2.8. O Teorema de Fubini em n{\mathds{R}^{n}}

Ao longo desta seção consideramos fixados inteiros positivos mm e nn e identificamos m+n\mathds{R}^{m+n} com o produto m×n\mathds{R}^{m}\times\mathds{R}^{n} através da aplicação:

m×n(x,y)(x1,,xm,y1,,yn)m+n.\mathds{R}^{m}\times\mathds{R}^{n}\ni(x,y)\longmapsto(x_{1},\ldots,x_{m},y_{1}% ,\ldots,y_{n})\in\mathds{R}^{m+n}. (2.8.1)

Dado um subconjunto AA de m+n\mathds{R}^{m+n} e dado xmx\in\mathds{R}^{m} denotamos por AxA_{x} a fatia vertical de AA correspondente à abscissa xx definida por:

Ax={yn:(x,y)A}.A_{x}=\big{\{}y\in\mathds{R}^{n}:(x,y)\in A\big{\}}.

Se ix:nm+ni_{x}:\mathds{R}^{n}\to\mathds{R}^{m+n} denota a função ix(y)=(x,y)i_{x}(y)=(x,y) então obviamente:

Ax=ix1(A),A_{x}=i_{x}^{-1}(A), (2.8.2)

para todo xmx\in\mathds{R}^{m}. Temos portanto o seguinte:

2.8.1 Lema.

Se AA é um Boreleano de m+n\mathds{R}^{m+n} então AxA_{x} é um Boreleano de n\mathds{R}^{n} para todo xmx\in\mathds{R}^{m}.

Demonstração.

A função ixi_{x} é contínua e portanto Borel mensurável (veja Lema 2.1.15). A conclusão segue de (2.8.2). ∎

Segue do Lema 2.8.1 que se AA é um Boreleano de m+n\mathds{R}^{m+n} então faz sentido considerar a medida de Lebesgue 𝔪(Ax)\mathfrak{m}(A_{x}) da fatia AxA_{x}, para cada xmx\in\mathds{R}^{m}.

2.8.2 Lema.

Se AA é um Boreleano de m+n\mathds{R}^{m+n} então a função:

mx𝔪(Ax)[0,+]\mathds{R}^{m}\ni x\longmapsto\mathfrak{m}(A_{x})\in[0,+\infty] (2.8.3)

é mensurável e vale a igualdade:

m𝔪(Ax)d𝔪(x)=𝔪(A).\int_{\mathds{R}^{m}}\mathfrak{m}(A_{x})\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)=\mathfrak{% m}(A). (2.8.4)

Note que usamos a notação 𝔪\mathfrak{m} indistintamente para a medida de Lebesgue de m\mathds{R}^{m}, n\mathds{R}^{n} e m+n\mathds{R}^{m+n}; mais especificamente, em (2.8.3) usamos a medida de Lebesgue de n\mathds{R}^{n}, a integral do lado esquerdo da igualdade em (2.8.4) é feita com respeito à medida de Lebesgue de m\mathds{R}^{m} e no lado direito da igualdade em (2.8.4) usamos a medida de Lebesgue de m+n\mathds{R}^{m+n}.

Demonstração do Lema 2.8.2.

Denote por 𝒞\mathcal{C} a coleção de todos os Boreleanos AA de m+n\mathds{R}^{m+n} para os quais a função (2.8.3) é mensurável e a igualdade (2.8.4) é satisfeita. A idéia da prova é mostrar várias propriedades da coleção 𝒞\mathcal{C} até que finalmente concluímos que ela coincide com a classe de todos os Boreleanos de m+n\mathds{R}^{m+n}.

  • Passo 1.

    Os blocos retangulares (m+n)(m+n)-dimensionais pertencem a 𝒞\mathcal{C}.

    Se AA é um bloco retangular (m+n)(m+n)-dimensional então podemos escrever A=A1×A2A=A_{1}\times A_{2}, onde A1A_{1} e A2A_{2} são respectivamente um bloco retangular mm-dimensional e um bloco retangular nn-dimensional. Para todo xmx\in\mathds{R}^{m}, temos:

    Ax={A2,se xA1,∅︀,se xA1,A_{x}=\begin{cases}A_{2},&\text{se $x\in A_{1}$},\\ \hfil\emptyset,&\text{se $x\not\in A_{1}$},\end{cases}

    e portanto:

    𝔪(Ax)=|A2|χA1(x),\mathfrak{m}(A_{x})=|A_{2}|\,\chi_{\lower 2.0pt\hbox{$\scriptstyle A_{1}$}}(x),

    para todo xmx\in\mathds{R}^{m}. Segue que (2.8.3) é uma função simples mensurável cuja integral é igual a |A2||A1|=|A||A_{2}|\,|A_{1}|=|A|.

  • Passo 2.

