior de Lebesgue de AA, denotada por 𝔪(A)\mathfrak{m}^{*}(A), é definida como sendo o ínfimo do conjunto de todas as somas da forma k=1|Bk|\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}|, onde (Bk)k1(B_{k})_{k\geq 1} é uma seqüência de blocos retangulares nn-dimensionais com Ak=1BkA\subset\bigcup_{k=1}^{\infty}B_{k}; em símbolos:

𝔪(A)=inf𝒞(A),\mathfrak{m}^{*}(A)=\inf\,\mathcal{C}(A),

onde:

𝒞(A)={k=1|Bk|:Ak=1Bk,Bk bloco retangular n-dimensional,para todo k1}.\mathcal{C}(A)=\Big{\{}\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}|:A\subset\bigcup_{k=1}^{% \infty}B_{k},\ \text{$B_{k}$ bloco retangular $n$-dimensional},\\[-10.0pt] \text{para todo $k\geq 1$}\Big{\}}. (1.4.1)

Note que é sempre possível cobrir um subconjunto AA de n\mathds{R}^{n} com uma coleção enumerável de blocos retangulares nn-dimensionais (i.e., 𝒞(A)∅︀\mathcal{C}(A)\neq\emptyset), já que, por exemplo, n=k=1[k,k]n\mathds{R}^{n}=\bigcup_{k=1}^{\infty}[-k,k]^{n}. Obviamente temos 𝔪(A)[0,+]\mathfrak{m}^{*}(A)\in[0,+\infty], para todo AnA\subset\mathds{R}^{n}.

1.4.2 Observação.

Todo subconjunto limitado de n\mathds{R}^{n} possui medida exterior finita. De fato, se AnA\subset\mathds{R}^{n} é limitado então existe um bloco retangular nn-dimensional BB contendo AA. Tomando B1=BB_{1}=B e Bk=∅︀B_{k}=\emptyset para k2k\geq 2, temos Ak=1BkA\subset\bigcup_{k=1}^{\infty}B_{k} e portanto 𝔪(A)k=1|Bk|=|B|<+\mathfrak{m}^{*}(A)\leq\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}|=|B|<+\infty. Veremos logo adiante (Corolários 1.4.6 e 1.4.7) que a recíproca dessa afirmação não é verdadeira, i.e., subconjuntos de n\mathds{R}^{n} com medida exterior finita não precisam ser limitados.

1.4.3 Lema.

Se BnB\subset\mathds{R}^{n} é um bloco retangular nn-dimensional então:

𝔪(B)=|B|,\mathfrak{m}^{*}(B)=|B|,

ou seja, a medida exterior de um bloco retangular nn-dimensional coincide com seu volume.

Demonstração.

Tomando B1=BB_{1}=B e Bk=∅︀B_{k}=\emptyset para k2k\geq 2, obtemos uma cobertura (Bk)k1(B_{k})_{k\geq 1} de BB por blocos retangulares com k=1|Bk|=|B|\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}|=|B|; isso mostra que 𝔪(B)|B|\mathfrak{m}^{*}(B)\leq|B|. Para mostrar a desigualdade oposta, devemos escolher uma cobertura arbitrária Bk=1BkB\subset\bigcup_{k=1}^{\infty}B_{k} de BB por blocos retangulares BkB_{k} e mostrar que |B|k=1|Bk||B|\leq\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}|. Seja dado ε>0\varepsilon>0 e seja para cada k1k\geq 1, BkB^{\prime}_{k} um bloco retangular nn-dimensional que contém BkB_{k} no seu interior e tal que |Bk||Bk|+ε2k|B^{\prime}_{k}|\leq|B_{k}|+\frac{\varepsilon}{2^{k}}. Os interiores dos blocos BkB^{\prime}_{k}, k1k\geq 1, constituem então uma cobertura aberta do compacto BB e dessa cobertura aberta podemos extrair uma subcobertura finita; existe portanto t1t\geq 1 tal que Bk=1tBkB\subset\bigcup_{k=1}^{t}B^{\prime}_{k}. Usando o Lema 1.3.5 obtemos:

|B|k=1t|Bk|k=1t(|Bk|+ε2k)(k=1|Bk|)+ε.|B|\leq\sum_{k=1}^{t}|B^{\prime}_{k}|\leq\sum_{k=1}^{t}\Big{(}|B_{k}|+\frac{% \varepsilon}{2^{k}}\Big{)}\leq\Big{(}\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}|\Big{)}+\varepsilon.

Como ε>0\varepsilon>0 é arbitrário, a conclusão segue. ∎

1.4.4 Lema.

Se A1A2nA_{1}\subset A_{2}\subset\mathds{R}^{n} então 𝔪(A1)𝔪(A2)\mathfrak{m}^{*}(A_{1})\leq\mathfrak{m}^{*}(A_{2}).

Demonstração.

Basta observar que 𝒞(A2)𝒞(A1)\mathcal{C}(A_{2})\subset\mathcal{C}(A_{1}) (recorde (1.4.1)). ∎

1.4.5 Lema.

Se A1A_{1}, …, AtA_{t} são subconjuntos de n\mathds{R}^{n} então:

𝔪(k=1tAk)k=1t𝔪(Ak).\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{k=1}^{t}A_{k}\Big{)}\leq\sum_{k=1}^{t}% \mathfrak{m}^{*}(A_{k}).

Além do mais, se (Ak)k1(A_{k})_{k\geq 1} é uma seqüência de subconjuntos de n\mathds{R}^{n} então:

𝔪(k=1Ak)k=1𝔪(Ak).\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k}\Big{)}\leq\sum_{k=1}^{% \infty}\mathfrak{m}^{*}(A_{k}).
Demonstração.

Como 𝔪(∅︀)=0\mathfrak{m}^{*}(\emptyset)=0, tomando Ak=∅︀A_{k}=\emptyset para k>tk>t, podemos considerar apenas o caso de uma seqüência infinita de subconjuntos de n\mathds{R}^{n}. Seja dado ε>0\varepsilon>0. Para cada k1k\geq 1 existe uma cobertura Akj=1BkjA_{k}\subset\bigcup_{j=1}^{\infty}B_{k}^{j} de AkA_{k} por blocos retangulares nn-dimensionais BkjB_{k}^{j} de modo que:

j=1|Bkj|𝔪(Ak)+ε2k.\sum_{j=1}^{\infty}|B_{k}^{j}|\leq\mathfrak{m}^{*}(A_{k})+\frac{\varepsilon}{2% ^{k}}.

Daí (Bkj)k,j1(B_{k}^{j})_{k,j\geq 1} é uma cobertura enumerável do conjunto k=1Ak\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k} por blocos retangulares nn-dimensionais e portanto:

𝔪(k=1Ak)k=1j=1|Bkj|k=1(𝔪(Ak)+ε2k)=(k=1𝔪(Ak))+ε.\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k}\Big{)}\leq\sum_{k=1}^{% \infty}\sum_{j=1}^{\infty}|B_{k}^{j}|\leq\sum_{k=1}^{\infty}\Big{(}\mathfrak{m% }^{*}(A_{k})+\frac{\varepsilon}{2^{k}}\Big{)}=\Big{(}\sum_{k=1}^{\infty}% \mathfrak{m}^{*}(A_{k})\Big{)}+\varepsilon.

Como ε>0\varepsilon>0 é arbitrário, a conclusão segue. ∎

1.4.6 Corolário.

A união de uma coleção enumerável de conjuntos de medida exterior nula tem medida exterior nula. Em particular, todo conjunto enumerável tem medida exterior nula.∎

1.4.7 Corolário.

Dado i=1,,ni=1,\ldots,n e cc\in\mathds{R} então todo subconjunto do hiperplano afim {x=(x1,,xn)n:xi=c}\big{\{}x=(x_{1},\ldots,x_{n})\in\mathds{R}^{n}:x_{i}=c\big{\}} tem medida exterior nula.

Demonstração.

Basta observar que {xn:xi=c}=k=1Bk\big{\{}x\in\mathds{R}^{n}:x_{i}=c\big{\}}=\bigcup_{k=1}^{\infty}B_{k}, onde:

Bk={xn:xi=c e |xj|kj=1,,nji}B_{k}=\big{\{}x\in\mathds{R}^{n}:\text{$x_{i}=c$ e $|x_{j}|\leq k$, $j=1,% \ldots,n$, $j\neq i$}\big{\}}

é um bloco retangular nn-dimensional de volume zero. ∎

1.4.8 Corolário.

Todo subconjunto da fronteira de um bloco retangular nn-dimensional tem medida exterior nula.

Demonstração.

Basta observar que a fronteira de um bloco retangular nn-dimensional é uma união finita de blocos retangulares nn-dimensionais de volume zero. ∎

1.4.9 Corolário.

Sejam A1,A2nA_{1},A_{2}\subset\mathds{R}^{n} tais que 𝔪(A1)<+\mathfrak{m}^{*}(A_{1})<+\infty ou 𝔪(A2)<+\mathfrak{m}^{*}(A_{2})<+\infty; então:

𝔪(A1)𝔪(A2)𝔪(A1A2).\mathfrak{m}^{*}(A_{1})-\mathfrak{m}^{*}(A_{2})\leq\mathfrak{m}^{*}(A_{1}% \setminus A_{2}). (1.4.2)
Demonstração.

Como A1(A1A2)A2A_{1}\subset(A_{1}\setminus A_{2})\cup A_{2}, os Lemas 1.4.4 e 1.4.5 implicam que:

𝔪(A1)𝔪(A1A2)+𝔪(A2).\mathfrak{m}^{*}(A_{1})\leq\mathfrak{m}^{*}(A_{1}\setminus A_{2})+\mathfrak{m}% ^{*}(A_{2}). (1.4.3)

Se 𝔪(A2)=+\mathfrak{m}^{*}(A_{2})=+\infty e 𝔪(A1)<+\mathfrak{m}^{*}(A_{1})<+\infty, a desigualdade (1.4.2) é trivial; se 𝔪(A2)<+\mathfrak{m}^{*}(A_{2})<+\infty, ela segue de (1.4.3). ∎

1.4.10 Lema.

A medida exterior é invariante por translação, i.e., dados um subconjunto AA de n\mathds{R}^{n} e xnx\in\mathds{R}^{n} então:

𝔪(A+x)=𝔪(A),\mathfrak{m}^{*}(A+x)=\mathfrak{m}^{*}(A),

onde A+x={a+x:aA}A+x=\big{\{}a+x:a\in A\big{\}} denota a translação de AA por xx.

