A.2. Exercícios do Capítulo 2

Exercício 2.1. Se f:XXf:X\to X^{\prime} é constante então para todo subconjunto AA de XX^{\prime} temos f1(A)=∅︀f^{-1}(A)=\emptyset ou f1(A)=Xf^{-1}(A)=X; em todo caso, f1(A)𝒜f^{-1}(A)\in\mathcal{A}.

Exercício 2.2. Evidentemente 𝒜|Y\mathcal{A}|_{Y} é não vazia, já que 𝒜\mathcal{A} é não vazia. Seja (Ak)k1(A^{\prime}_{k})_{k\geq 1} uma seqüência em 𝒜|Y\mathcal{A}|_{Y}; para cada k1k\geq 1 existe Ak𝒜A_{k}\in\mathcal{A} com Ak=AkYA^{\prime}_{k}=A_{k}\cap Y. Daí:

k=1Ak=(k=1Ak)Y\bigcup_{k=1}^{\infty}A^{\prime}_{k}=\Big{(}\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k}\Big{)}\cap Y

e k=1Ak𝒜\bigcup_{k=1}^{\infty}A_{k}\in\mathcal{A}; logo k=1Ak𝒜|Y\bigcup_{k=1}^{\infty}A^{\prime}_{k}\in\mathcal{A}|_{Y}. Agora seja A𝒜|YA^{\prime}\in\mathcal{A}|_{Y}, de modo que A=AYA^{\prime}=A\cap Y, com A𝒜A\in\mathcal{A}. Temos que o complementar de AA^{\prime} em YY é igual à interseção do complementar de AA em XX com YY, ou seja:

YA=Y(AY)=(XA)Y.Y\setminus A^{\prime}=Y\setminus(A\cap Y)=(X\setminus A)\cap Y.

Como XAX\setminus A está em 𝒜\mathcal{A}, segue que YA𝒜|YY\setminus A^{\prime}\in\mathcal{A}|_{Y}.

Exercício 2.3. Pelo resultado do Exercício 2.2, temos que 𝒜|Y\mathcal{A}|_{Y} é uma σ\sigma-álgebra de partes de YY que contém 𝒞|Y\mathcal{C}|_{Y}; logo 𝒜|Y\mathcal{A}|_{Y} contém σ[𝒞|Y]\sigma[\mathcal{C}|_{Y}]. Para mostrar que 𝒜|Y\mathcal{A}|_{Y} está contido em σ[𝒞|Y]\sigma[\mathcal{C}|_{Y}], considere a coleção:

𝒜={AX:AYσ[𝒞|Y]}.\mathcal{A}^{\prime}=\big{\{}A\subset X:A\cap Y\in\sigma[\mathcal{C}|_{Y}]\big% {\}}.

Verifica-se diretamente que 𝒜\mathcal{A}^{\prime} é uma σ\sigma-álgebra de partes de XX; obviamente, 𝒞𝒜\mathcal{C}\subset\mathcal{A}^{\prime}. Logo 𝒜𝒜\mathcal{A}\subset\mathcal{A}^{\prime}, o que prova que AYσ[𝒞|Y]A\cap Y\in\sigma[\mathcal{C}|_{Y}], para todo A𝒜A\in\mathcal{A}, i.e., 𝒜|Yσ[𝒞|Y]\mathcal{A}|_{Y}\subset\sigma[\mathcal{C}|_{Y}].

Exercício 2.4. De acordo com a definição da σ\sigma-álgebra de Borel de ¯\overline{\mathds{R}}, se A(¯)A\in\mathcal{B}(\overline{\mathds{R}}) então A()A\cap\mathds{R}\in\mathcal{B}(\mathds{R}); logo (¯)|()\mathcal{B}(\overline{\mathds{R}})|_{\mathds{R}}\subset\mathcal{B}(\mathds{R}). Por outro lado, se A()A\in\mathcal{B}(\mathds{R}) então também A(¯)A\in\mathcal{B}(\overline{\mathds{R}}) (já que A=AA\cap\mathds{R}=A é um Boreleano de \mathds{R}) e portanto A=A(¯)|A\cap\mathds{R}=A\in\mathcal{B}(\overline{\mathds{R}})|_{\mathds{R}}.

