Exercícios para o Capítulo 4

Espaços Normados e com Produto Interno

Exercício 4.1.

Sejam EE um espaço vetorial sobre 𝕂\mathds{K} e \|\cdot\| uma semi-norma em EE. Mostre que:

|xy|xy,\big{|}\|x\|-\|y\|\big{|}\leq\|x-y\|,

para todos x,yEx,y\in E. Conclua que se (E,)(E,\|\cdot\|) é um espaço normado então a norma :E\|\cdot\|:E\to\mathds{R} é uma aplicação Lipschitziana (e portanto uniformemente contínua), se EE é munido da métrica associada a \|\cdot\|.

Exercício 4.2.

Seja (E,)(E,\|\cdot\|) um espaço normado sobre 𝕂\mathds{K}. Se EE é munido da métrica associada a \|\cdot\|, mostre que as aplicações:

E×E(x,y)x+yE,𝕂×E(λ,x)λxE,E\times E\ni(x,y)\longmapsto x+y\in E,\quad\mathds{K}\times E\ni(\lambda,x)% \longmapsto\lambda x\in E,

são contínuas.

Exercício 4.3.

Seja (E,)(E,\|\cdot\|) um espaço normado sobre 𝕂\mathds{K}. Mostre que a métrica dd associada à norma \|\cdot\| satisfaz as seguintes condições:

  • (a)

    d(x+z,y+z)=d(x,y)d(x+z,y+z)=d(x,y), para todos x,y,zEx,y,z\in E (invariância por translações);

  • (b)

    d(λx,λy)=|λ|d(x,y)d(\lambda x,\lambda y)=|\lambda|\,d(x,y), para todo λ𝕂\lambda\in\mathds{K} e todos x,yEx,y\in E.

Reciprocamente, se dd é uma métrica num espaço vetorial EE sobre 𝕂\mathds{K} que satisfaz as condições (a) e (b) acima, mostre que existe uma única norma \|\cdot\| em EE tal que dd é a métrica associada a \|\cdot\|.

Exercício 4.4.

Seja EE um espaço vetorial real. Para que uma métrica dd em EE seja a métrica associada a uma norma em EE, mostre que é suficiente que dd satisfaça a condição (a) que está no enunciado do Exercício 4.3 e a condição:

  • (b’)

    d(λx,λy)=λd(x,y)d(\lambda x,\lambda y)=\lambda\,d(x,y), para todo λ>0\lambda>0 e todos x,yEx,y\in E (homogeneidade positiva).

Exercício 4.5.

Sejam EE um espaço vetorial e SES\subset E um subespaço vetorial de EE. Mostre que:

  • a relação binária \sim em EE definida por:

    xyxyS,x,yE,x\sim y\Longleftrightarrow x-y\in S,\quad x,y\in E,

    é uma relação de equivalência em EE;

  • para todo xEx\in E, a classe de equivalência de xx correspondente a \sim é dada por:

    x+S={x+v:vS};x+S=\big{\{}x+v:v\in S\big{\}};
  • existe uma única estrutura de espaço vetorial no conjunto quociente E/S={x+S:xE}E/S=\big{\{}x+S:x\in E\big{\}} tal que a aplicação quociente:

    q:Exx+SE/Sq:E\ni x\longmapsto x+S\in E/S

    é linear.

O espaço vetorial E/SE/S é chamado o espaço vetorial quociente de EE pelo subespaço SS.

Exercício 4.6.

Seja EE um espaço vetorial sobre 𝕂\mathds{K} e \|\cdot\| uma semi-norma em EE. Mostre que:

  • o conjunto N={xE:x=0}N=\big{\{}x\in E:\|x\|=0\big{\}} é um subespaço de EE;

  • existe uma única norma \|\cdot\|^{\prime} no espaço quociente E/NE/N tal que x+N=x\|x+N\|^{\prime}=\|x\|, para todo xEx\in E.

Definição 4.1.