    Se A,B𝒞A,B\in\mathcal{C} e AA e BB são disjuntos então AB𝒞A\cup B\in\mathcal{C}.

    Segue de (2.8.2) que (AB)x=AxBx(A\cup B)_{x}=A_{x}\cup B_{x} e que AxA_{x} e BxB_{x} são disjuntos para todo xmx\in\mathds{R}^{m}; logo:

    𝔪((AB)x)=𝔪(Ax)+𝔪(Bx),\mathfrak{m}\big{(}(A\cup B)_{x}\big{)}=\mathfrak{m}(A_{x})+\mathfrak{m}(B_{x}),

    para todo xmx\in\mathds{R}^{m}. Segue que a função x𝔪((AB)x)x\mapsto\mathfrak{m}\big{(}(A\cup B)_{x}\big{)} é mensurável, sendo uma soma de funções mensuráveis; sua integral é dada por:

    m𝔪((AB)x)d𝔪(x)=m𝔪(Ax)d𝔪(x)+m𝔪(Bx)d𝔪(x)=𝔪(A)+𝔪(B)=𝔪(AB).\int_{\mathds{R}^{m}}\mathfrak{m}\big{(}(A\cup B)_{x}\big{)}\,\mathrm{d}% \mathfrak{m}(x)=\int_{\mathds{R}^{m}}\mathfrak{m}(A_{x})\,\mathrm{d}\mathfrak{% m}(x)+\int_{\mathds{R}^{m}}\mathfrak{m}(B_{x})\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)\\ =\mathfrak{m}(A)+\mathfrak{m}(B)=\mathfrak{m}(A\cup B).
  • Passo 3.

    Se A,B𝒞A,B\in\mathcal{C}, BAB\subset A e BB é limitado então AB𝒞A\setminus B\in\mathcal{C}.

    Como BB é limitado então 𝔪(B)<+\mathfrak{m}(B)<+\infty e 𝔪(Bx)<+\mathfrak{m}(B_{x})<+\infty, para todo xmx\in\mathds{R}^{m}. Segue de (2.8.2) que BxAxB_{x}\subset A_{x} e (AB)x=AxBx(A\setminus B)_{x}=A_{x}\setminus B_{x}, para todo xmx\in\mathds{R}^{m}; logo:

    𝔪((AB)x)=𝔪(Ax)𝔪(Bx),\mathfrak{m}\big{(}(A\setminus B)_{x}\big{)}=\mathfrak{m}(A_{x})-\mathfrak{m}(% B_{x}),

    para todo xmx\in\mathds{R}^{m}, provando que a função x𝔪((AB)x)x\mapsto\mathfrak{m}\big{(}(A\setminus B)_{x}\big{)} é mensurável. Além do mais:

    m𝔪((AB)x)d𝔪(x)=m𝔪(Ax)d𝔪(x)m𝔪(Bx)d𝔪(x)=𝔪(A)𝔪(B)=𝔪(AB).\int_{\mathds{R}^{m}}\mathfrak{m}\big{(}(A\setminus B)_{x}\big{)}\,\mathrm{d}% \mathfrak{m}(x)=\int_{\mathds{R}^{m}}\mathfrak{m}(A_{x})\,\mathrm{d}\mathfrak{% m}(x)-\int_{\mathds{R}^{m}}\mathfrak{m}(B_{x})\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)\\ =\mathfrak{m}(A)-\mathfrak{m}(B)=\mathfrak{m}(A\setminus B).
  • Passo 4.

    Se (Ak)k1(A^{k})_{k\geq 1} é uma seqüência de elementos de 𝒞\mathcal{C} e se AkAA^{k}\nearrow A então A𝒞A\in\mathcal{C}.

    Segue de (2.8.2) que AxkAxA^{k}_{x}\nearrow A_{x}, para todo xmx\in\mathds{R}^{m}; logo, pelo Lema 1.4.48:

    𝔪(Ax)=limk𝔪(Axk),\mathfrak{m}(A_{x})=\lim_{k\to\infty}\mathfrak{m}(A^{k}_{x}),

    para todo xmx\in\mathds{R}^{m}. Segue que a função x𝔪(Ax)x\mapsto\mathfrak{m}(A_{x}) é mensurável, sendo um limite de funções mensuráveis. Pelo Teorema da Convergência Monotônica, temos:

    m𝔪(Ax)d𝔪(x)=limkm𝔪(Axk)d𝔪(x)=limk𝔪(Ak)=𝔪(A).\int_{\mathds{R}^{m}}\mathfrak{m}(A_{x})\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)=\lim_{k\to% \infty}\int_{\mathds{R}^{m}}\mathfrak{m}(A^{k}_{x})\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)% =\lim_{k\to\infty}\mathfrak{m}(A^{k})=\mathfrak{m}(A).
  • Passo 5.