Exercício 2.5. Seja 𝒞\mathcal{C} a coleção formada pelos intervalos da forma [,c][-\infty,c], cc\in\mathds{R}. Claramente 𝒞(¯)\mathcal{C}\subset\mathcal{B}(\overline{\mathds{R}}) e portanto σ[𝒞](¯)\sigma[\mathcal{C}]\subset\mathcal{B}(\overline{\mathds{R}}). Vamos mostrar então que (¯)σ[𝒞]\mathcal{B}(\overline{\mathds{R}})\subset\sigma[\mathcal{C}]. Em primeiro lugar, afirmamos que:

∅︀,{+},{},{+,}σ[𝒞],\displaystyle\emptyset,\{+\infty\},\{-\infty\},\{+\infty,-\infty\}\in\sigma[% \mathcal{C}], (A.2.1)
σ[𝒞].\displaystyle\mathds{R}\in\sigma[\mathcal{C}]. (A.2.2)

De fato, (A.2.1) segue das igualdades:

{}=k=1[,k],{+}=k=1[,k]c,\{-\infty\}=\bigcap_{k=1}^{\infty}[-\infty,-k],\quad\{+\infty\}=\bigcap_{k=1}^% {\infty}[-\infty,k]^{\mathrm{c}},

e (A.2.2) segue de (A.2.1), já que ={+,}c\mathds{R}=\{+\infty,-\infty\}^{\mathrm{c}}. Note que:

𝒞|={],c]:c}\mathcal{C}|_{\mathds{R}}=\big{\{}\left]-\infty,c\right]:c\in\mathds{R}\big{\}}

e portanto o resultado do Exercício 1.25 nos dá σ[𝒞|]=()\sigma[\mathcal{C}|_{\mathds{R}}]=\mathcal{B}(\mathds{R}); daí, o resultado do Exercício 2.3 implica que:

σ[𝒞]|=().\sigma[\mathcal{C}]|_{\mathds{R}}=\mathcal{B}(\mathds{R}). (A.2.3)

Seja A(¯)A\in\mathcal{B}(\overline{\mathds{R}}), de modo que A()A\cap\mathds{R}\in\mathcal{B}(\mathds{R}). Por (A.2.3), temos que existe Aσ[𝒞]A^{\prime}\in\sigma[\mathcal{C}] tal que A=AA\cap\mathds{R}=A^{\prime}\cap\mathds{R}. Daí (A.2.2) implica que Aσ[𝒞]A\cap\mathds{R}\in\sigma[\mathcal{C}]. Finalmente, (A.2.1) implica que A{+,}σ[𝒞]A\cap\{+\infty,-\infty\}\in\sigma[\mathcal{C}], o que prova que A=(A)(A{+,})σ[𝒞]A=(A\cap\mathds{R})\cup\big{(}A\cap\{+\infty,-\infty\}\big{)}\in\sigma[% \mathcal{C}].

Exercício 2.6. Pelo Corolário 2.1.18, a função

h:(f1()g1())h:\big{(}f^{-1}(\mathds{R})\cap g^{-1}(\mathds{R})\big{)}\longrightarrow% \mathds{R}

definida por h(x)=f(x)g(x)h(x)=f(x)-g(x) é mensurável. Logo o conjunto:

h1(0)={xf1()g1():f(x)=g(x)}h^{-1}(0)=\big{\{}x\in f^{-1}(\mathds{R})\cap g^{-1}(\mathds{R}):f(x)=g(x)\big% {\}}

é mensurável. A conclusão segue da igualdade:

{xX:f(x)=g(x)}=(f1(+)g1(+))(f1()g1()){xf1()g1():f(x)=g(x)}.\big{\{}x\in X:f(x)=g(x)\big{\}}=\big{(}f^{-1}(+\infty)\cap g^{-1}(+\infty)% \big{)}\cup\big{(}f^{-1}(-\infty)\cap g^{-1}(-\infty)\big{)}\\ \cup\big{\{}x\in f^{-1}(\mathds{R})\cap g^{-1}(\mathds{R}):f(x)=g(x)\big{\}}.