Se EE é um espaço vetorial complexo então o espaço vetorial real E|E|_{\mathds{R}} obtido de EE pela restrição da multiplicação por escalares ×E(λ,x)λxE\mathds{C}\times E\ni(\lambda,x)\mapsto\lambda x\in E a ×E\mathds{R}\times E é chamado a realificação de EE.

Exercício 4.7.

Se EE é um espaço vetorial complexo e \|\cdot\| é uma norma em EE, mostre que \|\cdot\| também é uma norma na realificação E|E|_{\mathds{R}} de EE. Dê exemplo de uma norma em E|E|_{\mathds{R}} que não é uma norma em EE.

Exercício 4.8.

Se EE é um espaço vetorial complexo e ,\langle\cdot,\cdot\rangle é um produto interno em EE, mostre que:

x,y=x,y,x,yE,\langle x,y\rangle_{\mathds{R}}=\Re\langle x,y\rangle,\quad x,y\in E,

define um produto interno ,\langle\cdot,\cdot\rangle_{\mathds{R}} em E|E|_{\mathds{R}}. Mostre também que:

  • (a)

    ,\langle\cdot,\cdot\rangle e ,\langle\cdot,\cdot\rangle_{\mathds{R}} determinam a mesma norma (conclua que (E,,)(E,\langle\cdot,\cdot\rangle) é um espaço de Hilbert complexo se e somente se (E|,,)(E|_{\mathds{R}},\langle\cdot,\cdot\rangle_{\mathds{R}}) é um espaço de Hilbert real);

  • (b)

    ix,iy=x,y\langle ix,iy\rangle_{\mathds{R}}=\langle x,y\rangle_{\mathds{R}} e ix,y=x,iy\langle ix,y\rangle_{\mathds{R}}=-\langle x,iy\rangle_{\mathds{R}}, para todos x,yEx,y\in E;

  • (c)

    x,y=x,yiix,y\langle x,y\rangle=\langle x,y\rangle_{\mathds{R}}-i\langle ix,y\rangle_{% \mathds{R}}, para todos x,yEx,y\in E.

Exercício 4.9.

Seja EE um espaço vetorial complexo e ,0\langle\cdot,\cdot\rangle_{0} um produto interno em E|E|_{\mathds{R}}. Mostre que as duas seguintes condições são equivalentes:

  • (i)

    ix,iy0=x,y0\langle ix,iy\rangle_{0}=\langle x,y\rangle_{0}, para todos x,yEx,y\in E;

  • (ii)

    ix,y0=x,iy0\langle ix,y\rangle_{0}=-\langle x,iy\rangle_{0}, para todos x,yEx,y\in E.

Assumindo que uma das (e portanto ambas as) condições acima são satisfeitas, mostre que:

x,y=x,y0iix,y0,x,yE,\langle x,y\rangle=\langle x,y\rangle_{0}-i\langle ix,y\rangle_{0},\quad x,y% \in E,

define um produto interno ,\langle\cdot,\cdot\rangle em EE tal que x,y0=x,y\langle x,y\rangle_{0}=\Re\langle x,y\rangle, para todos x,yEx,y\in E.

Exercício 4.10.

Seja XX um conjunto com mais de um ponto. Mostre que a norma do supremo (Exemplo 4.1.3) definida no espaço vetorial Bd(X,𝕂)\mathrm{Bd}(X,\mathds{K}) das funções limitadas f:X𝕂f:X\to\mathds{K} não satisfaz a identidade do paralelogramo (veja (4.1.5)). Conclua que essa norma não está associada a nenhum produto interno.

Exercício 4.11 (fórmula de polarização).