Demonstração.

É fácil ver que se BB é um bloco retangular nn-dimensional então B+xB+x também é um bloco retangular nn-dimensional e:

|B+x|=|B|;|B+x|=|B|;

em particular, se Ak=1BkA\subset\bigcup_{k=1}^{\infty}B_{k} é uma cobertura de AA por blocos retangulares nn-dimensionais então A+xk=1(Bk+x)A+x\subset\bigcup_{k=1}^{\infty}(B_{k}+x) é uma cobertura de A+xA+x por blocos retangulares nn-dimensionais e k=1|Bk+x|=k=1|Bk|\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}+x|=\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}|. Isso mostra que 𝒞(A)𝒞(A+x)\mathcal{C}(A)\subset\mathcal{C}(A+x) (recorde (1.4.1)). Como A=(A+x)+(x)A=(A+x)+({-x}), o mesmo argumento mostra que 𝒞(A+x)𝒞(A)\mathcal{C}(A+x)\subset\mathcal{C}(A); logo:

𝔪(A)=inf𝒞(A)=inf𝒞(A+x)=𝔪(A+x).\mathfrak{m}^{*}(A)=\inf\,\mathcal{C}(A)=\inf\,\mathcal{C}(A+x)=\mathfrak{m}^{% *}(A+x).\qed
1.4.11 Notação.

Dado um subconjunto AnA\subset\mathds{R}^{n}, denotamos por A\overset{\;\circ}{A} ou por int(A)\mathrm{int}(A) o interior do conjunto AA.

1.4.12 Lema.

Dados AnA\subset\mathds{R}^{n} e ε>0\varepsilon>0 então existe um aberto UnU\subset\mathds{R}^{n} com AUA\subset U e 𝔪(U)𝔪(A)+ε\mathfrak{m}^{*}(U)\leq\mathfrak{m}^{*}(A)+\varepsilon.

Demonstração.

Seja Ak=1BkA\subset\bigcup_{k=1}^{\infty}B_{k} uma cobertura de AA por blocos retangulares nn-dimensionais tal que k=1|Bk|𝔪(A)+ε2\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}|\leq\mathfrak{m}^{*}(A)+\frac{\varepsilon}{2}. Para cada k1k\geq 1, seja BkB^{\prime}_{k} um bloco retangular que contém BkB_{k} no seu interior e tal que |Bk||Bk|+ε2k+1|B^{\prime}_{k}|\leq|B_{k}|+\frac{\varepsilon}{2^{k+1}}. Seja U=k=1int(Bk)U=\bigcup_{k=1}^{\infty}\mathrm{int}(B^{\prime}_{k}). Temos que UU é aberto e UAU\supset A; além do mais, usando os Lemas 1.4.4 e 1.4.5 obtemos:

𝔪(U)𝔪(k=1Bk)k=1𝔪(Bk)=k=1|Bk|k=1(|Bk|+ε2k+1)=(k=1|Bk|)+ε2𝔪(A)+ε.\mathfrak{m}^{*}(U)\leq\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{k=1}^{\infty}B^{\prime}% _{k}\Big{)}\leq\sum_{k=1}^{\infty}\mathfrak{m}^{*}(B^{\prime}_{k})=\sum_{k=1}^% {\infty}|B^{\prime}_{k}|\leq\sum_{k=1}^{\infty}\Big{(}|B_{k}|+\frac{% \varepsilon}{2^{k+1}}\Big{)}\\ =\Big{(}\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}|\Big{)}+\frac{\varepsilon}{2}\leq\mathfrak{m% }^{*}(A)+\varepsilon.\qed

Note que não podemos concluir do Lema 1.4.12 que 𝔪(UA)ε\mathfrak{m}^{*}(U\setminus A)\leq\varepsilon, nem mesmo se 𝔪(A)<+\mathfrak{m}^{*}(A)<+\infty; quando AA tem medida exterior finita, o Corolário 1.4.9 nos garante que 𝔪(U)𝔪(A)𝔪(UA)\mathfrak{m}^{*}(U)-\mathfrak{m}^{*}(A)\leq\mathfrak{m}^{*}(U\setminus A), mas veremos adiante que é possível que a desigualdade estrita ocorra.

1.4.13 Definição.

Um subconjunto AnA\subset\mathds{R}^{n} é dito (Lebesgue) mensurável se para todo ε>0\varepsilon>0, existe um aberto UnU\subset\mathds{R}^{n} contendo AA tal que 𝔪(UA)<ε\mathfrak{m}^{*}(U\setminus A)<\varepsilon.

1.4.14 Observação.

Obviamente, todo aberto em n\mathds{R}^{n} é mensurável; de fato, se AnA\subset\mathds{R}^{n} é aberto, podemos tomar U=AU=A na Definição 1.4.13, para todo ε>0\varepsilon>0.

1.4.15 Lema.

A união de uma coleção enumerável de subconjuntos mensuráveis de n\mathds{R}^{n} é mensurável.

Demonstração.

Seja (Ak)k1(A_{k})_{k\geq 1} uma seqüência de subconjuntos mensuráveis de n\mathds{R}^{n}. Dado ε>0\varepsilon>0 então, para cada k1k\geq 1, podemos encontrar um aberto UkU_{k} contendo AkA_{k} tal que 𝔪(UkAk)<ε2k\mathfrak{m}^{*}(U_{k}\setminus A_{k})<\frac{\varepsilon}{2^{k}}. Tomando U=k=1UkU=\bigcup_{k=1}^{\infty}U_{k} então UU é aberto, UU contém A=k=1AkA=\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k} e:

𝔪(UA)𝔪(k=1(UkAk))k=1𝔪(UkAk)<k=1ε2k=ε.\mathfrak{m}^{*}(U\setminus A)\leq\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{k=1}^{\infty% }(U_{k}\setminus A_{k})\Big{)}\leq\sum_{k=1}^{\infty}\mathfrak{m}^{*}(U_{k}% \setminus A_{k})<\sum_{k=1}^{\infty}\frac{\varepsilon}{2^{k}}=\varepsilon.\qed
1.4.16 Lema.

Todo subconjunto de n\mathds{R}^{n} com medida exterior nula é mensurável.

Demonstração.

Seja AnA\subset\mathds{R}^{n} com 𝔪(A)=0\mathfrak{m}^{*}(A)=0. Dado ε>0\varepsilon>0 então, pelo Lema 1.4.12, existe um aberto UnU\subset\mathds{R}^{n} contendo AA tal que 𝔪(U)ε\mathfrak{m}^{*}(U)\leq\varepsilon. Concluímos então que:

𝔪(UA)𝔪(U)ε.\mathfrak{m}^{*}(U\setminus A)\leq\mathfrak{m}^{*}(U)\leq\varepsilon.\qed
1.4.17 Notação.

No que segue, d(x,y)d(x,y) denota a distância Euclideana entre os pontos x,ynx,y\in\mathds{R}^{n}, i.e., d(x,y)=xyd(x,y)=\|x-y\|, onde x\|x\| denota a norma Euclideana de um vetor xnx\in\mathds{R}^{n}, definida por x=(i=1nxi2)12\|x\|=\big{(}\sum_{i=1}^{n}x_{i}^{2}\big{)}^{\frac{1}{2}}. Dados xnx\in\mathds{R}^{n} e um subconjunto não vazio AnA\subset\mathds{R}^{n} denotamos por d(x,A)d(x,A) a distância entre xx e AA definida por:

d(x,A)=inf{d(x,y):yA},d(x,A)=\inf\big{\{}d(x,y):y\in A\big{\}},

e dados subconjuntos não vazios A,BnA,B\subset\mathds{R}^{n} denotamos por d(A,B)d(A,B) a distância entre os conjuntos AA e BB definida por:

d(A,B)=inf{d(x,y):xA,yB}.d(A,B)=\inf\big{\{}d(x,y):x\in A,\ y\in B\big{\}}.
1.4.18 Lema.

Dados subconjuntos A1,A2nA_{1},A_{2}\subset\mathds{R}^{n} com d(A1,A2)>0d(A_{1},A_{2})>0 então 𝔪(A1A2)=𝔪(A1)+𝔪(A2)\mathfrak{m}^{*}(A_{1}\cup A_{2})=\mathfrak{m}^{*}(A_{1})+\mathfrak{m}^{*}(A_{% 2}).

Demonstração.

Em vista do Lema 1.4.5 é suficiente mostrar a desigualdade:

𝔪(A1A2)𝔪(A1)+𝔪(A2).\mathfrak{m}^{*}(A_{1}\cup A_{2})\geq\mathfrak{m}^{*}(A_{1})+\mathfrak{m}^{*}(% A_{2}).