    Se (Ak)k1(A^{k})_{k\geq 1} é uma seqüência de elementos de 𝒞\mathcal{C}, A1A^{1} é limitado e AkAA^{k}\searrow A então A𝒞A\in\mathcal{C}.

    Como A1A^{1} é limitado, temos 𝔪(Ak)<+\mathfrak{m}(A^{k})<+\infty e 𝔪(Axk)<+\mathfrak{m}(A^{k}_{x})<+\infty, para todos k1k\geq 1 e xmx\in\mathds{R}^{m}. Essa observação permite demonstrar o passo 5 de forma análoga à demonstração do passo 4.

  • Passo 6.

    Se A,B𝒞A,B\in\mathcal{C}, AB𝒞A\cap B\in\mathcal{C} e ABA\cap B é limitado então AB𝒞A\cup B\in\mathcal{C}.

    Segue dos passos 2 e 3, observando que:

    AB=(AB)B=(A(AB))B,A\cup B=(A\setminus B)\cup B=\big{(}A\setminus(A\cap B)\big{)}\cup B,

    sendo que os conjuntos A(AB)A\setminus(A\cap B) e BB são disjuntos.

  • Passo 7.

    Se B1B_{1}, …, BkB_{k} são blocos retangulares (m+n)(m+n)-dimensionais então i=1kBi𝒞\bigcup_{i=1}^{k}B_{i}\in\mathcal{C}.

    Usamos indução em kk. O caso k=1k=1 segue do passo 1. Suponha que a união de qualquer coleção de kk blocos retangulares (m+n)(m+n)-dimensionais pertence a 𝒞\mathcal{C} e sejam dados blocos retangulares (m+n)(m+n)-dimensionais B1B_{1}, …, Bk+1B_{k+1}. Como qualquer subconjunto de uma união finita de blocos retangulares é sempre um conjunto limitado, em virtude do passo 6, para mostrar que i=1k+1Bi=(i=1kBi)Bk+1\bigcup_{i=1}^{k+1}B_{i}=\big{(}\bigcup_{i=1}^{k}B_{i}\big{)}\cup B_{k+1} está em 𝒞\mathcal{C} é suficiente mostrar que (i=1kBi)Bk+1\big{(}\bigcup_{i=1}^{k}B_{i}\big{)}\cap B_{k+1} está em 𝒞\mathcal{C}. Mas:

    (i=1kBi)Bk+1=i=1k(BiBk+1),\Big{(}\bigcup_{i=1}^{k}B_{i}\Big{)}\cap B_{k+1}=\bigcup_{i=1}^{k}(B_{i}\cap B% _{k+1}),

    sendo que BiBk+1B_{i}\cap B_{k+1} é um bloco retangular (m+n)(m+n)-dimensional para i=1,,ki=1,\ldots,k. Segue da hipótese de indução que (i=1kBi)Bk+1𝒞\big{(}\bigcup_{i=1}^{k}B_{i}\big{)}\cap B_{k+1}\in\mathcal{C}.

  • Passo 8.

    Todo subconjunto aberto de m+n\mathds{R}^{m+n} pertence a 𝒞\mathcal{C}.

    Se Um+nU\subset\mathds{R}^{m+n} é aberto então o Lema 1.4.23 nos permite escrever U=i=1BiU=\bigcup_{i=1}^{\infty}B_{i}, onde cada BiB_{i} é um bloco retangular (m+n)(m+n)-dimensional. Definindo Ak=i=1kBiA_{k}=\bigcup_{i=1}^{k}B_{i} então Ak𝒞A_{k}\in\mathcal{C}, pelo passo 7 e AkUA_{k}\nearrow U. A conclusão segue do passo 4.

  • Passo 9.

    Todo subconjunto de m+n\mathds{R}^{m+n} de tipo GδG_{\delta} está em 𝒞\mathcal{C}.

    Seja Zm+nZ\subset\mathds{R}^{m+n} um GδG_{\delta}. Assumimos inicialmente que ZZ é limitado. Seja (Uk)k1(U_{k})_{k\geq 1} uma seqüência de abertos de m+n\mathds{R}^{m+n} com Z=k=1UkZ=\bigcap_{k=1}^{\infty}U_{k} e seja U0U_{0} um aberto limitado de m+n\mathds{R}^{m+n} que contém ZZ. Definindo:

    Ak=i=0kUi,A_{k}=\bigcap_{i=0}^{k}U_{i},

    então AkA_{k} é um aberto limitado para todo k1k\geq 1 e AkZA_{k}\searrow Z. Segue dos passos 5 e 8 que Z𝒞Z\in\mathcal{C}.

