10.2 Sólidos de revolução
Nesta seção usaremos a integral para calcular o volume de um
tipo particular de região do
espaço, chamada de sólidos de revolução. (Em Cálculo III, volumes de regiões mais
gerais serão calculados usando integral tripla.)
Considere uma função positiva no intervalo , . Seja a região delimitada pelo gráfico de , pelo eixo e pelas retas , :
Sabemos que a área de é dada pela integral de Riemann
Consideremos agora o sólido obtido girando a região em torno do eixo , como na figura abaixo:
Sólidos que podem ser gerados dessa maneira, girando uma região em torno de um eixo, são chamados de sólidos de revolução. Veremos situações em que a região não precisa ser delimitada pelo gráfico de uma função, e que o eixo não precisa ser o eixo .
Exercício 10.4.
Quais dos seguintes corpos são sólidos de revolução? (Quando for o caso, dê a região e o eixo)
-
1.
A esfera de raio .
-
2.
O cilindro com base circular de raio , e de altura .
-
3.
O cubo de lado .
-
4.
O cone de base circular de raio e de altura .
-
5.
O toro de raios .
Nesta seção desenvolveremos métodos para calcular o volume de um sólido de revolução . Antes de começar, consideremos um caso elementar, que será também usado para o caso geral.
Exemplo 10.3.
Suponha que é constante em , isto é: para todo :
Neste caso, o sólido gerado é um cilindro (deitado). A sua base é circular de raio , e a sua altura é . Pela fórmula bem conhecida do volume de um cilíndro,
Queremos agora calcular
para um sólido de revolução qualquer.
O procedimento será o mesmo que levou à propria definição da integral de Riemann: aproximaremos por sólidos mais elementares. Usaremos dois tipos de sólidos elementares: cilíndros e cascas.
10.2.1 Aproximação por cilindros
Voltemos para o sólido de revolução da seção anterior. Um jeito de decompor o sólido é de aproximá-lo por uma união de fatias verticais, centradas no eixo :
Cada fatia é obtida girando um retângulo cujo tamanho é determinado pela função . Para ser mais preciso, escolhemos pontos no intervalo , , e a cada intervalo associamos o retângulo cuja base tem tamanho e cuja altura é de . Ao girar em torno do eixo , cada um desses retângulos gera uma fatia cilíndrica , como no Exemplo 10.3:
Mas, como a fatia é um cilindro deitado de raio e de altura , o seu volume é dado por . Logo, o volume do sólido pode ser aproximado pela soma dos volumes das fatias, que é uma soma de Riemann:
Quando o número de retângulos e que todos os , esta soma converge (quando pe contínua, por exemplo) para a uma integral de Riemann que permite (em princípio) calcular o volume exato do sólido :
Exemplo 10.4.
Seja a região delimitada pela curva , pelo eixo , e pelas duas retas verticais e . Calculemos o volume do sólido obtido girando em torno do eixo :
Pela fórmula (10.3), o volume deste sólido é dado pela integral
O método permite calcular volumes clássicos da geometria.
Exemplo 10.5.
Seja fixo e a região delimitada pela semi-circunferência , entre e , e pelo eixo . O sólido obtido girando em torno do eixo é uma esfera de raio centrada na origem:
Pela fórmula (10.3), o volume da esfera é dado pela integral
Exercício 10.5.
Um vaso é obtido rodando a curva em torno do eixo , onde
Esboce o vaso obtido, em três dimensões, e calcule o seu volume.
O importante, nesta seção, é de não tentar decorar fórmulas, e sim entender como montar uma nova fórmula em cada situação. Vejamos como, no seguinte exemplo.
Exemplo 10.6.
Considere a região do primeiro quadrante, delimitada pelo gráfico da função . Considere os sólidos e , obtidos rodando em torno, respectivamente, do eixo e :
Calculemos, para começar, o volume do sólido . O raciocíno já descrito acima permite usar a fórmula:
Consideremos agora o sólido . Por ser um sólido de revolução em torno do eixo , a aproximação mais natural é de usar fatias horizontais, centradas no eixo , como na figura a seguir:
Neste caso, dividimos o intervalo em intervalos . Ao intervalo associamos uma fatia horizontal de altura de de raio . De fato, já que está na altura , o seu raio é dado pelo inverso da função (isto é ) no ponto . Assim, , e o volume de é aproximado pela soma das fatias:
Portanto, no limite , combinado com , obtemos:
Na próxima seção mostraremos um outro jeito de calcular .
Exercício 10.6.
Considere a região finita contida no primeiro quadrante, delimitada pelas curvas , . Calcule o volume do sólido de revolução obtido girando em torno do eixo .
(Haverá mais exercícios no fim da próxima seção.)
10.2.2 Aproximação por cascas
Os exemplos considerados na seção anterior partiam de uma decomposição do sólido usando fatias cilíndricas. Vejamos agora um outro tipo de decomposição, usando cascas.
