2.4 Composição, contradomínio e imagem
Suponha que se queira obter o valor de com uma calculadora. Como uma calculadora possui em geral as duas funções e , calculemos primeiro o quadrado de , e em seguida tomemos o seno do resultado:
O que foi feito foi compor duas funções.
Sejam e duas funções reais. Definemos a composição de com como a nova função definida por
Isto significa que para calcular , calculamos primeiro ,
e em seguida aplicamos :
Exercício 2.21.
Sejam , , . Calcule
Como foi observado no exercício anterior, é em geral diferente de .
Às vezes será necessário considerar uma função complicada como sendo uma composta de funções mais elementares:
Exemplo 2.20.
A função pode ser vista como a composta
que significa que , com e . Observe que podia também escrever
que dá a decomposição , onde , , .
Exercício 2.22.
Para cada função a seguir, dê uma decomposição de como composição de funções mais simples.
-
1.
-
2.
-
3.
-
4.
Exercício 2.23.
Considere
Calcule e .
Lembramos que uma função é sempre definida junto com o seu domínio:
Em “”, o “” foi colocado para indicar que qualquer que seja , é sempre um número real. Em outras palavas: a imagem de qualquer por é um número real. Vejamos em alguns exemplos que esse conjunto “” pode ser mudado por um conjunto que represente melhor a função.
Exemplo 2.21.
Considere
Como qualquer que seja , vemos que a imagem de qualquer por é positiva. Logo, podemos rescrever a função da seguinte maneira:
Quando uma função for escrita na forma
para indicar que qualquer em tem a sua imagem em , diremos que um contradomínio foi escolhido para . Em geral, não existe uma escolha única para o contradomínio.
Exemplo 2.22.
Como, é uma função limitada, podemos escrever
(2.2) | ||||
Mas podemos também escolher um contradomínio menor:
(2.3) | ||||
Acontece que é o menor contradomínio possível (ver abaixo).
Seja . Para cada , lembremos que é chamado de imagem de , e o conjunto imagem de é definido como
Por definição, é um contradomínio, e é também o menor possível. Para cada , existe pelo menos um tal que , cada com essa propriedade é chamado de preimagem de . Cada ponto possui uma única imagem em , um pode possuir uma preimagem, mais de uma preimagem, ou nenhuma preimagem.
Exemplo 2.23.
Considere a função seno na reta. Ao percorrer a reta real, atinge todos os pontos do intervalo . Logo, . Qualquer possui infinitas preimagens, por exemplo, todos os pontos de são preimagens de . O ponto , por sua vez, não possui nenhuma preimagem (não existe tal que ).
Exercício 2.24.
Calcule o conjunto imagem das seguintes funções:
-
1.
,
-
2.
,
-
3.
( ímpar)
-
4.
( par)
-
5.
,
-
6.
,
-
7.
,
-
8.
,
-
9.
,
-
10.
,
-
11.
,
-
12.
,
-
13.
,
-
14.
,
-
15.
,
-
16.
Faça a mesma coisa com as funções do Exercício (2.4).
Exercício 2.25.
Se , calcule . Para cada , determine se possui uma única preimagem ou mais.
2.4.1 Bijeção, função inversa
Diremos que uma função é bijetiva (ou simplesmente: é uma bijeção) se
-
1.
(isto é, se atinge cada ponto do seu contradomínio), e se
-
2.
qualquer possui uma única preimagem, i.e. existe um único tal que
(2.4)
Quando uma função é bijetiva, é possivel definir a sua função inversa, , onde para todo , é definido como a única solução de (2.4). A função inversa tem as seguintes propriedades:
Exemplo 2.24.
Considere a função do Exemplo 2.8: com . Então , e é uma bijeção:
Como , a função inversa obtém-se isolando : . Logo, , . Para esboçar o gráfico da função inversa no plano cartesiano, é mais natural renomear a variável usada para representar , da seguinte maneira:
Podemos agora esbocar :
É importante observar que o gráfico da função inversa obtém-se a partir do gráfico de por uma simetria através da diagonal do primeiro quadrante:
Vimos no último exemplo que o gráfico de é obtido a partir do gráfico de por uma simetria através da diagonal do primeiro quadrante. Isso vale em geral. De fato, se um ponto pertence ao gráfico de , então pertence ao gráfico de .
Exemplo 2.25.
Considere .
1) Com , temos . Mas como , cada ponto do contradomínio (diferente de zero) possui exatamente duas preimagens, logo não é bijetiva. 2) Mas, ao restringir o domínio, , então , se torna bijetiva. O seu inverso se acha resolvendo : . Assim, a sua função inversa é dada por , .