Para isso, seja A1A2k=1BkA_{1}\cup A_{2}\subset\bigcup_{k=1}^{\infty}B_{k} uma cobertura de A1A2A_{1}\cup A_{2} por blocos retangulares nn-dimensionais BkB_{k} e vamos mostrar que:

𝔪(A1)+𝔪(A2)k=1|Bk|.\mathfrak{m}^{*}(A_{1})+\mathfrak{m}^{*}(A_{2})\leq\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}|. (1.4.4)

Como d(A1,A2)>0d(A_{1},A_{2})>0, existe ε>0\varepsilon>0 tal que d(x,y)εd(x,y)\geq\varepsilon, para todos xA1x\in A_{1}, yA2y\in A_{2}. Para cada k1k\geq 1 com |Bk|>0|B_{k}|>0, podemos escolher uma partição PkP_{k} de BkB_{k} de modo que os sub-blocos de BkB_{k} determinados por PkP_{k} tenham todos diâmetro menor do que ε\varepsilon. Seja Pk1¯\overline{P_{k}^{1}} (respectivamente, Pk2¯\overline{P_{k}^{2}}) o conjunto dos sub-blocos de BkB_{k} determinados por PkP_{k} que interceptam A1A_{1} (respectivamente, interceptam A2A_{2}). Um bloco de diâmetro menor do que ε\varepsilon não pode interceptar ambos os conjuntos A1A_{1} e A2A_{2} e portanto Pk1¯\overline{P_{k}^{1}} e Pk2¯\overline{P_{k}^{2}} são subconjuntos disjuntos de Pk¯\overline{P_{k}}. Segue do Lema 1.3.3 que:

𝔟Pk1¯|𝔟|+𝔟Pk2¯|𝔟||Bk|.\sum_{\mathfrak{b}\in\overline{P_{k}^{1}}}|\mathfrak{b}|+\sum_{\mathfrak{b}\in% \overline{P_{k}^{2}}}|\mathfrak{b}|\leq|B_{k}|. (1.4.5)

Como A1k=1BkA_{1}\subset\bigcup_{k=1}^{\infty}B_{k}, temos que a coleção formada pelos blocos BkB_{k} com |Bk|=0|B_{k}|=0 e pelos blocos pertencentes a Pk1¯\overline{P_{k}^{1}} para algum kk com |Bk|>0|B_{k}|>0 constitui uma cobertura enumerável de A1A_{1} por blocos retangulares nn-dimensionais; logo:

𝔪(A1)k1|Bk|>0𝔟Pk1¯|𝔟|.\mathfrak{m}^{*}(A_{1})\leq\sum_{\begin{subarray}{c}k\geq 1\\ |B_{k}|>0\end{subarray}}\sum_{\mathfrak{b}\in\overline{P_{k}^{1}}}|\mathfrak{b% }|. (1.4.6)

Similarmente:

𝔪(A2)k1|Bk|>0𝔟Pk2¯|𝔟|.\mathfrak{m}^{*}(A_{2})\leq\sum_{\begin{subarray}{c}k\geq 1\\ |B_{k}|>0\end{subarray}}\sum_{\mathfrak{b}\in\overline{P_{k}^{2}}}|\mathfrak{b% }|. (1.4.7)

Somando as desigualdades (1.4.6) e (1.4.7) e usando (1.4.5) obtemos (1.4.4), o que completa a demonstração. ∎

1.4.19 Corolário.

Se K1K_{1}, …, KtK_{t} são subconjuntos compactos dois a dois disjuntos de n\mathds{R}^{n} então 𝔪(i=1tKi)=i=1t𝔪(Ki)\mathfrak{m}^{*}\big{(}\bigcup_{i=1}^{t}K_{i}\big{)}=\sum_{i=1}^{t}\mathfrak{m% }^{*}(K_{i}).

Demonstração.

O caso t=2t=2 segue do Lema 1.4.18, observando que a distância entre compactos disjuntos é positiva. O caso geral segue por indução. ∎

1.4.20 Corolário.

Se B1B_{1}, …, BtB_{t} são blocos retangulares nn-dimensionais com interiores dois a dois disjuntos então 𝔪(r=1tBr)=r=1t|Br|\mathfrak{m}^{*}\big{(}\bigcup_{r=1}^{t}B_{r}\big{)}=\sum_{r=1}^{t}|B_{r}|.

Demonstração.

Dado ε>0\varepsilon>0, podemos para cada r=1,,tr=1,\ldots,t encontrar um bloco retangular nn-dimensional BrB_{r}^{\prime} contido no interior de BrB_{r} e satisfazendo |Br|(1ε)|Br||B_{r}^{\prime}|\geq(1-\varepsilon)|B_{r}| (note que no caso |Br|=0|B_{r}|=0 podemos tomar Br=∅︀B_{r}^{\prime}=\emptyset). Os blocos BrB_{r}^{\prime}, r=1,,tr=1,\ldots,t são subconjuntos compactos dois a dois disjuntos de n\mathds{R}^{n} e portanto o Corolário 1.4.19 nos dá:

𝔪(r=1tBr)𝔪(r=1tBr)=r=1t𝔪(Br)=r=1t|Br|(1ε)r=1t|Br|.\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{r=1}^{t}B_{r}\Big{)}\geq\mathfrak{m}^{*}\Big{(% }\bigcup_{r=1}^{t}B_{r}^{\prime}\Big{)}=\sum_{r=1}^{t}\mathfrak{m}^{*}(B_{r}^{% \prime})=\sum_{r=1}^{t}|B_{r}^{\prime}|\geq(1-\varepsilon)\sum_{r=1}^{t}|B_{r}|.

Como ε>0\varepsilon>0 é arbitrário, concluímos que:

𝔪(r=1tBr)r=1t|Br|.\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{r=1}^{t}B_{r}\Big{)}\geq\sum_{r=1}^{t}|B_{r}|.

A desigualdade oposta segue do Lema 1.4.5. ∎

1.4.21 Corolário.

Se (Br)r1(B_{r})_{r\geq 1} é uma seqüência de blocos retangulares nn-dimensionais com interiores dois a dois disjuntos então:

𝔪(r=1Br)=r=1|Br|.\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{r=1}^{\infty}B_{r}\Big{)}=\sum_{r=1}^{\infty}|% B_{r}|.
Demonstração.

O Corolário 1.4.20 nos dá:

𝔪(r=1Br)𝔪(r=1tBr)=r=1t|Br|,\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{r=1}^{\infty}B_{r}\Big{)}\geq\mathfrak{m}^{*}% \Big{(}\bigcup_{r=1}^{t}B_{r}\Big{)}=\sum_{r=1}^{t}|B_{r}|,

para todo t1t\geq 1. Fazendo tt\to\infty obtemos:

𝔪(r=1Br)r=1|Br|.\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{r=1}^{\infty}B_{r}\Big{)}\geq\sum_{r=1}^{% \infty}|B_{r}|.

A desigualdade oposta segue do Lema 1.4.5. ∎

1.4.22 Definição.

Um cubo nn-dimensional é um bloco retangular nn-dimensional não vazio B=i=1n[ai,bi]B=\prod_{i=1}^{n}[a_{i},b_{i}] tal que:

b1a1=b2a2==bnan;b_{1}-a_{1}=b_{2}-a_{2}=\cdots=b_{n}-a_{n};

o valor comum aos escalares biaib_{i}-a_{i} é chamado a aresta de BB.

1.4.23 Lema.

Se UnU\subset\mathds{R}^{n} é um aberto então existe um conjunto enumerável \mathcal{R} de cubos nn-dimensionais com interiores dois a dois disjuntos tal que U=BBU=\bigcup_{B\in\mathcal{R}}B. Em particular, UU é igual à união de uma coleção enumerável de blocos retangulares nn-dimensionais com interiores dois a dois disjuntos.

Demonstração.

Para cada k1k\geq 1 seja k\mathcal{R}_{k} o conjunto de todos os cubos nn-dimensionais de aresta 12k\frac{1}{2^{k}} e com vértices em pontos de n\mathds{R}^{n} cujas coordenadas são múltiplos inteiros de 12k\frac{1}{2^{k}}; mais precisamente:

k={[a12k,a1+12k]××[an2k,an+12k]:a1,,an}.\mathcal{R}_{k}=\Big{\{}\big{[}\tfrac{a_{1}}{2^{k}},\tfrac{a_{1}+1}{2^{k}}\big% {]}\times\cdots\times\big{[}\tfrac{a_{n}}{2^{k}},\tfrac{a_{n}+1}{2^{k}}\big{]}% :a_{1},\ldots,a_{n}\in\mathds{Z}\Big{\}}.

Cada k\mathcal{R}_{k} é portanto um conjunto enumerável de cubos nn-dimensionais. As seguintes propriedades são de fácil verificação:

  • (a)

    os cubos pertencentes a k\mathcal{R}_{k} possuem interiores dois a dois disjuntos, para todo k1k\geq 1;

  • (b)

    n=BkB\mathds{R}^{n}=\bigcup_{B\in\mathcal{R}_{k}}B, para todo k1k\geq 1;

  • (c)

    dados k,l1k,l\geq 1 com klk\geq l então todo cubo pertencente a k\mathcal{R}_{k} está contido em algum cubo pertencente a l\mathcal{R}_{l};

  • (d)

    todo cubo pertencente a k\mathcal{R}_{k} tem diâmetro igual a n2k\frac{\sqrt{n}}{2^{k}}.