    Seja agora Zm+nZ\subset\mathds{R}^{m+n} um GδG_{\delta} arbitrário. Temos que

    Zk=Z]k,k[m+nZ_{k}=Z\cap\left]-k,k\right[^{\,m+n}

    é um GδG_{\delta} limitado para todo k1k\geq 1 e portanto Zk𝒞Z_{k}\in\mathcal{C}, pelo que mostramos acima. A conclusão segue do passo 4, já que ZkZZ_{k}\nearrow Z.

  • Passo 10.

    A coleção 𝒞\mathcal{C} coincide com a coleção de todos os subconjuntos Boreleanos de m+n\mathds{R}^{m+n}.

    Seja Am+nA\subset\mathds{R}^{m+n} um Boreleano. Pelo Lema 1.4.28 existe um subconjunto ZZ de m+n\mathds{R}^{m+n} de tipo GδG_{\delta} com AZA\subset Z e 𝔪(ZA)=0\mathfrak{m}(Z\setminus A)=0. Pelo Lema 1.4.50, existe um subconjunto EE de m+n\mathds{R}^{m+n} de tipo GδG_{\delta} com ZAEZ\setminus A\subset E e 𝔪(E)=𝔪(ZA)=0\mathfrak{m}(E)=\mathfrak{m}(Z\setminus A)=0. O passo 9 nos garante que EE e ZZ estão em 𝒞\mathcal{C}. Logo:

    m𝔪(Ex)d𝔪(x)=𝔪(E)=0;\int_{\mathds{R}^{m}}\mathfrak{m}(E_{x})\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)=\mathfrak{% m}(E)=0;

    como 𝔪(Ex)0\mathfrak{m}(E_{x})\geq 0, para todo xx, o resultado do Exercício 2.21 implica que 𝔪(Ex)=0\mathfrak{m}(E_{x})=0 para quase todo xm+nx\in\mathds{R}^{m+n}. Como (ZA)xEx(Z\setminus A)_{x}\subset E_{x}, para todo xmx\in\mathds{R}^{m}, segue que 𝔪((ZA)x)=0\mathfrak{m}\big{(}(Z\setminus A)_{x}\big{)}=0 para quase todo xmx\in\mathds{R}^{m}. Temos então:

    𝔪(Zx)=𝔪(Ax)+𝔪((ZA)x)=𝔪(Ax),\mathfrak{m}(Z_{x})=\mathfrak{m}(A_{x})+\mathfrak{m}\big{(}(Z\setminus A)_{x}% \big{)}=\mathfrak{m}(A_{x}),

    para quase todo xmx\in\mathds{R}^{m}, já que ZxZ_{x} é união disjunta de AxA_{x} e (ZA)x(Z\setminus A)_{x}, para todo xx. Vemos então que a funções x𝔪(Zx)x\mapsto\mathfrak{m}(Z_{x}) e x𝔪(Ax)x\mapsto\mathfrak{m}(A_{x}) são iguais quase sempre, o que implica que x𝔪(Ax)x\mapsto\mathfrak{m}(A_{x}) é uma função mensurável pelo resultado do item (b) do Exercício 2.8. Além do mais:

    m𝔪(Ax)d𝔪(x)=m𝔪(Zx)d𝔪(x)=𝔪(Z)=𝔪(A),\int_{\mathds{R}^{m}}\mathfrak{m}(A_{x})\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)=\int_{% \mathds{R}^{m}}\mathfrak{m}(Z_{x})\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)=\mathfrak{m}(Z)=% \mathfrak{m}(A),

    provando que A𝒞A\in\mathcal{C}. Isso completa a demonstração.∎

Se AA é um subconjunto mensurável de m+n\mathds{R}^{m+n} então não é verdade em geral que as fatias verticais AxA_{x} são mensuráveis para todo xmx\in\mathds{R}^{m}; por exemplo, se BB é um subconjunto não mensurável de n\mathds{R}^{n} então A={0}×BA=\{0\}\times B é um subconjunto mensurável de m+n\mathds{R}^{m+n} (com medida exterior nula), mas a fatia A0=BA_{0}=B não é mensurável. No entanto, mostraremos abaixo que se AA é mensurável então quase todas as fatias AxA_{x} de AA são mensuráveis. Faz sentido também então considerar a integral em (2.8.4), tendo em mente a seguinte convenção: se XX é um subconjunto mensurável de n\mathds{R}^{n} e se f(x)f(x) é uma expressão que faz sentido apenas para quase todo xXx\in X então escrevemos Xf(x)d𝔪(x)\int_{X}f(x)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x), entendendo que valores arbitrários de ¯\overline{\mathds{R}} podem ser atribuídos à expressão f(x)f(x) no conjunto de medida nula no qual ela não está definida. Em vista do resultado do Exercício 2.8 e do Corolário 2.4.11, essa convenção define o símbolo Xf(x)d𝔪(x)\int_{X}f(x)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x) de forma inequívoca.