Exercício 2.7. Vamos usar o Lema 2.1.13. Temos que os conjuntos:

{(x,y)2:y1},\displaystyle\big{\{}(x,y)\in\mathds{R}^{2}:y\geq 1\big{\}}, (A.2.4a)
{(x,y)2:1<y<1},\displaystyle\big{\{}(x,y)\in\mathds{R}^{2}:-1<y<1\big{\}}, (A.2.4b)
{(x,y)2:y1},\displaystyle\big{\{}(x,y)\in\mathds{R}^{2}:y\leq-1\big{\}}, (A.2.4c)

constituem uma cobertura enumerável de 2\mathds{R}^{2} por Boreleanos. É suficiente então mostrar que a restrição de ff a cada um desses Boreleanos é Borel mensurável. A restrição de ff ao conjunto (A.2.4a) é contínua, e portanto Borel mensurável (veja Lema 2.1.15). A restrição de ff ao conjunto (A.2.4b) é um limite pontual de funções contínuas e portanto é Borel mensurável, pelo Corolário 2.1.24 (na verdade, essa restrição de ff também é contínua, já que a série em questão converge uniformemente, pelo teste MM de Weierstrass). Finalmente, a restrição de ff ao conjunto (A.2.4c) é Borel mensurável, sendo igual à composição da função contínua (x,y)x+y(x,y)\mapsto x+y com a função Borel mensurável χ\chi_{\lower 2.0pt\hbox{$\scriptstyle\mathbb{Q}$}}.

Exercício 2.8.

  • (a)

    Como XX1X\setminus X_{1} tem medida nula, temos que todo subconjunto de XX1X\setminus X_{1} é mensurável (recorde Lema 1.4.16). Portanto, a restrição de ff a XX1X\setminus X_{1} é automaticamente mensurável (seja lá qual for a função ff). Como os conjuntos XX1X\setminus X_{1} e X1=X(XX1)X_{1}=X\setminus(X\setminus X_{1}) são mensuráveis, segue do Lema 2.1.13 que ff é mensurável.

  • (b)

    Como f=gf=g quase sempre, existe um subconjunto X1X_{1} de XX tal que XX1X\setminus X_{1} tem medida nula e tal que ff e gg coincidem em X1X_{1}. Como ff é mensurável, segue que g|X1=f|X1g|_{X_{1}}=f|_{X_{1}} também é mensurável; logo, o resultado do item (a) implica que gg é mensurável.

  • (c)

    Basta observar que g=lim infkfkg=\liminf_{k\to\infty}f_{k} quase sempre e usar o resultado do item (b) juntamente com o Corolário 2.1.23.

Exercício 2.9. Devemos mostrar que se AA é um subconjunto Lebesgue mensurável de m\mathds{R}^{m} então π1(A)\pi^{-1}(A) é um subconjunto Lebesgue mensurável de m+n\mathds{R}^{m+n}. Mas π1(A)=A×n\pi^{-1}(A)=A\times\mathds{R}^{n} e portanto a conclusão segue do resultado do item (b) do Exercício 1.27.

Exercício 2.10. Considere a função ϕ:X×nn\phi:X\times\mathds{R}^{n}\to\mathds{R}^{n} definida por ϕ(x,y)=yf(x)\phi(x,y)=y-f(x), para todos xXx\in X, yny\in\mathds{R}^{n}. Obviamente:

gr(f)=ϕ1(0).\mathrm{gr}(f)=\phi^{-1}(0).

Considere a projeção π:m+nm\pi:\mathds{R}^{m+n}\to\mathds{R}^{m} nas primeiras mm coordenadas. Temos que π\pi é contínua e portanto Borel mensurável; daí X×n=π1(X)X\times\mathds{R}^{n}=\pi^{-1}(X) é Boreleano, caso XX seja Boreleano. Além do mais, pelo resultado do Exercício 2.9, X×nX\times\mathds{R}^{n} é Lebesgue mensurável, caso XX seja Lebesgue mensurável. Para concluir a demonstração, vamos verificar que:

  • ϕ\phi é Borel mensurável se ff for Borel mensurável;

  • ϕ\phi é mensurável se ff for mensurável.

De fato, temos que ϕ\phi é igual à diferença entre a função contínua (x,y)y(x,y)\mapsto y e a função (x,y)f(x)(x,y)\mapsto f(x), que é simplesmente a composição da restrição de π\pi a X×nX\times\mathds{R}^{n} com ff. A conclusão segue do resultado do Exercício 2.9.

Exercício 2.11.

  • (a)

    Se ff é integrável então, por definição, f+f^{+} e ff^{-} são integráveis, donde |f|=f++f|f|=f^{+}+f^{-} é integrável. Reciprocamente, se |f||f| é integrável então f+f^{+} e ff^{-} são integráveis, já que 0f+|f|0\leq f^{+}\leq|f| e 0f|f|0\leq f^{-}\leq|f|. Segue que ff é integrável.