Construiremos agora indutivamente uma seqüência (k)k1(\mathcal{R}^{\prime}_{k})_{k\geq 1} onde cada k\mathcal{R}^{\prime}_{k} é um subconjunto de k\mathcal{R}_{k}. Seja 1\mathcal{R}^{\prime}_{1} o conjunto dos cubos B1B\in\mathcal{R}_{1} tais que BUB\subset U. Supondo i\mathcal{R}^{\prime}_{i} construído para i=1,,ki=1,\ldots,k, seja k+1\mathcal{R}^{\prime}_{k+1} o conjunto dos cubos Bk+1B\in\mathcal{R}_{k+1} que estão contidos em UU e que tem interior disjunto do interior de todos os cubos pertencentes a i=1ki\bigcup_{i=1}^{k}\mathcal{R}^{\prime}_{i}. Tome =k=1k\mathcal{R}=\bigcup_{k=1}^{\infty}\mathcal{R}^{\prime}_{k}. Como cada k\mathcal{R}_{k} é enumerável, segue que \mathcal{R} é enumerável. Afirmamos que os cubos pertencentes a \mathcal{R} possuem interiores dois a dois disjuntos. De fato, sejam B1,B2B_{1},B_{2}\in\mathcal{R} cubos distintos, digamos B1kB_{1}\in\mathcal{R}^{\prime}_{k} e B2lB_{2}\in\mathcal{R}^{\prime}_{l} com klk\geq l. Se k>lk>l então, por construção, o interior de B1B_{1} é disjunto do interior de qualquer cubo pertencente a i=1k1i\bigcup_{i=1}^{k-1}\mathcal{R}^{\prime}_{i}; em particular, o interior de B1B_{1} é disjunto do interior de B2B_{2}. Se k=lk=l, segue da propriedade (a) acima que os cubos B1B_{1} e B2B_{2} possuem interiores disjuntos. Para terminar a demonstração, verifiquemos que U=BBU=\bigcup_{B\in\mathcal{R}}B. Obviamente temos BBU\bigcup_{B\in\mathcal{R}}B\subset U. Seja xUx\in U. Como UU é aberto, existe k1k\geq 1 tal que a bola fechada de centro xx e raio n2k\frac{\sqrt{n}}{2^{k}} está contida em UU. Em vista das propriedades (b) e (d) acima, vemos que existe BkB\in\mathcal{R}_{k} com xBx\in B e, além disso, BUB\subset U. Se BkB\in\mathcal{R}^{\prime}_{k} então xBx\in B\in\mathcal{R}; caso contrário, existem l<kl<k e um cubo B1lB_{1}\in\mathcal{R}^{\prime}_{l} tal que os interiores de BB e B1B_{1} se interceptam. Em vista da propriedade (c), existe um cubo B2lB_{2}\in\mathcal{R}_{l} contendo BB. Daí B1,B2lB_{1},B_{2}\in\mathcal{R}_{l} e os interiores de B1B_{1} e B2B_{2} se interceptam; a propriedade (a) implica então que B1=B2B_{1}=B_{2} e portanto xBB2=B1x\in B\subset B_{2}=B_{1}\in\mathcal{R}. Em qualquer caso, mostramos que xBBx\in\bigcup_{B\in\mathcal{R}}B, o que completa a demonstração. ∎

1.4.24 Lema.

Todo subconjunto compacto de n\mathds{R}^{n} é mensurável.

Demonstração.

Seja KnK\subset\mathds{R}^{n} um subconjunto compacto e seja dado ε>0\varepsilon>0. Pelo Lema 1.4.12 existe um aberto UKU\supset K tal que 𝔪(U)𝔪(K)+ε\mathfrak{m}^{*}(U)\leq\mathfrak{m}^{*}(K)+\varepsilon. Vamos mostrar que 𝔪(UK)ε\mathfrak{m}^{*}(U\setminus K)\leq\varepsilon. Pelo Lema 1.4.23, o aberto UKU\setminus K pode ser escrito como uma união enumerável UK=k=1BkU\setminus K=\bigcup_{k=1}^{\infty}B_{k} de blocos retangulares nn-dimensionais com interiores dois a dois disjuntos. Para cada t1t\geq 1 os conjuntos KK e k=1tBk\bigcup_{k=1}^{t}B_{k} são compactos e disjuntos; os Corolários 1.4.19 e 1.4.20 implicam então que:

𝔪(K)+k=1t|Bk|=𝔪(K)+𝔪(k=1tBk)=𝔪(Kk=1tBk)𝔪(U).\mathfrak{m}^{*}(K)+\sum_{k=1}^{t}|B_{k}|=\mathfrak{m}^{*}(K)+\mathfrak{m}^{*}% \Big{(}\bigcup_{k=1}^{t}B_{k}\Big{)}=\mathfrak{m}^{*}\Big{(}K\cup\bigcup_{k=1}% ^{t}B_{k}\Big{)}\leq\mathfrak{m}^{*}(U).

Como KK é limitado, a Observação 1.4.2 nos diz que 𝔪(K)<+\mathfrak{m}^{*}(K)<+\infty e portanto a desigualdade acima implica que:

k=1t|Bk|𝔪(U)𝔪(K)ε.\sum_{k=1}^{t}|B_{k}|\leq\mathfrak{m}^{*}(U)-\mathfrak{m}^{*}(K)\leq\varepsilon.

Como t1t\geq 1 é arbitrário, concluímos que k=1|Bk|ε\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}|\leq\varepsilon e, finalmente, o Corolário 1.4.21 nos dá 𝔪(UK)ε\mathfrak{m}^{*}(U\setminus K)\leq\varepsilon. ∎

1.4.25 Corolário.

Todo subconjunto fechado de n\mathds{R}^{n} é mensurável.

Demonstração.

Se FnF\subset\mathds{R}^{n} é fechado então F=k=1(F[k,k]n)F=\bigcup_{k=1}^{\infty}\big{(}F\cap[-k,k]^{n}\big{)} é uma união enumerável de compactos. A conclusão segue do Lema 1.4.15. ∎

1.4.26 Definição.

Um subconjunto de n\mathds{R}^{n} é dito de tipo GδG_{\delta} (ou, simplesmente, um conjunto GδG_{\delta}) se pode ser escrito como uma interseção de uma coleção enumerável de abertos de n\mathds{R}^{n}. Similarmente, um subconjunto de n\mathds{R}^{n} é dito de tipo FσF_{\sigma} (ou, simplesmente, um conjunto FσF_{\sigma}) se pode ser escrito como uma união de uma coleção enumerável de fechados de n\mathds{R}^{n}.

Obviamente o complementar de um conjunto de tipo GδG_{\delta} é de tipo FσF_{\sigma} (e vice-versa).

1.4.27 Corolário.

Todo subconjunto de n\mathds{R}^{n} de tipo FσF_{\sigma} é mensurável.

Demonstração.

Segue do Corolário 1.4.25 e do Lema 1.4.15. ∎

1.4.28 Lema.

Se AnA\subset\mathds{R}^{n} é mensurável então existe um subconjunto ZZ de n\mathds{R}^{n} de tipo GδG_{\delta} tal que AZA\subset Z e 𝔪(ZA)=0\mathfrak{m}^{*}(Z\setminus A)=0.

Demonstração.

Para todo k1k\geq 1 existe um aberto UknU_{k}\subset\mathds{R}^{n} contendo AA tal que 𝔪(UkA)<1k\mathfrak{m}^{*}(U_{k}\setminus A)<\frac{1}{k}. Daí o conjunto Z=k=1UkZ=\bigcap_{k=1}^{\infty}U_{k} é um GδG_{\delta} que contém AA e:

𝔪(ZA)𝔪(UkA)<1k,\mathfrak{m}^{*}(Z\setminus A)\leq\mathfrak{m}^{*}(U_{k}\setminus A)<\frac{1}{% k},

para todo k1k\geq 1. Logo 𝔪(ZA)=0\mathfrak{m}^{*}(Z\setminus A)=0. ∎

1.4.29 Corolário.

O complementar de um subconjunto mensurável de n\mathds{R}^{n} também é mensurável.

Demonstração.

Seja AnA\subset\mathds{R}^{n} um subconjunto mensurável. Pelo Lema 1.4.28 existe um conjunto ZZ de tipo GδG_{\delta} contendo AA tal que 𝔪(ZA)=0\mathfrak{m}^{*}(Z\setminus A)=0. Daí ZcAcZ^{\mathrm{c}}\subset A^{\mathrm{c}} e AcZc=ZAA^{\mathrm{c}}\setminus Z^{\mathrm{c}}=Z\setminus A; logo:

Ac=Zc(ZA).A^{\mathrm{c}}=Z^{\mathrm{c}}\cup(Z\setminus A).

O conjunto ZcZ^{\mathrm{c}} é de tipo FσF_{\sigma} e portanto mensurável, pelo Corolário 1.4.27. A conclusão segue dos Lemas 1.4.15 e 1.4.16. ∎

1.4.30 Corolário.

Se AnA\subset\mathds{R}^{n} é mensurável então para todo ε>0\varepsilon>0 existe um subconjunto fechado FnF\subset\mathds{R}^{n} contido em AA tal que 𝔪(AF)<ε\mathfrak{m}^{*}(A\setminus F)<\varepsilon.

Demonstração.

Pelo Corolário 1.4.29, AcA^{\mathrm{c}} é mensurável e portanto existe um aberto UnU\subset\mathds{R}^{n} contendo AcA^{\mathrm{c}} tal que 𝔪(UAc)<ε.\mathfrak{m}^{*}(U\setminus A^{\mathrm{c}})<\varepsilon. Tomando F=UcF=U^{\mathrm{c}} então FF é fechado e FAF\subset A. Como AF=UAcA\setminus F=U\setminus A^{\mathrm{c}}, segue que 𝔪(AF)<ε\mathfrak{m}^{*}(A\setminus F)<\varepsilon. ∎

1.4.31 Corolário.

Se AnA\subset\mathds{R}^{n} é mensurável então existe um subconjunto WW de n\mathds{R}^{n} de tipo FσF_{\sigma} tal que WAW\subset A e 𝔪(AW)=0\mathfrak{m}^{*}(A\setminus W)=0.

Demonstração.

Pelo Corolário 1.4.29, AcA^{\mathrm{c}} também é mensurável e portanto, pelo Lema 1.4.28 existe um subconjunto ZZ de n\mathds{R}^{n} de tipo GδG_{\delta} tal que AcZA^{\mathrm{c}}\subset Z e 𝔪(ZAc)=0\mathfrak{m}^{*}(Z\setminus A^{\mathrm{c}})=0. Tomando W=ZcW=Z^{\mathrm{c}} então WW é de tipo FσF_{\sigma} e WAW\subset A. Como AW=ZAcA\setminus W=Z\setminus A^{\mathrm{c}}, segue que 𝔪(AW)=0\mathfrak{m}^{*}(A\setminus W)=0. ∎

1.4.32 Definição.

Seja XX um conjunto arbitrário. Uma álgebra de partes de XX é um subconjunto não vazio 𝒜(X)\mathcal{A}\subset\wp(X) satisfazendo as seguintes condições:

  • (a)

    se A𝒜A\in\mathcal{A} então Ac𝒜A^{\mathrm{c}}\in\mathcal{A};

  • (b)

    se A,B𝒜A,B\in\mathcal{A} então AB𝒜A\cup B\in\mathcal{A}.