Exemplo 10.7.
Considere de novo a região do Exemplo 10.6 (a área debaixo da parábola), e o sólido gerado pela rotação de em torno do eixo . Lá, foi calculado usando uma integral, que foi construida a partir de uma soma de cilindros, obtidos pela rotação de retangulos horizontais em torno do eixo . Procuremos agora calcular o mesmo volume , mas com uma integral obtida a partir de uma soma de cascas. Cascas são obtidas pela rotação de retângulos verticais, em torno do eixo :
O volume da casca pode ser calculado pela diferença dos volumes de dois cilindros: o externo tem raio , o interno tem raio , e ambos têm altura . Logo,
Fatorando, . Quando for muito pequeno, isto é quando e forem muito próximos, podemos aproximar por . Logo,
Obs: essa fórmula é facil de entender observando que a
casca pode ser obtida torcendo um paralelepípedo
cuja base é o retângulo de base e de altura dada pela
circunferência do círculo de raio , isto é . (Atenção: esse raciocíno é correto somente se a
base do retângulo é pequena em relação à sua distância ao
eixo de rotação!)
Portanto, o volume so sólido pode ser calculado via a integral associada às somas de Riemann dos , isto é:
Como era de se esperar, essa integral vale
O último exemplo mostrou que o volume de um sólido pode ser calculado de várias maneiras, usando cilindros ou cascas para o mesmo sólido pode levar a integrar funções muito diferentes, e uma escolha pode facilitar o cálculo da primitiva.
Exemplo 10.8.
Considere o triângulo determinado pelos pontos , , .
Para começar, considere o cone obtido girando em torno do eixo :
Podemos calcular o volume de de duas maneiras. Primeiro, girando retângulos verticais:
Seremos um pouco informais: o retângulo infinitesimal baseado em tem uma largura e uma altura (que é a equação da reta que passa por e ). Ao girar em torno do eixo , ele gera um cilindro infinitesimal cuja base tem área igual a , e altura . Logo, o volume do cilindro é , e o volume de é obtido integrando todos os cilindros, quando varia de até :
Mas é possível também calcular girando retângulos horizontais:
Um retângulo horizontal infinitesimal é definido pela sua posição com respeito ao eixo , pela sua altura, dada por (aqui calculamos a diferença entre a posição do seu ponto mais a direita e do seu ponto mais a esquerda). Ao girar em torno do eixo , esse retângulo gera uma casca cujo raio é , cuja altura é e cuja espessura é , logo, o seu volume é . Integrando sobre todas as cascas, com variando entre e :
Consideremos agora o solído obtido girando em torno da reta de equação .
Comecemos girando retângulos verticais:
Ao girar o retângulo representado na figura em torno da reta , isto gera uma casca de raio , de altura e de espessura . Logo, o seu volume é dado por . O volume de é obtido integrando com respeito a , entre e :
Girando agora retângulos horizontais:
Ao girar em torno da reta vertical , o retângulo horizontal gera um anel, de altura , de raio exterior , de raio interior . O volume desse anel é dado por . Logo, o volume de é dado pela integral
10.2.3 Exercícios
Exercício 10.8.
Considere a região delimitada pelo gráfico da função , pelo eixo , e pelas duas retas , . Calcule a área de . Em seguida, monte uma integral (não precisa calculá-la) cujo valor dê o volume so sólido obtido girando : 1) em torno do eixo , 2) em torno da reta .
Exercício 10.9.
Mostre que o volume de um cone de base circular de raio e de altura é igual a .
Exercício 10.10.
(Prova 3, 2010, Turmas N) Calcule o volume do sólido obtido girando a região em torno da reta .
Exercício 10.11.
Considere a região delimitada pela parábola , pelo eixo e pela reta , contida no primeiro quadrante. Para cada uma das retas abaixo, monte uma integral (sem calculá-la) que dê o volume do sólido obtido girando em torno da reta , usando a) cílindros, b) cascas.
-
1.
,
-
2.
,
-
3.
,
-
4.
,
-
5.
,
-
6.
.
Exercício 10.12.
Monte uma integral cujo valor seja igual ao volume do sólido obtido girando a região (finita, delimitada pela curva e o eixo ) em torno da reta .
Exercício 10.13.
Considere o sólido obtido girando o gráfico da função em torno da reta , entre e . Esboce , e calcule o seu volume. (Lembre que .)
Exercício 10.14.
Considere a região delimitada pelo gráfico da função , pelas retas , , e pelo eixo . Monte duas integrais, cujos valores dão o volume do sólido de revolução obtido girando em torno 1) da reta , 2) da reta .
Exercício 10.15.
Um toro é obtido girando um disco de raio em torno de um eixo vertical, mantendo o centro do disco a distância () do eixo. Mostre que o volume desse toro é igual a .