2.8.3 Proposição.

Se AA é um subconjunto mensurável de m+n\mathds{R}^{m+n} então para quase todo xmx\in\mathds{R}^{m} a fatia vertical AxA_{x} é um subconjunto mensurável de n\mathds{R}^{n}, a função x𝔪(Ax)x\mapsto\mathfrak{m}(A_{x}) é mensurável e a medida de AA é dada pela igualdade (2.8.4).

Demonstração.

Basta repetir os argumentos da demonstração do passo 10 do Lema 2.8.2; a única diferença é que não sabemos a priori que as fatias de AA são mensuráveis. Mas sabemos que ExE_{x} tem medida nula para quase todo xmx\in\mathds{R}^{m} e portanto (ZA)x(Z\setminus A)_{x} é mensurável e tem medida nula para quase todo xmx\in\mathds{R}^{m}; como:

Ax=Zx(ZA)x,A_{x}=Z_{x}\setminus(Z\setminus A)_{x},

segue que também AxA_{x} é mensurável para quase todo xmx\in\mathds{R}^{m}. ∎

Observamos que se XX é um subconjunto mensurável de m\mathds{R}^{m} e se YY é um subconjunto mensurável de n\mathds{R}^{n} então X×YX\times Y é um subconjunto mensurável de m+n\mathds{R}^{m+n} (veja Exercício 1.27).

2.8.4 Teorema (Fubini–Tonelli).

Sejam XmX\subset\mathds{R}^{m}, YnY\subset\mathds{R}^{n} conjuntos mensuráveis e f:X×Y¯f:X\times Y\to\overline{\mathds{R}} uma função quase integrável. Então:

  • para quase todo xXx\in X, a função Yyf(x,y)¯Y\ni y\mapsto f(x,y)\in\overline{\mathds{R}} é quase integrável;

  • a função XxYf(x,y)d𝔪(y)¯X\ni x\mapsto\int_{Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)\in\overline{\mathds{R}} é quase integrável;

  • vale a igualdade:

    X(Yf(x,y)d𝔪(y))d𝔪(x)=X×Yf(x,y)d𝔪(x,y).\int_{X}\Big{(}\int_{Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)\Big{)}\,\mathrm{d}% \mathfrak{m}(x)=\int_{X\times Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x,y).
Demonstração.

Dividimos a demonstração em itens.

  • \bullet

    O teorema vale se ff é simples, mensurável e não negativa.

    Podemos escrever f=i=1kciχAif=\sum_{i=1}^{k}c_{i}\chi_{\lower 2.0pt\hbox{$\scriptstyle A^{i}$}}, com ci[0,+]c_{i}\in[0,+\infty] e AiA^{i} um subconjunto mensurável de X×YX\times Y, para i=1,,ki=1,\ldots,k. Note que, se xXx\in X, temos:

    f(x,y)=i=1kciχAxi(y),f(x,y)=\sum_{i=1}^{k}c_{i}\chi_{\lower 2.0pt\hbox{$\scriptstyle A^{i}_{x}$}}(y), (2.8.5)

    para todo yYy\in Y. Pela Proposição 2.8.3, existe para cada i=1,,ki=1,\ldots,k um conjunto de medida nula NimN_{i}\subset\mathds{R}^{m} tal que AxiA^{i}_{x} é mensurável para todo xmNix\in\mathds{R}^{m}\setminus N_{i}. Daí N=i=1kNiN=\bigcup_{i=1}^{k}N_{i} tem medida nula e segue de (2.8.5) que para xmNx\in\mathds{R}^{m}\setminus N, a função yf(x,y)y\mapsto f(x,y) é mensurável e sua integral é dada por:

    Yf(x,y)d𝔪(y)=Yi=1kciχAxi(y)d𝔪(y)=i=1kci𝔪(Axi).\int_{Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)=\int_{Y}\sum_{i=1}^{k}c_{i}\chi_{% \lower 2.0pt\hbox{$\scriptstyle A^{i}_{x}$}}(y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)=% \sum_{i=1}^{k}c_{i}\mathfrak{m}(A^{i}_{x}).

    Logo:

    X(Yf(x,y)d𝔪(y))d𝔪(x)=mi=1kci𝔪(Axi)d𝔪(x)=i=1kci𝔪(Ai)=X×Yf(x,y)d𝔪(x,y).\int_{X}\Big{(}\int_{Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)\Big{)}\,\mathrm{d}% \mathfrak{m}(x)=\int_{\mathds{R}^{m}}\sum_{i=1}^{k}c_{i}\mathfrak{m}(A^{i}_{x}% )\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)=\sum_{i=1}^{k}c_{i}\mathfrak{m}(A^{i})\\ =\int_{X\times Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x,y).
  • \bullet

    O teorema vale se ff é mensurável e não negativa.