Uma σ\sigma-álgebra de partes de XX é um subconjunto não vazio 𝒜(X)\mathcal{A}\subset\wp(X) satisfazendo a condição (a) acima e também a condição:

  • (b’)

    se (Ak)k1(A_{k})_{k\geq 1} é uma seqüência de elementos de 𝒜\mathcal{A} então k=1Ak𝒜\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k}\in\mathcal{A}.

Note que toda σ\sigma-álgebra de partes de XX é também uma álgebra de partes de XX. De fato, se 𝒜\mathcal{A} é uma σ\sigma-álgebra de partes de XX e se A,B𝒜A,B\in\mathcal{A}, podemos tomar A1=AA_{1}=A e Ak=BA_{k}=B para todo k2k\geq 2 na condição (b’); daí AB=k=1Ak𝒜A\cup B=\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k}\in\mathcal{A}.

1.4.33 Observação.

Se 𝒜\mathcal{A} é uma álgebra (em particular, se 𝒜\mathcal{A} é uma σ\sigma-álgebra) de partes de XX então X𝒜X\in\mathcal{A} e ∅︀𝒜\emptyset\in\mathcal{A}. De fato, como 𝒜∅︀\mathcal{A}\neq\emptyset, existe algum elemento A𝒜A\in\mathcal{A}. Daí Ac𝒜A^{\mathrm{c}}\in\mathcal{A} e portanto X=AAc𝒜X=A\cup A^{\mathrm{c}}\in\mathcal{A}; além do mais, ∅︀=Xc𝒜\emptyset=X^{\mathrm{c}}\in\mathcal{A}.

1.4.34 Teorema.

A coleção de todos os subconjuntos mensuráveis de n\mathds{R}^{n} é uma σ\sigma-álgebra de partes de n\mathds{R}^{n} que contém todos os subconjuntos abertos de n\mathds{R}^{n} e todos os subconjuntos de n\mathds{R}^{n} com medida exterior nula.

Demonstração.

Segue da Observação 1.4.14, dos Lemas 1.4.15 e 1.4.16 e do Corolário 1.4.29. ∎

1.4.35 Definição.

Se XX é um conjunto arbitrário e se 𝒞(X)\mathcal{C}\subset\wp(X) é uma coleção arbitrária de partes de XX então a σ\sigma-álgebra de partes de XX gerada por 𝒞\mathcal{C}, denotada por σ[𝒞]\sigma[\mathcal{C}], é a menor σ\sigma-álgebra de partes de XX que contém 𝒞\mathcal{C}, i.e., σ[𝒞]\sigma[\mathcal{C}] é uma σ\sigma-álgebra de partes de XX tal que:

  1. (1)

    𝒞σ[𝒞]\mathcal{C}\subset\sigma[\mathcal{C}];

  2. (2)

    se 𝒜\mathcal{A} é uma σ\sigma-álgebra de partes de XX tal que 𝒞𝒜\mathcal{C}\subset\mathcal{A} então σ[𝒞]𝒜\sigma[\mathcal{C}]\subset\mathcal{A}.

Dizemos também que 𝒞\mathcal{C} é um conjunto de geradores para a σ\sigma-álgebra σ[𝒞]\sigma[\mathcal{C}]. A σ\sigma-álgebra de partes de n\mathds{R}^{n} gerada pela coleção de todos os subconjuntos abertos de n\mathds{R}^{n} é chamada a σ\sigma-álgebra de Borel de n\mathds{R}^{n} e é denotada por (n)\mathcal{B}(\mathds{R}^{n}). Os elementos de (n)\mathcal{B}(\mathds{R}^{n}) são chamados conjuntos Boreleanos de n\mathds{R}^{n}.

No Exercício 1.22 pedimos ao leitor para justificar o fato de que a σ\sigma-álgebra gerada por uma coleção 𝒞(X)\mathcal{C}\subset\wp(X) está de fato bem definida, ou seja, existe uma única σ\sigma-álgebra σ[𝒞]\sigma[\mathcal{C}] satisfazendo as propriedades (1) e (2) acima.

1.4.36 Corolário.

Todo conjunto Boreleano de n\mathds{R}^{n} é mensurável.

Demonstração.

Pelo Teorema 1.4.34, os conjuntos mensuráveis formam uma σ\sigma-álgebra que contém os abertos de n\mathds{R}^{n}; portanto, deve conter também a σ\sigma-álgebra de Borel. ∎

1.4.37 Lema.

Se 𝒜\mathcal{A} é uma álgebra de partes de um conjunto XX e se A,B𝒜A,B\in\mathcal{A} então ABA\cap B e ABA\setminus B pertencem a 𝒜\mathcal{A}. Além do mais, se 𝒜\mathcal{A} é uma σ\sigma-álgebra de partes de XX e se (Ak)k1(A_{k})_{k\geq 1} é uma seqüência de elementos de 𝒜\mathcal{A} então k=1Ak𝒜\bigcap_{k=1}^{\infty}A_{k}\in\mathcal{A}.

Demonstração.

Se 𝒜\mathcal{A} é uma álgebra e A,B𝒜A,B\in\mathcal{A} então Ac,Bc𝒜A^{\mathrm{c}},B^{\mathrm{c}}\in\mathcal{A} e portanto AB=(AcBc)c𝒜A\cap B=(A^{\mathrm{c}}\cup B^{\mathrm{c}})^{\mathrm{c}}\in\mathcal{A}; além do mais, AB=ABc𝒜A\setminus B=A\cap B^{\mathrm{c}}\in\mathcal{A}. Se 𝒜\mathcal{A} é uma σ\sigma-álgebra e (Ak)k1(A_{k})_{k\geq 1} é uma seqüência de elementos de 𝒜\mathcal{A} então Akc𝒜A_{k}^{\mathrm{c}}\in\mathcal{A} para todo k1k\geq 1 e portanto k=1Ak=(k=1Akc)c𝒜\bigcap_{k=1}^{\infty}A_{k}=\big{(}\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k}^{\mathrm{c}}% \big{)}^{\mathrm{c}}\in\mathcal{A}. ∎

1.4.38 Corolário.

A interseção de uma coleção enumerável de subconjuntos mensuráveis de n\mathds{R}^{n} é mensurável e a diferença de dois subconjuntos mensuráveis de n\mathds{R}^{n} é mensurável.

Demonstração.

Segue do Teorema 1.4.34 e do Lema 1.4.37. ∎

1.4.39 Lema.

Para todo AnA\subset\mathds{R}^{n} com 𝔪(A)<+\mathfrak{m}^{*}(A)<+\infty e para todo ε>0\varepsilon>0 existe um subconjunto limitado A0AA_{0}\subset A tal que:

𝔪(A)𝔪(A0)𝔪(AA0)<ε.\mathfrak{m}^{*}(A)-\mathfrak{m}^{*}(A_{0})\leq\mathfrak{m}^{*}(A\setminus A_{% 0})<\varepsilon.

Além do mais, se AA é mensurável, podemos escolher o conjunto A0A_{0} também mensurável.

Demonstração.

Pelo Lema 1.4.12 existe um aberto UnU\subset\mathds{R}^{n} contendo AA tal que 𝔪(U)𝔪(A)+1<+\mathfrak{m}^{*}(U)\leq\mathfrak{m}^{*}(A)+1<+\infty. O Lema 1.4.23 nos permite escrever U=k=1BkU=\bigcup_{k=1}^{\infty}B_{k}, onde (Bk)k1(B_{k})_{k\geq 1} é uma seqüência de blocos retangulares nn-dimensionais com interiores dois a dois disjuntos. O Corolário 1.4.21 nos dá:

k=1|Bk|=𝔪(U)<+;\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}|=\mathfrak{m}^{*}(U)<+\infty;

portanto a série k=1|Bk|\sum_{k=1}^{\infty}|B_{k}| é convergente e existe t1t\geq 1 tal que:

k=t+1|Bk|<ε.\sum_{k=t+1}^{\infty}|B_{k}|<\varepsilon.

Seja A0=A(k=1tBk)A_{0}=A\cap\big{(}\bigcup_{k=1}^{t}B_{k}\big{)}. Temos que A0AA_{0}\subset A e A0A_{0} é limitado. Note que se AA é mensurável então A0A_{0} também é mensurável. Como Ak=1BkA\subset\bigcup_{k=1}^{\infty}B_{k} segue que AA0k=t+1BkA\setminus A_{0}\subset\bigcup_{k=t+1}^{\infty}B_{k} e portanto:

𝔪(AA0)𝔪(k=t+1Bk)k=t+1|Bk|<ε.\mathfrak{m}^{*}(A\setminus A_{0})\leq\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{k=t+1}^{% \infty}B_{k}\Big{)}\leq\sum_{k=t+1}^{\infty}|B_{k}|<\varepsilon.

A desigualdade 𝔪(A)𝔪(A0)𝔪(AA0)\mathfrak{m}^{*}(A)-\mathfrak{m}^{*}(A_{0})\leq\mathfrak{m}^{*}(A\setminus A_{% 0}) segue do Corolário 1.4.9. ∎

1.4.40 Corolário.

Se AnA\subset\mathds{R}^{n} é mensurável e 𝔪(A)<+\mathfrak{m}^{*}(A)<+\infty então para todo ε>0\varepsilon>0 existe um subconjunto compacto KnK\subset\mathds{R}^{n} contido em AA tal que:

𝔪(A)𝔪(K)𝔪(AK)<ε.\mathfrak{m}^{*}(A)-\mathfrak{m}^{*}(K)\leq\mathfrak{m}^{*}(A\setminus K)<\varepsilon.
Demonstração.

Pelo Lema 1.4.39, existe um subconjunto limitado mensurável A0AA_{0}\subset A tal que 𝔪(AA0)<ε2\mathfrak{m}^{*}(A\setminus A_{0})<\frac{\varepsilon}{2} e pelo Corolário 1.4.30 existe um subconjunto fechado KnK\subset\mathds{R}^{n} contido em A0A_{0} tal que 𝔪(A0K)<ε2\mathfrak{m}^{*}(A_{0}\setminus K)<\frac{\varepsilon}{2}. Obviamente KAK\subset A e KK é compacto. Como AK=(AA0)(A0K)A\setminus K=(A\setminus A_{0})\cup(A_{0}\setminus K), obtemos:

𝔪(AK)𝔪(AA0)+𝔪(A0K)<ε.\mathfrak{m}^{*}(A\setminus K)\leq\mathfrak{m}^{*}(A\setminus A_{0})+\mathfrak% {m}^{*}(A_{0}\setminus K)<\varepsilon.

