1.1 O Modelo
Considere a rede hipercúbica em dimensões () (denotada por um abuso de linguagem costumeiro por ), onde é o conjunto de sítios da rede e é o seu conjunto de elos (vizinhos mais próximos).
A cada elo de será atribuido aleatoriamente o status aberto ou fechado da seguinte maneira. Seja uma família de variáveis aleatórias (v.a.’s) independentes e identicamente distribuidas (i.i.d.) com distribuição comum de Bernoulli com parâmetro , isto é,
para todo , onde é um número real entre e e é a probabilidade associada a (algumas vezes denotada ). A esperança com respeito a esta probabilidade será denotado por .
Mais formalmente, o espaço amostral do modelo será dado por . A -álgebra é a usual, denotada por , gerada pelos eventos cilíndricos, isto é, aqueles que dependem de elos em subconjuntos finitos de apenas. A probabilidade é a probabilidade produto em atribuindo peso a ’s e a ’s. é a projeção na coordenada , isto é,
para todo .
indica que o elo está aberto e indica que está fechado.
Um conjunto de elos de , , onde , , será dito um caminho se forem distintos e , (não há loops). Um caminho será dito aberto se todos os seus elos estiverem abertos (isto é, se , ). Diremos que dois sítios da rede, e , estão conectados (notação: ) se existir um caminho aberto com e . Vê-se que a conectividade é uma relação de equivalência e às classes de equivalência em que se dividem os sítios chamaremos aglomerados (ou a expressão em inglês clusters). Denotaremos por o aglomerado do sítio e por o aglomerado da origem, objeto básico de nosso estudo.
Estaremos interessados inicialmente em , o volume (ou cardinalidade) do aglomerado da origem, mais precisamente em sua distribuição (que, note-se, é a mesma que a de para todo sítio , pela invariância por translação de ). Especificamente, queremos saber se aglomerados infinitos podem ocorrer (com probabilidade positiva).
Em dimensão 1, o problema é trivial, pois, denotando por e os sítios de à esquerda e à direita da origem, respectivamente, temos que e são v.a.’s i.i.d. com . Logo, não há aglomerados infinitos quase-certamente em dimensão 1 se . Restringiremo-nos pois a .
é uma v.a. que pode assumir os valores . Uma quantidade de interesse será
Podemos então escrever
Expressões para são relativamente simples de calcular para pequeno, mas se tornam combinatorialmente crescentemente complicadas para crescente e não há uma forma explícita para genérico. O estudo de deve seguir uma outra abordagem.
Na próxima seção, provaremos o resultado principal deste capítulo, o primeiro não-trivial da teoria, aquele que estabelece a existência de transição de fase no modelo de percolação em 2 ou mais dimensões, como enunciado em seguida.
Teorema 1.1.1
Para , existe um valor crítico do parâmetro , denominado , no intervalo aberto tal que
Resultados subseqüentes, de que nos ocuparemos em capítulos seguintes, procuram caracterizar as diversas fases do modelo: a fase subcrítica (), a fase supercrítica () e a fase crítica ().