Tópico: Percolação
Imagine que gostaríamos de modelar o movimento de um líquido em um meio poroso, como uma rocha ou uma esponja. A primeira tarefa nesse estudo seria modelar esse meio poroso de maneira matematicamente rigorosa, que é o que faremos a seguir.
Fixamos uma dimensão e consideramos o seguinte grafo , onde a rede quadrada é o conjunto de vértices e o conjunto de elos é dado por
onde representa a distância euclideana em .
No nosso modelo, esse grafo pode ser entendido como um cristal periódico onde cada vértice representa uma cavidade do material poroso e os elos são potenciais conexões entre poros vizinhos.
Até agora nosso grafo é apenas uma rede periódica, mas as coisas começam a ficar interessantes à partir de agora. Imaginamos que nosso material poroso está sujeito a variações durante sua formação. Isso se reflete no fato que alguns elos de podem estar abertos ou não aleatoriamente.
Para o nosso modelo, o espaço amostral vai ser considerado com a -algebra produto. Fixamos um e definimos uma coleção de variáveis aleatórias , para , que sejam \iide com distribuição . Chamamos a probabilidade correspondente. Essas variáveis aleatórias induzem um grafo aleatório , subgrafo do grafo original, que corresponde a incluir apenas os elos com . Mais precisamente
Podemos ver na Figura 2.2 algumas simulações desse grafo aleatório.
Agora que temos um modelo de meio poroso bem definido, precisamos pensar em quais perguntas nos interessam sobre . Sendo esse um modelo para passagem de fluidos, as primeiras perguntas que faremos concerne a conectividade de .
Mostre que quase certamente é desconexo. Mais precisamente, mostre que existem quase certamente infinitos vértices isolados em .
Como não podemos esperar que seja conexo, podemos nos perguntar algo mais fraco, como por exemplo se a componente conexa da origem em é infinita.
Voltando à Figura 2.2 vemos que, dependendo do valor de , pode ser bem difícil ou bem fácil encontrar um caminho longo à partir da origem. Isso é o que estudaremos em mais detalhes no que segue.
Mais precisamente estamos interessados em:
Para estudar , vamos fazer uma aproximação de por eventos mais simples
para .
Mostre que e consequentemente que é de fato mensurável e .
Definimos portanto a função por
onde denota a probabilidade correspondente ao valor escolhido de .
Mostre que .
Nosso objetivo é entender algumas das propriedades de . A nossa intuição diz que quanto maior o valor de , mais elos serão abertos em e portanto maior será o valor de , ou em outras palavras, deve ser monótona não decrescente.
Construiremos nosso modelo de uma maneira alternativa num espaço de probabilidade maior. Definimos (com a -álgebra produto correspondente), e uma coleção de variáveis aleatórias \iidcom distribuição , e a probabilidade corespondente. Definimos para cada , do jeito seguinte
Mostre que para todo . Use isso para concluir que é monótona não decrescente.
Iremos agora mostrar a existência de um regime para o qual a componente conexa da origem não é infinita.
Para , temos que .
Antes da prova, alguns exercícios.
Definimos um caminho como sendo uma sequência , , (), tal que para todo . Tal caminho é dito aberto se para todo . E dizemos que ele é auto-evitante se para todo . Mostre que
Demonstração.
Dado e , lembramos que
Como , a soma acima é finita e converge a zero quando diverge, provando o teorema. ∎
Notas - O teorema acima ajuda a compreender o comportamento que observamos no lado esquerdo da Figura 2.2. Mais precisamente, ele nos diz que para valores de baixos (na verdade não é baixo o suficiente para podermos aplicar esse teorema) é difícil encontrar um caminho aberto do centro à borda da caixa.
Na verdade, é possível mostrar que para ,
como foi mostrado por Harris e Kesten, veja por exemplo [2] e [1]. De fato, algo bastante interessante está acontecendo nesse modelo para , como nos mostrou o trabalho de grandes matemáticos, como: Oded Schramm, Wendelin Werner, Stanislav Smirnov, entre outros.
Tópico: Teorema de Uma Sériefazer…