A desigualdade 𝔪(A)𝔪(K)𝔪(AK)\mathfrak{m}^{*}(A)-\mathfrak{m}^{*}(K)\leq\mathfrak{m}^{*}(A\setminus K) segue do Corolário 1.4.9. ∎

1.4.41 Proposição.

Se A1A_{1}, …, AtA_{t} são subconjuntos mensuráveis dois a dois disjuntos de n\mathds{R}^{n} então:

𝔪(r=1tAr)=r=1t𝔪(Ar).\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{r=1}^{t}A_{r}\Big{)}=\sum_{r=1}^{t}\mathfrak{m% }^{*}(A_{r}). (1.4.8)

Além do mais, se (Ar)r1(A_{r})_{r\geq 1} é uma seqüência de subconjuntos mensuráveis dois a dois disjuntos de n\mathds{R}^{n} então:

𝔪(r=1Ar)=r=1𝔪(Ar).\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{r=1}^{\infty}A_{r}\Big{)}=\sum_{r=1}^{\infty}% \mathfrak{m}^{*}(A_{r}). (1.4.9)
Demonstração.

Comecemos provando (1.4.8). Se 𝔪(Ar)=+\mathfrak{m}^{*}(A_{r})=+\infty para algum r=1,,tr=1,\ldots,t então também 𝔪(r=1tAr)=+\mathfrak{m}^{*}\big{(}\bigcup_{r=1}^{t}A_{r}\big{)}=+\infty e portanto não há nada a mostrar. Se 𝔪(Ar)<+\mathfrak{m}^{*}(A_{r})<+\infty para todo r=1,,tr=1,\ldots,t então para todo ε>0\varepsilon>0 o Corolário 1.4.40 nos dá um subconjunto compacto KrK_{r} de ArA_{r} tal que 𝔪(Ar)𝔪(Kr)<εt\mathfrak{m}^{*}(A_{r})-\mathfrak{m}^{*}(K_{r})<\frac{\varepsilon}{t}. Usando o Corolário 1.4.19 obtemos:

𝔪(r=1tAr)𝔪(r=1tKr)=r=1t𝔪(Kr)>r=1t(𝔪(Ar)εt)=(r=1t𝔪(Ar))ε.\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{r=1}^{t}A_{r}\Big{)}\geq\mathfrak{m}^{*}\Big{(% }\bigcup_{r=1}^{t}K_{r}\Big{)}=\sum_{r=1}^{t}\mathfrak{m}^{*}(K_{r})>\sum_{r=1% }^{t}\big{(}\mathfrak{m}^{*}(A_{r})-\tfrac{\varepsilon}{t}\big{)}\\ =\Big{(}\sum_{r=1}^{t}\mathfrak{m}^{*}(A_{r})\Big{)}-\varepsilon.

Como ε>0\varepsilon>0 é arbitrário, concluímos que:

𝔪(r=1tAr)r=1t𝔪(Ar).\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{r=1}^{t}A_{r}\Big{)}\geq\sum_{r=1}^{t}% \mathfrak{m}^{*}(A_{r}).

O Lema 1.4.5 nos dá a desigualdade oposta, provando (1.4.8). Passemos então à prova de (1.4.9). A identidade (1.4.8) nos dá:

𝔪(r=1Ar)𝔪(r=1tAr)=r=1t𝔪(Ar),\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{r=1}^{\infty}A_{r}\Big{)}\geq\mathfrak{m}^{*}% \Big{(}\bigcup_{r=1}^{t}A_{r}\Big{)}=\sum_{r=1}^{t}\mathfrak{m}^{*}(A_{r}),

para todo t1t\geq 1. Fazendo tt\to\infty concluímos que:

𝔪(r=1Ar)r=1𝔪(Ar).\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{r=1}^{\infty}A_{r}\Big{)}\geq\sum_{r=1}^{% \infty}\mathfrak{m}^{*}(A_{r}).

Novamente a desigualdade oposta segue do Lema 1.4.5, o que prova (1.4.9). ∎

1.4.42 Definição.

Sejam XX um conjunto e 𝒜\mathcal{A} uma σ\sigma-álgebra de partes de XX. O par (X,𝒜)(X,\mathcal{A}) é chamado um espaço mensurável; uma medida no espaço mensurável (X,𝒜)(X,\mathcal{A}) é uma função μ:𝒜[0,+]\mu:\mathcal{A}\to[0,+\infty] tal que μ(∅︀)=0\mu(\emptyset)=0 e tal que, se (Ak)k1(A_{k})_{k\geq 1} é uma seqüência de elementos dois a dois disjuntos de 𝒜\mathcal{A} então:

μ(k=1Ak)=k=1μ(Ak).\mu\Big{(}\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k}\Big{)}=\sum_{k=1}^{\infty}\mu(A_{k}). (1.4.10)

Os elementos da σ\sigma-álgebra 𝒜\mathcal{A} são ditos subconjuntos mensuráveis de XX. A trinca (X,𝒜,μ)(X,\mathcal{A},\mu) é chamada um espaço de medida .

Se (X,𝒜,μ)(X,\mathcal{A},\mu) é um espaço de medida e se A1A_{1}, …, AtA_{t} é uma coleção finita de elementos dois a dois disjuntos de 𝒜\mathcal{A} então μ(k=1tAk)=k=1tμ(Ak)\mu\big{(}\bigcup_{k=1}^{t}A_{k}\big{)}=\sum_{k=1}^{t}\mu(A_{k}). De fato, basta tomar Ak=∅︀A_{k}=\emptyset para k>tk>t e usar (1.4.10).

1.4.43 Notação.

Denotaremos por (n)\mathcal{M}(\mathds{R}^{n}) a σ\sigma-álgebra de todos os subconjuntos Lebesgue mensuráveis de n\mathds{R}^{n} e por 𝔪:(n)[0,+]\mathfrak{m}:\mathcal{M}(\mathds{R}^{n})\to[0,+\infty] a restrição à (n)\mathcal{M}(\mathds{R}^{n}) da função 𝔪:(n)[0,+]\mathfrak{m}^{*}:\wp(\mathds{R}^{n})\to[0,+\infty] que associa a cada parte de n\mathds{R}^{n} sua medida exterior de Lebesgue.

1.4.44 Definição.

Se AnA\subset\mathds{R}^{n} é um subconjunto mensurável então o escalar 𝔪(A)[0,+]\mathfrak{m}(A)\in[0,+\infty] é chamado a medida de Lebesgue de AA.

Note que 𝔪(A)=𝔪(A)\mathfrak{m}(A)=\mathfrak{m}^{*}(A) para todo A(n)A\in\mathcal{M}(\mathds{R}^{n}), i.e., a medida de Lebesgue de um conjunto mensurável simplesmente coincide com sua medida exterior de Lebesgue; apenas nos permitimos remover o adjetivo “exterior” quando lidamos com conjuntos mensuráveis.

Provamos o seguinte:

1.4.45 Teorema.

A trinca (n,(n),𝔪)\big{(}\mathds{R}^{n},\mathcal{M}(\mathds{R}^{n}),\mathfrak{m}\big{)} é um espaço de medida.

Demonstração.

Segue do Teorema 1.4.34 e da Proposição 1.4.41. ∎

1.4.46 Lema.

Seja (X,𝒜,μ)(X,\mathcal{A},\mu) um espaço de medida e sejam A1,A2𝒜A_{1},A_{2}\in\mathcal{A} com A1A2A_{1}\subset A_{2}. Então μ(A1)μ(A2)\mu(A_{1})\leq\mu(A_{2}); além do mais, se μ(A1)<+\mu(A_{1})<+\infty então:

μ(A2A1)=μ(A2)μ(A1).\mu(A_{2}\setminus A_{1})=\mu(A_{2})-\mu(A_{1}).
Demonstração.

Basta observar que A2=A1(A2A1)A_{2}=A_{1}\cup(A_{2}\setminus A_{1}) é uma união disjunta de elementos de 𝒜\mathcal{A} e portanto μ(A2)=μ(A1)+μ(A2A1)\mu(A_{2})=\mu(A_{1})+\mu(A_{2}\setminus A_{1}). ∎

1.4.47 Notação.

Se (Ak)k1(A_{k})_{k\geq 1} é uma seqüência de conjuntos então a notação AkAA_{k}\nearrow A indica que AkAk+1A_{k}\subset A_{k+1} para todo k1k\geq 1 (i.e., a seqüência (Ak)k1(A_{k})_{k\geq 1} é crescente) e que A=k=1AkA=\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k}. Analogamente, escreveremos AkAA_{k}\searrow A para indicar que AkAk+1A_{k}\supset A_{k+1} para todo k1k\geq 1 (i.e., a seqüência (Ak)k1(A_{k})_{k\geq 1} é decrescente) e que A=k=1AkA=\bigcap_{k=1}^{\infty}A_{k}.

1.4.48 Lema.

Seja (X,𝒜,μ)(X,\mathcal{A},\mu) um espaço de medida e seja (Ak)k1(A_{k})_{k\geq 1} uma seqüência de elementos de 𝒜\mathcal{A}. Temos:

  • (a)

    se AkAA_{k}\nearrow A então μ(A)=limkμ(Ak)\mu(A)=\lim_{k\to\infty}\mu(A_{k});

  • (b)

    se AkAA_{k}\searrow A e se μ(A1)<+\mu(A_{1})<+\infty então μ(A)=limkμ(Ak)\mu(A)=\lim_{k\to\infty}\mu(A_{k}).

Demonstração.