Seja EE um espaço vetorial sobre 𝕂\mathds{K} e ,\langle\cdot,\cdot\rangle um produto interno em EE. Se 𝕂=\mathds{K}=\mathds{R}, mostre que:

x,y=12(x+y2x2y2),\displaystyle\langle x,y\rangle=\frac{1}{2}\big{(}\|x+y\|^{2}-\|x\|^{2}-\|y\|^% {2}\big{)}, (4.5.21)
x,y=14(x+y2xy2),\displaystyle\langle x,y\rangle=\frac{1}{4}\big{(}\|x+y\|^{2}-\|x-y\|^{2}\big{% )}, (4.5.22)

para todos x,yEx,y\in E. Para 𝕂=\mathds{K}=\mathds{C}, mostre que:

x,y=12(x+y2x2y2),\displaystyle\Re\langle x,y\rangle=\frac{1}{2}\big{(}\|x+y\|^{2}-\|x\|^{2}-\|y% \|^{2}\big{)},
x,y=14(x+y2xy2),\displaystyle\Re\langle x,y\rangle=\frac{1}{4}\big{(}\|x+y\|^{2}-\|x-y\|^{2}% \big{)},

para todos x,yEx,y\in E. Use a fórmula que está no item (c) do Exercício 4.8 para concluir que, também no caso 𝕂=\mathds{K}=\mathds{C}, podemos escrever uma fórmula para x,y\langle x,y\rangle usando apenas a norma \|\cdot\|.

Exercício 4.12.

Seja (E,,)(E,\langle\cdot,\cdot\rangle) um espaço pré-Hilbertiano sobre 𝕂\mathds{K}. Se EE é munido da métrica associada à norma associada a ,\langle\cdot,\cdot\rangle, mostre que o produto interno ,:E×E𝕂\langle\cdot,\cdot\rangle:E\times E\to\mathds{K} é uma aplicação contínua.

Exercício 4.13.

Este exercício contém um resultado preparatório que será usado na resolução do Exercício 4.14. Sejam EE, EE^{\prime} espaços vetoriais sobre \mathds{Q} e seja T:EET:E\to E^{\prime} um homomorfismo de grupos aditivos, i.e., T(x+y)=T(x)+T(y)T(x+y)=T(x)+T(y), para todos x,yEx,y\in E. Mostre que TT é linear, i.e., mostre que T(λx)=λT(x)T(\lambda x)=\lambda T(x), para todos xEx\in E, λ\lambda\in\mathds{Q}.

Exercício 4.14.

Seja EE um espaço vetorial sobre 𝕂\mathds{K} e \|\cdot\| uma norma em EE que satisfaz a identidade do paralelogramo (4.1.5). O objetivo deste exercício é mostrar que \|\cdot\| está associada a um único produto interno no espaço vetorial EE.

  • (a)

    Mostre que:

    x+y2+x+z2+y+z2=x+y+z2+x2+y2+z2,\|x+y\|^{2}+\|x+z\|^{2}+\|y+z\|^{2}=\|x+y+z\|^{2}+\|x\|^{2}+\|y\|^{2}+\|z\|^{2},

    para todos x,y,zEx,y,z\in E.

  • (b)

    Defina ,:E×E\langle\cdot,\cdot\rangle:E\times E\to\mathds{R} através da fórmula (4.5.21) e use o resultado do item (a) para concluir que x+y,z=x,z+y,z\langle x+y,z\rangle=\langle x,z\rangle+\langle y,z\rangle, para todos x,y,zEx,y,z\in E.

  • (c)

    Use o resultado do item (b) e o resultado do Exercício 4.13 para concluir que λx,y=λx,y\langle\lambda x,y\rangle=\lambda\langle x,y\rangle, para todos x,yEx,y\in E e todo λ\lambda\in\mathds{Q}.

  • (d)

    Use o resultado do item (d) e o resultado dos Exercícios 4.1 e 4.2 para concluir que λx,y=λx,y\langle\lambda x,y\rangle=\lambda\langle x,y\rangle, para todos x,yEx,y\in E e todo λ\lambda\in\mathds{R}.

  • (e)

    Se 𝕂=\mathds{K}=\mathds{R}, mostre que (4.5.21) define um produto interno ,\langle\cdot,\cdot\rangle em EE e que \|\cdot\| é a norma associada a ,\langle\cdot,\cdot\rangle.

  • (f)

    Se 𝕂=\mathds{K}=\mathds{C}, use o resultado do Exercício 4.9 para concluir que existe um único produto interno em EE ao qual a norma \|\cdot\| está associada.

