4.2 Limites laterais:
Na seção anterior estudamos o comportamento de uma função
longe da origem, ou .
Agora observaremos
o comportamento de uma função a medida que
se aproxima de um ponto da reta, que denotaremos por .
Como um pode estar ou à esquerda de (), ou à direita de (), começaremos com dois tipos de limites, chamados de laterais: escreveremos (ou ) para indicar que se aproxima de pela direita, e (ou ) para indicar que se aproxima de pela esquerda.
Comecemos com um exemplo bem simples.
Exemplo 4.16.
Considere a função
em uma vizinhança do ponto . Olhemos primeiro os valores de quando , isto é, quando toma valores maiores mas perto de :
Vemos que estes valores decrescem, se aproximando de . Gostaríamos de escrever
Ao olharmos os valores de quando , isto é, quando toma valores menores mas perto de , vemos que estes crescem para o mesmo valor :
Gostariamos então de escrever
Essas propriedades se tornam óbvias olhando para o gráfico, que é uma simples reta:
Para entender um pouco melhor o que está acontecendo, vamos estudar a diferença:
Assim, vemos que quando fica perto de , isto é quando a distância é pequena, então a diferença é pequena também. Poderíamos ser um pouco mais precisos, fixar uma tolerância (subentendido pequena) e perguntar: quão próximo de precisa estar para garantir que
Como , vemos que precisa satisfazer , isto é
Logo, a resposta à pergunta acima é: a distância menor que .
Na verdade, pode parecer óbvio que a medida que se aproxima de , a função se aproxima de . Isto é: colocando o valor na função, a gente já sabe qual será o valor limite. Mas isso funciona porque a função do exemplo é simples o suficiente. Às vezes, teremos que trabalhar mais, como no próximo exemplo.
Exemplo 4.17.
Consideremos agora
também na vizinhança de . Observe que essa função não é definida em . Logo, para saber o que acontece quando tende a , não temos como adivinhar qual será o limite trocando simplesmente por .
Mas isso não significa que ele não pode ser calculado. Calculemos alguns valores de , com ,
1.1 | 1.02 | 1.002 | 1.0002 | |
e quando :
0,9 | 0,99 | 0.999 | 0.9999 | |
Esses números sugerem que
Não falaremos de tolerância aqui, mas podemos fazer uma conta simples que mostra porque que o limite é . De fato, o polinômio possui a raiz , sabemos então que ele pode ser fatorado da seguinte maneira:
O fator pode ser calculado pela divisão de por , que dá:
Isto mostra que o nosso quociente na verdade pode ser escrito como
Agora fica claro que se tende a , não importa de qual lado,
Observação 4.7.
No exemplo anterior, a função não é definida no ponto , mas em qualquer outro ponto da sua vizinhança, e à medida que se aproxima de , o numerador e o denominador ambos tendem a . Foi o nosso primeiro exemplo de resolução de uma indeterminação do tipo
Exercício 4.11.
Calcule , , …
Eis agora a definição geral de limite lateral:
Definição 4.4.
Seja .
-
1.
Diz-se que tende a quando tende a pela direita se para todo existe um tal que se , então . Escreve-se .
-
2.
Diz-se que tende a quando tende a pela esquerda se para todo existe um tal que se , então . Escreve-se .
Exemplo 4.18.
Usando a definição, mostremos que
Observe primeiro que . Quando fica perto de , digamos a distância menor que , temos , e . Quando tende a , tende a . Seja agora . Para garantir que , podemos escrever primeiro , e procurar primeiro resolver , que dá . Assim, mostramos que se , com , teremos .
Foi usado implicitamente em (4.18) que se cada termo de uma soma possui limite, então a soma possui limite também, e este vale a soma dos limites; segue do seguinte resultado, que é o análogo da Proposição 4.1:
Proposição 4.3.
Suponha que duas funções, e , possuam limites quando :
onde e são ambos finitos. Então
(4.19) | |||
(4.20) |
Além disso, se , então
As mesmas propriedades valem no caso .
Nos exemplos anteriores, os limites laterais e eram iguais. Vejamos um exemplo onde eles são diferentes.
Exemplo 4.19.
Considere na vizinhança de (em que ela nem é definida). Usando a definição de , podemos reescrever da seguinte maneira:
Logo,
Isso significa que o gráfico de , ao crescer de para e atravessar , dá um pulo de valores pertos de para valores perto de . Diz-se que essa função é descontínua em :
Exercício 4.12.
Seja
Calcule os limites laterais para , , .
Às vezes, limites laterais não existem:
Exemplo 4.20.
Por exemplo, o limite lateral da função (que obviamente não é definida em ) não existe:
Observe, no entanto, que .
Exercício 4.13.
Considere a função definida por
Estude os limites laterais de num ponto qualquer .
Exercício 4.14.
Seja . Calcule , , , . Calcule , . Calcule, para qualquer número inteiro , , .