Provemos inicialmente o item (a). Defina A0=∅︀A_{0}=\emptyset e Bk=AkAk1B_{k}=A_{k}\setminus A_{k-1}, para todo k1k\geq 1; evidentemente Bk𝒜B_{k}\in\mathcal{A}, para todo k1k\geq 1. É fácil ver que os conjuntos BkB_{k} são dois a dois disjuntos e que:

A=k=1Bk,Ar=k=1rBk,A=\bigcup_{k=1}^{\infty}B_{k},\quad A_{r}=\bigcup_{k=1}^{r}B_{k},

para todo r1r\geq 1; logo:

μ(A)=k=1μ(Bk)=limrk=1rμ(Bk)=limrμ(Ar).\mu(A)=\sum_{k=1}^{\infty}\mu(B_{k})=\lim_{r\to\infty}\sum_{k=1}^{r}\mu(B_{k})% =\lim_{r\to\infty}\mu(A_{r}).

Passemos à prova do item (b). Se μ(A1)<+\mu(A_{1})<+\infty então μ(Ak)<+\mu(A_{k})<+\infty para todo k1k\geq 1. Como (A1Ak)k1(A_{1}\setminus A_{k})_{k\geq 1} é uma seqüência de elementos de 𝒜\mathcal{A} e (A1Ak)(A1A)(A_{1}\setminus A_{k})\nearrow(A_{1}\setminus A), segue do item (a) que:

limkμ(A1Ak)=μ(A1A).\lim_{k\to\infty}\mu(A_{1}\setminus A_{k})=\mu(A_{1}\setminus A).

Usando o Lema 1.4.46 obtemos:

limk(μ(A1)μ(Ak))=μ(A1)μ(A).\lim_{k\to\infty}\big{(}\mu(A_{1})-\mu(A_{k})\big{)}=\mu(A_{1})-\mu(A).

Como μ(A1)<+\mu(A_{1})<+\infty, a conclusão segue. ∎

1.4.49 Definição.

Um envelope mensurável de um subconjunto AA de n\mathds{R}^{n} é um subconjunto mensurável EE de n\mathds{R}^{n} tal que AEA\subset E e 𝔪(A)=𝔪(E)\mathfrak{m}^{*}(A)=\mathfrak{m}(E).

1.4.50 Lema.

Para todo AnA\subset\mathds{R}^{n} existe um subconjunto EE de n\mathds{R}^{n} de tipo GδG_{\delta} contendo AA tal que 𝔪(A)=𝔪(E)\mathfrak{m}^{*}(A)=\mathfrak{m}(E).

Demonstração.

Para cada k1k\geq 1 o Lema 1.4.12 nos dá um aberto UkU_{k} contendo AA tal que 𝔪(Uk)𝔪(A)+1k\mathfrak{m}(U_{k})\leq\mathfrak{m}^{*}(A)+\frac{1}{k}. Daí E=k=1UkE=\bigcap_{k=1}^{\infty}U_{k} é um GδG_{\delta} contendo AA e:

𝔪(A)𝔪(E)𝔪(Uk)𝔪(A)+1k,\mathfrak{m}^{*}(A)\leq\mathfrak{m}(E)\leq\mathfrak{m}(U_{k})\leq\mathfrak{m}^% {*}(A)+\frac{1}{k},

para todo k1k\geq 1. A conclusão segue. ∎

1.4.51 Corolário.

Todo subconjunto de n\mathds{R}^{n} admite um envelope mensurável.

Demonstração.

Basta observar que todo GδG_{\delta} é mensurável (vide Corolário 1.4.38). ∎

1.4.52 Lema.

Sejam A1A_{1}, …, AtA_{t} subconjuntos de n\mathds{R}^{n} e suponha que existam subconjuntos mensuráveis dois a dois disjuntos E1E_{1}, …, EtE_{t} de n\mathds{R}^{n} de modo que AkEkA_{k}\subset E_{k}, para k=1,,tk=1,\ldots,t. Então:

𝔪(k=1tAk)=k=1t𝔪(Ak).\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{k=1}^{t}A_{k}\Big{)}=\sum_{k=1}^{t}\mathfrak{m% }^{*}(A_{k}).

Além do mais, se (Ak)k1(A_{k})_{k\geq 1} é uma seqüência de subconjuntos de n\mathds{R}^{n} tal que existe uma seqüência (Ek)k1(E_{k})_{k\geq 1} de subconjuntos mensuráveis de n\mathds{R}^{n} dois a dois disjuntos de modo que AkEkA_{k}\subset E_{k} para todo k1k\geq 1 então:

𝔪(k=1Ak)=k=1𝔪(Ak).\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k}\Big{)}=\sum_{k=1}^{\infty}% \mathfrak{m}^{*}(A_{k}).
Demonstração.

Tomando Ak=Ek=∅︀A_{k}=E_{k}=\emptyset para k>tk>t, podemos considerar apenas o caso de uma seqüência infinita de subconjuntos de n\mathds{R}^{n}. Seja EE um envelope mensurável do conjunto k=1Ak\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k}. Daí, para todo k1k\geq 1, o conjunto Ek=EEkE^{\prime}_{k}=E\cap E_{k} é mensurável e AkEkA_{k}\subset E^{\prime}_{k}. Como os conjuntos EkE^{\prime}_{k} são dois a dois disjuntos e k=1EkE\bigcup_{k=1}^{\infty}E^{\prime}_{k}\subset E, temos:

𝔪(k=1Ak)=𝔪(E)𝔪(k=1Ek)=k=1𝔪(Ek)k=1𝔪(Ak).\mathfrak{m}^{*}\Big{(}\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k}\Big{)}=\mathfrak{m}(E)\geq% \mathfrak{m}\Big{(}\bigcup_{k=1}^{\infty}E^{\prime}_{k}\Big{)}=\sum_{k=1}^{% \infty}\mathfrak{m}(E^{\prime}_{k})\geq\sum_{k=1}^{\infty}\mathfrak{m}^{*}(A_{% k}).

A desigualdade 𝔪(k=1Ak)k=1𝔪(Ak)\mathfrak{m}^{*}\big{(}\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k}\big{)}\leq\sum_{k=1}^{% \infty}\mathfrak{m}^{*}(A_{k}) segue do Lema 1.4.5. ∎

1.4.53 Proposição (Carathéodory).

Um subconjunto EnE\subset\mathds{R}^{n} é mensurável se e somente se para todo AnA\subset\mathds{R}^{n} vale:

𝔪(A)=𝔪(AE)+𝔪(AEc).\mathfrak{m}^{*}(A)=\mathfrak{m}^{*}(A\cap E)+\mathfrak{m}^{*}(A\cap E^{% \mathrm{c}}). (1.4.11)
Demonstração.

Se EE é mensurável então A=(AE)(AEc)A=(A\cap E)\cup(A\cap E^{\mathrm{c}}), onde AEA\cap E e AEcA\cap E^{\mathrm{c}} estão respectivamente contidos nos conjuntos mensuráveis disjuntos EE e EcE^{\mathrm{c}}. A identidade (1.4.11) segue portanto do Lema 1.4.52. Reciprocamente, suponha que a identidade (1.4.11) vale para todo AnA\subset\mathds{R}^{n}. Para cada k1k\geq 1 seja Ek=E[k,k]nE_{k}=E\cap[-k,k]^{n} e seja ZkZ_{k} um envelope mensurável para EkE_{k}. A identidade (1.4.11) com A=ZkA=Z_{k} nos dá:

𝔪(Ek)=𝔪(Zk)=𝔪(ZkE)+𝔪(ZkEc).\mathfrak{m}^{*}(E_{k})=\mathfrak{m}(Z_{k})=\mathfrak{m}^{*}(Z_{k}\cap E)+% \mathfrak{m}^{*}(Z_{k}\cap E^{\mathrm{c}}).

Como ZkEEkZ_{k}\cap E\supset E_{k} vemos que:

𝔪(Ek)𝔪(Ek)+𝔪(ZkEc)𝔪(Ek);\mathfrak{m}^{*}(E_{k})\geq\mathfrak{m}^{*}(E_{k})+\mathfrak{m}^{*}(Z_{k}\cap E% ^{\mathrm{c}})\geq\mathfrak{m}^{*}(E_{k});

como EkE_{k} é limitado, temos que 𝔪(Ek)<+\mathfrak{m}^{*}(E_{k})<+\infty (vide Observação 1.4.2) e portanto 𝔪(ZkEc)=0\mathfrak{m}^{*}(Z_{k}\cap E^{\mathrm{c}})=0. Em particular, pelo Lema 1.4.16, ZkEcZ_{k}\cap E^{\mathrm{c}} é mensurável. Tomando Z=k1ZkZ=\bigcup_{k\geq 1}Z_{k} vemos que EZE\subset Z, ZZ é mensurável e:

ZE=ZEc=k1(ZkEc).Z\setminus E=Z\cap E^{\mathrm{c}}=\bigcup_{k\geq 1}(Z_{k}\cap E^{\mathrm{c}}).

Daí ZEZ\setminus E é mensurável e portanto E=Z(ZE)E=Z\setminus(Z\setminus E) também é mensurável. ∎

1.4.54 Observação.

Na verdade, a demonstração apresentada para a Proposição 1.4.53 mostra algo mais forte: se a identidade (1.4.11) vale para todo conjunto mensurável AnA\subset\mathds{R}^{n} então EE é mensurável. Em vista do Lema 1.4.50, todo subconjunto de n\mathds{R}^{n} admite um envelope mensurável de tipo GδG_{\delta} e portanto a demonstração que apresentamos para a Proposição 1.4.53 mostra até mesmo o seguinte: se a identidade (1.4.11) vale para todo subconjunto AA de n\mathds{R}^{n} de tipo GδG_{\delta} então EE é mensurável.

1.4.55 Lema.

Seja (Ak)k1(A_{k})_{k\geq 1} uma seqüência de subconjuntos (não necessariamente mensuráveis) de n\mathds{R}^{n} tal que AkAA_{k}\nearrow A. Então:

𝔪(A)=limk𝔪(Ak).\mathfrak{m}^{*}(A)=\lim_{k\to\infty}\mathfrak{m}^{*}(A_{k}).
Demonstração.