Exercício 4.15 (teorema de Pitágoras).

Seja EE um espaço vetorial sobre 𝕂\mathds{K} e ,\langle\cdot,\cdot\rangle um produto interno em EE. Se x,yEx,y\in E são ortogonais, mostre que:

x+y2=x2+y2.\|x+y\|^{2}=\|x\|^{2}+\|y\|^{2}.

Aplicações Lineares Contínuas

Exercício 4.16.

Mostre que:

  • um espaço vetorial normado não nulo nunca é um espaço métrico limitado;

  • uma aplicação linear não nula entre espaços normados nunca possui imagem limitada.

Exercício 4.17.

Sejam (E,E)(E,\|\cdot\|_{\lower 2.0pt\hbox{$\scriptstyle E$}}), (F,F)(F,\|\cdot\|_{\lower 2.0pt\hbox{$\scriptstyle F$}}) espaços normados sobre 𝕂\mathds{K}, com EE não nulo. Se T:EFT:E\to F é uma aplicação linear limitada, mostre que:

T=sup{T(x)F:xE e xE=1}.\|T\|=\sup\big{\{}\|T(x)\|_{\lower 2.0pt\hbox{$\scriptstyle F$}}:\text{$x\in E% $ e $\|x\|_{\lower 2.0pt\hbox{$\scriptstyle E$}}=1$}\big{\}}.
Exercício 4.18.

Mostre que (4.2.1) define uma norma no espaço vetorial Lin(E,F)\mathrm{Lin}(E,F).

Exercício 4.19.

Seja EE um espaço vetorial complexo. Denotemos por E¯\overline{E} o conjunto EE munido da mesma soma de EE e da operação de multiplicação por escalares complexos definida por:

×E(λ,x)λ¯xE.\mathds{C}\times E\ni(\lambda,x)\longmapsto\bar{\lambda}x\in E.

Mostre que:

  • E¯\overline{E} também é um espaço vetorial complexo;

  • uma aplicação :E\|\cdot\|:E\to\mathds{R} é uma norma em EE se e somente se ela é uma norma em E¯\overline{E}.

Dizemos que E¯\overline{E} é o espaço vetorial conjugado a EE.

Exercício 4.20.

Sejam EE um espaço vetorial complexo e E¯\overline{E} seu espaço vetorial conjugado. Mostre que:

  • o espaço vetorial conjugado de E¯\overline{E} é EE;

  • se SS é um subespaço vetorial de EE então o espaço vetorial conjugado a SS é um subespaço vetorial de E¯\overline{E}.

Exercício 4.21.

Sejam EE um espaço vetorial complexo e E¯\overline{E} seu espaço vetorial conjugado. Se ,\langle\cdot,\cdot\rangle é um produto interno em EE, mostre que:

E×E(x,y)x,y¯E\times E\ni(x,y)\longmapsto\overline{\langle x,y\rangle}\in\mathds{C} (4.5.23)

é um produto interno em E¯\overline{E}. Mostre que ,\langle\cdot,\cdot\rangle e (4.5.23) definem a mesma norma em EE.

Exercício 4.22.

Sejam EE, FF espaços vetoriais complexos e E¯\overline{E}, F¯\overline{F} seus espaços vetoriais conjugados. Mostre que as seguintes afirmações são equivalentes sobre uma aplicação T:EFT:E\to F:

  • T:EFT:E\to F é linear;

  • T:E¯F¯T:\overline{E}\to\overline{F} é linear.

Mostre também que são equivalentes as seguintes afirmações:

  • T:EFT:E\to F é linear-conjugada;

  • T:E¯FT:\overline{E}\to F é linear;

  • T:EF¯T:E\to\overline{F} é linear.

Funções Convexas

Exercício 4.23.

Se f:f:\mathds{R}\to\mathds{R} é uma função afim, i.e., existem a,ba,b\in\mathds{R} com f(x)=ax+bf(x)=ax+b para todo xx\in\mathds{R}, mostre que ff é convexa.