  • (b)

    Temos:

    |Xfdμ|=|Xf+dμXfdμ||Xf+dμ|+|Xfdμ|=Xf++fdμ=X|f|dμ.\Big{|}\int_{X}f\,\mathrm{d}\mu\Big{|}=\Big{|}\int_{X}f^{+}\,\mathrm{d}\mu-% \int_{X}f^{-}\,\mathrm{d}\mu\Big{|}\leq\Big{|}\int_{X}f^{+}\,\mathrm{d}\mu\Big% {|}+\Big{|}\int_{X}f^{-}\,\mathrm{d}\mu\Big{|}\\ =\int_{X}f^{+}+f^{-}\,\mathrm{d}\mu=\int_{X}|f|\,\mathrm{d}\mu.

Exercício 2.12. Seja gn=k=1nfkg_{n}=\sum_{k=1}^{n}f_{k}. Daí (gn)n1(g_{n})_{n\geq 1} é uma seqüência de funções mensuráveis não negativas com gnfg_{n}\nearrow f. Segue do Teorema 2.3.3 que:

k=1Xfkdμ=limnk=1nXfkdμ=limnXgndμ=Xfdμ.\sum_{k=1}^{\infty}\int_{X}f_{k}\,\mathrm{d}\mu=\lim_{n\to\infty}\sum_{k=1}^{n% }\int_{X}f_{k}\,\mathrm{d}\mu=\lim_{n\to\infty}\int_{X}g_{n}\,\mathrm{d}\mu=% \int_{X}f\,\mathrm{d}\mu.

Exercício 2.13. Obviamente νf(∅︀)=0\nu_{f}(\emptyset)=0, pelo Lema 2.4.10. Seja (Ek)k1(E_{k})_{k\geq 1} uma seqüência de subconjuntos mensuráveis dois a dois disjuntos de XX. Temos:

fχE=k=1fχEk,f\chi_{\lower 2.0pt\hbox{$\scriptstyle E$}}=\sum_{k=1}^{\infty}f\chi_{\lower 2% .0pt\hbox{$\scriptstyle E_{k}$}},

e portanto o Lema 2.3.4 e o resultado do Exercício 2.12 implicam:

k=1νf(Ek)=k=1XfχEkdμ=XfχEdμ=νf(E).\sum_{k=1}^{\infty}\nu_{f}(E_{k})=\sum_{k=1}^{\infty}\int_{X}f\chi_{\lower 2.0% pt\hbox{$\scriptstyle E_{k}$}}\,\mathrm{d}\mu=\int_{X}f\chi_{\lower 2.0pt\hbox% {$\scriptstyle E$}}\,\mathrm{d}\mu=\nu_{f}(E).

Exercício 2.14.

  • (a)

    Se a função ff é não negativa, a afirmação segue do resultado do Exercício 2.13. No caso geral, temos:

    Af+dμ=k=1Akf+dμ,Afdμ=k=1Akfdμ,\int_{A}f^{+}\,\mathrm{d}\mu=\sum_{k=1}^{\infty}\int_{A_{k}}f^{+}\,\mathrm{d}% \mu,\quad\int_{A}f^{-}\,\mathrm{d}\mu=\sum_{k=1}^{\infty}\int_{A_{k}}f^{-}\,% \mathrm{d}\mu,

    e a conclusão segue subtraindo as duas igualdades acima.

  • (b)

    Se a função ff é não negativa, a afirmação segue do resultado do Exercício 2.13 e do Lema 1.4.48. No caso geral, temos:

    Af+dμ=limkAkf+dμ,Afdμ=limkAkfdμ,\int_{A}f^{+}\,\mathrm{d}\mu=\lim_{k\to\infty}\int_{A_{k}}f^{+}\,\mathrm{d}\mu% ,\quad\int_{A}f^{-}\,\mathrm{d}\mu=\lim_{k\to\infty}\int_{A_{k}}f^{-}\,\mathrm% {d}\mu,

    e a conclusão segue subtraindo as duas igualdades acima.

  • (c)

    Análogo ao item (b), observando que se f|A1f|_{A_{1}} é integrável então A1f+dμ<+\int_{A_{1}}f^{+}\,\mathrm{d}\mu<+\infty e A1fdμ<+\int_{A_{1}}f^{-}\,\mathrm{d}\mu<+\infty.