Temos que a seqüência (𝔪(Ak))k1\big{(}\mathfrak{m}^{*}(A_{k})\big{)}_{k\geq 1} é crescente e limitada superiormente por 𝔪(A)\mathfrak{m}^{*}(A), donde o limite limk𝔪(Ak)\lim_{k\to\infty}\mathfrak{m}^{*}(A_{k}) existe (em [0,+][0,+\infty]) e é menor ou igual a 𝔪(A)\mathfrak{m}^{*}(A). Para provar que 𝔪(A)\mathfrak{m}^{*}(A) é menor ou igual a limk𝔪(Ak)\lim_{k\to\infty}\mathfrak{m}^{*}(A_{k}), escolha um envelope mensurável EkE_{k} para AkA_{k} e defina Fk=rkErF_{k}=\bigcap_{r\geq k}E_{r}, para todo k1k\geq 1. Daí cada FkF_{k} é mensurável e AkFkEkA_{k}\subset F_{k}\subset E_{k}, donde também FkF_{k} é um envelope mensurável de AkA_{k}. Além do mais, temos FkFF_{k}\nearrow F, onde FF é um conjunto mensurável que contém AA. A conclusão segue agora do Lema 1.4.48 observando que:

𝔪(A)𝔪(F)=limk𝔪(Fk)=limk𝔪(Ak).\mathfrak{m}^{*}(A)\leq\mathfrak{m}(F)=\lim_{k\to\infty}\mathfrak{m}(F_{k})=% \lim_{k\to\infty}\mathfrak{m}^{*}(A_{k}).\qed

1.4.1. Medida interior

O conceito de medida interior é útil para entender melhor o fenômeno da não mensurabilidade de um subconjunto de n\mathds{R}^{n}.

1.4.56 Definição.

Seja AA um subconjunto de n\mathds{R}^{n}. A medida interior de Lebesgue de AA é definida por:

𝔪(A)=sup{𝔪(K):KA,K compacto}[0,+].\mathfrak{m}_{*}(A)=\sup\big{\{}\mathfrak{m}(K):K\subset A,\ \text{$K$ % compacto}\big{\}}\in[0,+\infty].
1.4.57 Lema.

Se AnA\subset\mathds{R}^{n} é mensurável então 𝔪(A)=𝔪(A)\mathfrak{m}_{*}(A)=\mathfrak{m}^{*}(A). Reciprocamente, dado AnA\subset\mathds{R}^{n} com 𝔪(A)=𝔪(A)<+\mathfrak{m}_{*}(A)=\mathfrak{m}^{*}(A)<+\infty então AA é mensurável.

Demonstração.

Suponha que AA é mensurável e mostremos que as medidas interior e exterior de AA coincidem. Em primeiro lugar, se AA tem medida exterior finita isso segue diretamente do Corolário 1.4.40. Suponha então que 𝔪(A)=+\mathfrak{m}^{*}(A)=+\infty. Pelo Corolário 1.4.30, existe um subconjunto fechado FnF\subset\mathds{R}^{n} contido em AA tal que 𝔪(AF)<1\mathfrak{m}^{*}(A\setminus F)<1. Daí:

𝔪(A)=𝔪(F(AF))𝔪(F)+𝔪(AF)𝔪(F)+1,\mathfrak{m}^{*}(A)=\mathfrak{m}^{*}\big{(}F\cup(A\setminus F)\big{)}\leq% \mathfrak{m}^{*}(F)+\mathfrak{m}^{*}(A\setminus F)\leq\mathfrak{m}^{*}(F)+1,

e portanto 𝔪(F)=+\mathfrak{m}^{*}(F)=+\infty. Para cada r1r\geq 1, seja Kr=F[r,r]nK_{r}=F\cap[-r,r]^{n}. Daí cada KrK_{r} é compacto e KrFK_{r}\nearrow F; o Lema 1.4.48 nos dá:

limr𝔪(Kr)=𝔪(F)=+.\lim_{r\to\infty}\mathfrak{m}(K_{r})=\mathfrak{m}(F)=+\infty.

Logo 𝔪(A)supr1𝔪(Kr)=+=𝔪(A)\mathfrak{m}_{*}(A)\geq\sup_{r\geq 1}\mathfrak{m}(K_{r})=+\infty=\mathfrak{m}^% {*}(A). Suponha agora que as medidas interior e exterior de AA são iguais e finitas e mostremos que AA é mensurável. Seja dado ε>0\varepsilon>0. Temos que existe um subconjunto compacto KAK\subset A tal que:

𝔪(K)𝔪(A)ε2=𝔪(A)ε2.\mathfrak{m}(K)\geq\mathfrak{m}_{*}(A)-\frac{\varepsilon}{2}=\mathfrak{m}^{*}(% A)-\frac{\varepsilon}{2}.

Pelo Lema 1.4.12, existe um aberto UnU\subset\mathds{R}^{n} contendo AA tal que:

𝔪(U)𝔪(A)+ε2.\mathfrak{m}(U)\leq\mathfrak{m}^{*}(A)+\frac{\varepsilon}{2}.

Portanto:

𝔪(UA)𝔪(UK)=𝔪(U)𝔪(K)=(𝔪(U)𝔪(A))+(𝔪(A)𝔪(K))ε.\mathfrak{m}^{*}(U\setminus A)\leq\mathfrak{m}(U\setminus K)=\mathfrak{m}(U)-% \mathfrak{m}(K)\\ =\big{(}\mathfrak{m}(U)-\mathfrak{m}^{*}(A)\big{)}+\big{(}\mathfrak{m}^{*}(A)-% \mathfrak{m}(K)\big{)}\leq\varepsilon.

A conclusão segue. ∎

1.4.58 Corolário.

Se AnA\subset\mathds{R}^{n} é mensurável então:

𝔪(A)=sup{𝔪(K):KA,K compacto}.\mathfrak{m}(A)=\sup\big{\{}\mathfrak{m}(K):K\subset A,\ \text{\em$K$ compacto% }\big{\}}.
1.4.59 Corolário.

Dados AnA\subset\mathds{R}^{n} e EE um subconjunto mensurável de AA então 𝔪(E)𝔪(A)\mathfrak{m}(E)\leq\mathfrak{m}_{*}(A).

Demonstração.

O Lema 1.4.57 nos dá 𝔪(E)=𝔪(E)\mathfrak{m}(E)=\mathfrak{m}_{*}(E). Como EAE\subset A, segue do resultado do Exercício 1.29 que 𝔪(E)𝔪(A)\mathfrak{m}_{*}(E)\leq\mathfrak{m}_{*}(A). ∎

1.4.60 Lema.

Dados A1,A2nA_{1},A_{2}\subset\mathds{R}^{n} então vale a desigualdade:

𝔪(A1A2)𝔪(A1)+𝔪(A2);\mathfrak{m}_{*}(A_{1}\cup A_{2})\leq\mathfrak{m}^{*}(A_{1})+\mathfrak{m}_{*}(% A_{2});

se A1A2=∅︀A_{1}\cap A_{2}=\emptyset então vale também a desigualdade:

𝔪(A1)+𝔪(A2)𝔪(A1A2).\mathfrak{m}^{*}(A_{1})+\mathfrak{m}_{*}(A_{2})\leq\mathfrak{m}^{*}(A_{1}\cup A% _{2}).
Demonstração.

Pelo resultado do Exercício 1.31, existe WnW\subset\mathds{R}^{n} de tipo FσF_{\sigma} tal que WA1A2W\subset A_{1}\cup A_{2} e 𝔪(W)=𝔪(A1A2)\mathfrak{m}(W)=\mathfrak{m}_{*}(A_{1}\cup A_{2}). Seja ZZ um envelope mensurável de A1A_{1}. Temos W(WZ)ZW\subset(W\setminus Z)\cup Z e portanto:

𝔪(A1A2)=𝔪(W)𝔪(Z)+𝔪(WZ)𝔪(A1)+𝔪(A2),\mathfrak{m}_{*}(A_{1}\cup A_{2})=\mathfrak{m}(W)\leq\mathfrak{m}(Z)+\mathfrak% {m}(W\setminus Z)\leq\mathfrak{m}^{*}(A_{1})+\mathfrak{m}_{*}(A_{2}),

onde usamos o Corolário 1.4.59 e o fato que WZW\setminus Z é um subconjunto mensurável de A2A_{2}. Suponha agora que A1A2=∅︀A_{1}\cap A_{2}=\emptyset. Seja EE um envelope mensurável de A1A2A_{1}\cup A_{2} e seja FnF\subset\mathds{R}^{n} de tipo FσF_{\sigma} tal que FA2F\subset A_{2} e 𝔪(F)=𝔪(A2)\mathfrak{m}(F)=\mathfrak{m}_{*}(A_{2}) (Exercício 1.31). Como A1A2=∅︀A_{1}\cap A_{2}=\emptyset, temos A1EFA_{1}\subset E\setminus F e portanto:

𝔪(A1A2)=𝔪(E)=𝔪(EF)+𝔪(F)𝔪(A1)+𝔪(A2).\mathfrak{m}^{*}(A_{1}\cup A_{2})=\mathfrak{m}(E)=\mathfrak{m}(E\setminus F)+% \mathfrak{m}(F)\geq\mathfrak{m}^{*}(A_{1})+\mathfrak{m}_{*}(A_{2}).\qed
1.4.61 Corolário.

Seja EnE\subset\mathds{R}^{n} um subconjunto mensurável e sejam A1A_{1}, A2A_{2} tais que E=A1A2E=A_{1}\cup A_{2} e A1A2=∅︀A_{1}\cap A_{2}=\emptyset. Então:

𝔪(E)=𝔪(A1)+𝔪(A2).\mathfrak{m}(E)=\mathfrak{m}^{*}(A_{1})+\mathfrak{m}_{*}(A_{2}).
Demonstração.

O Lema 1.4.60 nos dá:

𝔪(E)𝔪(A1)+𝔪(A2)𝔪(E).\mathfrak{m}(E)\leq\mathfrak{m}^{*}(A_{1})+\mathfrak{m}_{*}(A_{2})\leq% \mathfrak{m}(E).\qed