Exercício 2.26.
Mostre que a função
é bijetiva, e calcule . Esboce o gráfico de .
Exercício 2.27.
Considere , . A partir do gráfico de , dê o seu conjunto imagem, e mostre que é uma bijeção. Em seguida, dê a sua função inversa.
Exercício 2.28.
Seja uma bijeção ímpar. Mostre que a sua função inversa é ímpar também.
Exercício 2.29.
Para cada um dos contradomínios a seguir, dê um exemplo explícito de bijeção .
-
1.
, onde .
-
2.
, onde .
-
3.
-
4.
-
5.
Exercício 2.30.
Sejam e , , definidas por
Mostre que .
2.4.2 Inversos das potências
Vimos que se é par, então a função é par, e ou (dependendo de ser ou ). Logo, para serem invertidas, o domínio delas precisa ser restringido. Escolheremos (para par)
Vemos que com essa restrição, se torna bijetiva: para cada existe um único tal que . Esse costuma ser denotado por :
No caso , é a função raiz quadrada.
Se for ímpar, e não é preciso restringir o seu domínio:
é bijetiva, e o seu inverso tem o seguinte gráfico:
Exercício 2.31.
Complete essa discussão, incluindo os valores negativos de .
Exercício 2.32.
Resolva:
-
1.
-
2.
-
3.
2.4.3 Funções trigonométricas inversas
Vimos que para a função , um possui infinitas preimagens, logo não é bijeção. Portanto, para inverter a função seno, é necessário restringir o seu domínio. A restringiremos ao intervalo :
De fato, com essa restrição,
é uma bijeção, pois cada é atingido e possui uma única preimagem. A função inversa é chamada arcseno, e denotada
Pela sua definição, ela satisfaz:
O gráfico de pode ser obtido por uma reflexão do gráfico de pela diagonal do primeiro quadrante:
Observação 2.2.
(Já fizemos esse comentário no Exemplo 2.24.) Como é definida como a função inversa de (no intervalo ), o mais correto é escrevê-la . Mas para esboçar o seu gráfico, faz mais sentido usar a notação habitual, em que o eixo das abscissas é chamado de “”. Por isso, esse último gráfico representa o gráfico da função , mas chamando a sua variável (em vez de ): . Faremos a mesma modificação nos próximos gráficos.
Exercício 2.33.
Seja tal que . Calcule , , e .
O cosseno pode ser invertido também, uma vez que o seu domínio é bem escolhido:
A função inversa é chamada arcosseno, e denotada
Ela possui as propriedades:
O gráfico de pode ser obtido por uma reflexão pela diagonal do primeiro quadrante:
Para inverter a tangente, faremos a restrição
obtendo assim uma bijeção.
A função inversa é chamada de arctangente:
Como antes,
O seu gráfico possui duas assíntotas horizontais: quando é positivo e grande, o gráfico de se aproxima da reta de equação , e quando é negativo e grande, ele se aproxima da reta de equação :
Observemos também que é uma função ímpar, limitada por .
Observação 2.3.
É importante notar que as três funções trigonométricas inversas, e , foram definidas a partir de uma escolha de uma restrição para cada uma das funções , e . Essa escolha pode parecer arbitrária, mas é a mais comum usada nos livros de matemática. Continuaremos usando as funções inversas assim definidas, até o fim do curso.
Exercício 2.34.
Determine os domínios das seguintes funções.
-
1.
-
2.
-
3.
-
4.
Exercício 2.35.
Uma tela de cinema de metros de altura está pregada numa parede, metros acima do chão. a) Se é um ponto no chão a distância da parede, calcule o ângulo sob o qual vê a tela, em função de . b) Mesma coisa se é a metros do chão. (Obs: no Exercício 7.15 calcularemos onde colocar o ponto de modo tal que o ângulo seja máximo.)
Exercício 2.36.
Resolva:
-
1.
-
2.
-
3.
-
4.
As funções trigonométricas inversas têm identidades associadas. Somente consideraremos algumas:
Exemplo 2.26.
Provemos, por exemplo, a identidade
Primeiro, como , temos, usando (2.6),
Mas como , vale , logo, tomando a raiz quadrada dá a idendidade desejada. Um outro jeito de entender a identidade é de escrevê-la como , onde . Logo, , o que pode ser representado num triângulo:
Nesse triângulo vemos que .
Exercício 2.37.
Simplifique:
-
1.
-
2.
-
3.
-
4.
-
5.
-
6.
Exercício 2.38.
Mostre que para todo ,