    Seja (fk)k1(f_{k})_{k\geq 1} uma seqüências de funções fk:X×Y[0,+]f_{k}:X\times Y\to[0,+\infty] simples e mensuráveis com fkff_{k}\nearrow f. Seja NkmN_{k}\subset\mathds{R}^{m} um conjunto de medida nula tal que a função yfk(x,y)y\mapsto f_{k}(x,y) é mensurável para todo xXNkx\in X\setminus N_{k}. Daí N=k=1NkN=\bigcup_{k=1}^{\infty}N_{k} tem medida nula e a função:

    Yyf(x,y)=limkfk(x,y)[0,+]Y\ni y\longmapsto f(x,y)=\lim_{k\to\infty}f_{k}(x,y)\in[0,+\infty]

    é mensurável para todo xXNx\in X\setminus N. Pelo Teorema da Convergência Monotônica, temos:

    Yf(x,y)d𝔪(y)=limkYfk(x,y)d𝔪(y),\int_{Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)=\lim_{k\to\infty}\int_{Y}f_{k}(x,y)% \,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y),

    para todo xXNx\in X\setminus N. Logo a função xYf(x,y)d𝔪(y)x\mapsto\int_{Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y) é mensurável e, usando novamente o Teorema da Convergência Monotônica, obtemos:

    X(Yf(x,y)d𝔪(y))d𝔪(x)=limkX(Yfk(x,y)d𝔪(y))d𝔪(x)=limkX×Yfk(x,y)d𝔪(x,y)=X×Yf(x,y)d𝔪(x,y).\int_{X}\Big{(}\int_{Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)\Big{)}\,\mathrm{d}% \mathfrak{m}(x)=\lim_{k\to\infty}\int_{X}\Big{(}\int_{Y}f_{k}(x,y)\,\mathrm{d}% \mathfrak{m}(y)\Big{)}\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)\\ =\lim_{k\to\infty}\int_{X\times Y}f_{k}(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x,y)=\int% _{X\times Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x,y).
  • \bullet

    O teorema vale se ff é quase integrável.

    Como f+f^{+} e ff^{-} são funções mensuráveis não negativas, temos:

    X(Yf+(x,y)d𝔪(y))d𝔪(x)=X×Yf+(x,y)d𝔪(x,y),\displaystyle\int_{X}\Big{(}\int_{Y}f^{+}(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)\Big{% )}\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)=\int_{X\times Y}f^{+}(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{% m}(x,y), (2.8.6)
    X(Yf(x,y)d𝔪(y))d𝔪(x)=X×Yf(x,y)d𝔪(x,y).\displaystyle\int_{X}\Big{(}\int_{Y}f^{-}(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)\Big{% )}\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)=\int_{X\times Y}f^{-}(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{% m}(x,y). (2.8.7)

    Como ff é quase integrável, temos que f+f^{+} é integrável ou ff^{-} é integrável; para fixar as idéias, vamos supor que X×Yfd𝔪<+\int_{X\times Y}f^{-}\,\mathrm{d}\mathfrak{m}<+\infty. Tendo em mente o resultado do Exercício 2.19, segue de (2.8.7) que:

    Yf(x,y)d𝔪(y)<+,\int_{Y}f^{-}(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)<+\infty,

    para quase todo xXx\in X. Segue que a função yf(x,y)y\mapsto f(x,y) é quase integrável para quase todo xXx\in X; além do mais, de (2.8.6) e (2.8.7) vem:

    X(Yf(x,y)d𝔪(y))d𝔪(x)=X(Yf+(x,y)d𝔪(y))d𝔪(x)X(Yf(x,y)d𝔪(y))d𝔪(x)=X×Yf+(x,y)d𝔪(x,y)X×Yf(x,y)d𝔪(x,y)=X×Yf(x,y)d𝔪(x,y).\begin{aligned} \int_{X}\Big{(}\int_{Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)\Big{)% }\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)&=\int_{X}\Big{(}\int_{Y}f^{+}(x,y)\,\mathrm{d}% \mathfrak{m}(y)\Big{)}\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)\\ &-\int_{X}\Big{(}\int_{Y}f^{-}(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)\Big{)}\,\mathrm% {d}\mathfrak{m}(x)\end{aligned}\\ =\int_{X\times Y}f^{+}(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x,y)-\int_{X\times Y}f^{-}% (x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x,y)\\ =\int_{X\times Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x,y).\qed

Seja σ:{1,,m+n}{1,,m+n}\sigma:\{1,\ldots,m+n\}\to\{1,\ldots,m+n\} uma aplicação bijetora (i.e., uma permutação de m+nm+n elementos) e considere o isomorfismo linear σ^\widehat{\sigma} de m+n\mathds{R}^{m+n} definido por:

