3.1 Exponencial
Seja um número positivo, fixo, chamado base. Definamos primeiro, para todo número natural ,
(Em particular, .) Assim obtemos uma função
que satisfaz às seguintes propriedades: para todo ,
(3.1) | ||||
(3.2) |
Se for uma outra base,
O nosso objetivo é de estender essa função à reta real toda:
Faremos essa extensão passo a passo, com o seguinte objetivo em mente: que
as relações (3.1)-(3.3) sejam sempre satisfeitas,
também para variáveis reais.
Por exemplo, como definir ? Para (3.1) ser satisfeita com , ,
Daí, simplificando por na última expressão, vemos que é preciso definir
Podemos em seguida definir a exponencial dos inteiros negativos, . Usando de novo (3.1) com , temos
Logo, vemos que precisa ser definida como:
O mesmo raciocínio pode ser aplicado em geral: se já foi definido para , então o único jeito de definir é como:
Estamos por enquanto com uma função
Façamos um primeiro esboço, isto é, representemos alguns pontos de coordenadas , , no plano cartesiano (nessa figura, ):
Já podemos observar que para valores de positivos grandes (aqui ),
Como cada elemento dessa sequência é o dobro do anterior, ela diverge exponencialmente rápido. Por outro lado, para valores de negativos grandes, a sequência converge exponencialmente rápido para zero:
Agora que foi definida para os valores de inteiros, vejamos como definir para os semi-inteiros . Por exemplo, se , já que por (3.2), vemos que . Para definir para , , usemos também (3.2). Quando ,
e quando ,
Assim, o gráfico anterior pode ser acrescentado dos pontos da forma :
Repetindo esse processo, pode ser definido para os pontos da forma , , , etc, obtendo assim uma função definida para qualquer da forma . Esses reais são chamados de racionais diádicos.
Observe que a medida que aumenta,
os racionais diádicos vão enchendo a
reta real: diz-se que eles
formam um conjunto denso na reta.
Mas todos os racionais diádicos são racionais, e existem muitos (!) reais que não são racionais… Daremos a idéia da última (e mais delicada) etapa da construção de para qualquer real . Procederemos por aproximação, observando que qualquer real pode ser cercado por dois diádicos, digamos e , arbitrariamente próximos um do outro.
Exemplo 3.3.
Por exemplo, é irracional 11 1 A irracionalidade de foi provada pela primeira vez por Johann Heinrich Lambert em ., e é possível obter aproximações pegando sucessivamente diádicos com ,etc.:
Assim, podemos sempre achar um diádico, ou maior ou menor do que , cujo valor numérico é arbitrariamente perto de .
Assim, para qualquer irracional , é possível escolher uma sequência decrescente de diádicos que tende a , , e uma sequência crescente de diádicos que tende a , .
Vemos então que os valores de e se aproximam de um valor comum, que será usado para definir o valor de .
Observe que essa construção usa implicitamente, pela primeira vez, a idéia sutil de limite, que será apresentada no próximo capítulo: qualquer real pode ser aproximado por uma sequência de racionais diádicos:
Como já foi definida para cada da sequência, é definida como
Pode ser mostrado que a função obtida satisfaz às propriedades (3.1)-(3.3). Por exemplo, se é um outro real, aproximado pela sequência , , então pode ser aproximado pela sequência , logo
Todas as operações acima são corretas, mas precisam ser justificadas.
AQUI Assim conseguimos definir a função exponencial na base como uma função definida na reta real inteira:
Ela foi construida de maneira tal que as seguintes propriedades sejam satisfeitas: ,
(3.4) | ||||
(3.5) | ||||
(3.6) | ||||
(3.7) |
Todas as funções exponenciais com base têm gráficos parecidos:
Observe que todos os gráficos passam pelo ponto , e que é estritamente crescente:
Para os valores , basta usar uma simetria: Para por exemplo, podemos observar que
Portanto, o gráfico de é obtido a partir do gráfico de por uma simetria pelo eixo . Em geral, o gráfico de é obtido a partir do gráfico de por uma simetria pelo eixo :
Temos também que quando , é estritamente decrescente:
Exercício 3.1.
Esboce os gráficos das funções , , , .
Com mais funções, resolvem-se mais (in)equações:
Exemplo 3.4.
Resolvamos
Multiplicando por em ambos lados e agrupando os termos obtemos . Chamando , essa equação se torna , cuja única solução é , isto é, . Logo, .
Exercício 3.2.
Resolva:
-
1.
-
2.
-
3.
-
4.
-
5.
-
6.
Observação 3.1.
Para se acostumar com a as mudanças de escala entre os valores de para
grande positivo e grande negativo, sugiro assistir o pequeno filme
clássico de Charles e Bernice Ray Eames de : Powers of Ten
(Potências de dez). Se encontra por
exemplo em:
http://www.youtube.com/watch?v=0fKBhvDjuy0
.
Observação 3.2.
Lembramos que a base de uma exponencial é sempre estritamente positiva. De fato, definir a exponencial para bases negativas, por exemplo , daria problemas já para definir , que corresponde a , que não é definido nos reais. Observe também que a base não é interessante, mas mesmo assim daremos um sentido a “” no Capítulo 6.