σ^(z1,,zm+n)=(zσ(1),,zσ(m+n)),\widehat{\sigma}(z_{1},\ldots,z_{m+n})=(z_{\sigma(1)},\ldots,z_{\sigma(m+n)}),

para todo (z1,,zm+n)m+n(z_{1},\ldots,z_{m+n})\in\mathds{R}^{m+n}. Segue do resultado do Exercício 1.11 que σ^\widehat{\sigma} preserva medida, i.e., 𝔪(σ^1(A))=𝔪(A)\mathfrak{m}\big{(}\widehat{\sigma}^{-1}(A)\big{)}=\mathfrak{m}(A), para todo subconjunto mensurável AA de m+n\mathds{R}^{m+n} (veja Definição 2.1). Pelo resultado do Exercício 2.16, uma função f:m+n¯f:\mathds{R}^{m+n}\to\overline{\mathds{R}} é quase integrável se e somente se fσ^f\circ\widehat{\sigma} é quase integrável e, nesse caso, as integrais de ff e fσ^f\circ\widehat{\sigma} coincidem. Em vista dessas observações, temos o seguinte:

2.8.5 Corolário.

Sejam XmX\subset\mathds{R}^{m}, YnY\subset\mathds{R}^{n} conjuntos mensuráveis e f:X×Y¯f:X\times Y\to\overline{\mathds{R}} uma função quase integrável. Então:

  • para quase todo yYy\in Y, a função Xxf(x,y)¯X\ni x\mapsto f(x,y)\in\overline{\mathds{R}} é quase integrável;

  • a função yXf(x,y)d𝔪(x)¯y\mapsto\int_{X}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)\in\overline{\mathds{R}} é quase integrável;

  • vale a igualdade:

    Y(Xf(x,y)d𝔪(x))d𝔪(y)\displaystyle\int_{Y}\Big{(}\int_{X}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)\Big{)}\,% \mathrm{d}\mathfrak{m}(y) =X×Yf(x,y)d𝔪(x,y)\displaystyle=\int_{X\times Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x,y)
    =X(Yf(x,y)d𝔪(y))d𝔪(x).\displaystyle=\int_{X}\Big{(}\int_{Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)\Big{)}% \,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x).
Demonstração.

Considere a permutação σ\sigma de m+nm+n elementos dada por:

σ(i)={n+i,se 1im,im,se m+1im+n,\sigma(i)=\begin{cases}n+i,&\text{se $1\leq i\leq m$},\\ i-m,&\text{se $m+1\leq i\leq m+n$},\end{cases}

de modo que:

σ^(y1,,yn,x1,,xm)=(x1,,xm,y1,,yn),\widehat{\sigma}(y_{1},\ldots,y_{n},x_{1},\ldots,x_{m})=(x_{1},\ldots,x_{m},y_% {1},\ldots,y_{n}),

para todos xmx\in\mathds{R}^{m}, yny\in\mathds{R}^{n}. Temos que:

σ^1(X×Y)=Y×Xn×mm+n.\widehat{\sigma}^{-1}(X\times Y)=Y\times X\subset\mathds{R}^{n}\times\mathds{R% }^{m}\cong\mathds{R}^{m+n}.

Em vista das observações que precedem o enunciado do corolário, temos que fσ^|Y×X:Y×X¯f\circ\widehat{\sigma}|_{Y\times X}:Y\times X\to\overline{\mathds{R}} é quase integrável e tem a mesma integral que ff. A conclusão é obtida aplicando o Teorema 2.8.4 à função fσ^|Y×Xf\circ\widehat{\sigma}|_{Y\times X}, trocando os papéis de mm e nn. ∎

É possível que uma função mensurável f:X×Y¯f:X\times Y\to\overline{\mathds{R}} seja tal que as integrais iteradas X(Yf(x,y)d𝔪(y))d𝔪(x)\int_{X}\big{(}\int_{Y}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)\big{)}\,\mathrm{d}% \mathfrak{m}(x) e Y(Xf(x,y)d𝔪(x))d𝔪(y)\int_{Y}\big{(}\int_{X}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)\big{)}\,\mathrm{d}% \mathfrak{m}(y) sejam ambas bem-definidas, porém distintas; em vista do Corolário 2.8.5, isso somente é possível quando a função ff não é quase integrável.

2.8.6 Exemplo.

Seja (aij)i,j1(a_{ij})_{i,j\geq 1} uma seqüência dupla de números reais tal que as séries:

j=1aij,i=1,2,,i=1aij,j=1,2,,\displaystyle\sum_{j=1}^{\infty}a_{ij},\quad i=1,2,\ldots,\qquad\sum_{i=1}^{% \infty}a_{ij},\quad j=1,2,\ldots, (2.8.8)
i=1(j=1aij),j=1(i=1aij),\displaystyle\sum_{i=1}^{\infty}\Big{(}\sum_{j=1}^{\infty}a_{ij}\Big{)},\qquad% \sum_{j=1}^{\infty}\Big{(}\sum_{i=1}^{\infty}a_{ij}\Big{)}, (2.8.9)

são todas absolutamente convergentes, mas:

i=1(j=1aij)j=1(i=1aij).\sum_{i=1}^{\infty}\Big{(}\sum_{j=1}^{\infty}a_{ij}\Big{)}\neq\sum_{j=1}^{% \infty}\Big{(}\sum_{i=1}^{\infty}a_{ij}\Big{)}.

Tome, por exemplo:

aij={1,se i=j,1,se i+1=j,0,caso contrário,a_{ij}=\begin{cases}1,&\text{se $i=j$},\\ -1,&\text{se $i+1=j$},\\ 0,&\text{caso contrário},\end{cases}

de modo que todas as séries em (2.8.8) e (2.8.9) têm apenas um número finito de termos não nulos e:

i=1(j=1aij)=0,j=1(i=1aij)=1.\sum_{i=1}^{\infty}\Big{(}\sum_{j=1}^{\infty}a_{ij}\Big{)}=0,\quad\sum_{j=1}^{% \infty}\Big{(}\sum_{i=1}^{\infty}a_{ij}\Big{)}=1.

Considere a função f:[0,+[×[0,+[f:\left[0,+\infty\right[\times\left[0,+\infty\right[\to\mathds{R} definida por:

f=i,j=1aijχ[i1,i[×[j1,j[,f=\sum_{i,j=1}^{\infty}a_{ij}\,\chi_{\lower 2.0pt\hbox{$\scriptstyle\left[i-1,% i\right[\times\left[j-1,j\right[$}},

ou seja, a restrição de ff ao retângulo [i1,i[×[j1,j[\left[i-1,i\right[\times\left[j-1,j\right[ é igual a aija_{ij}, para todos i,j1i,j\geq 1. Fixado x[0,+[x\in\left[0,+\infty\right[ então:

f(x,y)=j=1aijχ[j1,j[(y),f(x,y)=\sum_{j=1}^{\infty}a_{ij}\,\chi_{\lower 2.0pt\hbox{$\scriptstyle\left[j% -1,j\right[$}}(y),

para todo y[0,+[y\in\left[0,+\infty\right[, onde i1i\geq 1 é tal que x[i1,i[x\in\left[i-1,i\right[. Como a série j=1aij\sum_{j=1}^{\infty}a_{ij} é absolutamente convergente, segue do resultado do Exercício 2.27 que a função yf(x,y)y\mapsto f(x,y) é integrável e:

0+f(x,y)d𝔪(y)=j=1aij;\int_{0}^{+\infty}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)=\sum_{j=1}^{\infty}a_{ij};

daí:

0+f(x,y)d𝔪(y)=i=1(j=1aij)χ[i1,i[(x),\int_{0}^{+\infty}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)=\sum_{i=1}^{\infty}\Big{(}% \sum_{j=1}^{\infty}a_{ij}\Big{)}\chi_{\lower 2.0pt\hbox{$\scriptstyle\left[i-1% ,i\right[$}}(x),

para todo x[0,+[x\in\left[0,+\infty\right[. Como a série i=1(j=1aij)\sum_{i=1}^{\infty}\big{(}\sum_{j=1}^{\infty}a_{ij}\big{)} é absolutamente convergente, usando novamente o resultado do Exercício 2.27, concluímos que a função x0+f(x,y)d𝔪(y)x\mapsto\int_{0}^{+\infty}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y) é integrável e:

0+(0+f(x,y)d𝔪(y))d𝔪(x)=i=1(j=1aij).\int_{0}^{+\infty}\Big{(}\int_{0}^{+\infty}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)% \Big{)}\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)=\sum_{i=1}^{\infty}\Big{(}\sum_{j=1}^{% \infty}a_{ij}\Big{)}.

De modo análogo, mostra-se que:

0+(0+f(x,y)d𝔪(x))d𝔪(y)=j=1(i=1aij),\int_{0}^{+\infty}\Big{(}\int_{0}^{+\infty}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)% \Big{)}\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)=\sum_{j=1}^{\infty}\Big{(}\sum_{i=1}^{% \infty}a_{ij}\Big{)},

e portanto:

0+(0+f(x,y)d𝔪(y))d𝔪(x)0+(0+f(x,y)d𝔪(x))d𝔪(y).\int_{0}^{+\infty}\Big{(}\int_{0}^{+\infty}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y)% \Big{)}\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)\neq\int_{0}^{+\infty}\Big{(}\int_{0}^{+% \infty}f(x,y)\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(x)\Big{)}\,\mathrm{d}\mathfrak{m}(y).