6.9 Derivação implícita
A maioria das funções encontradas até agora eram dadas explicitamente, o que significa que os seus valores eram calculáveis facilmente. Por exemplo, se
então pode ser calculado para qualquer valor de : , , etc. Além disso, pode ser derivada aplicando simplesmente as regras de derivação:
Mas às vezes, uma função pode ser definida de maneira implícita. Vejamos exemplos.
Exemplo 6.26.
Fixe um e considere o número solução da seguinte equação:
Por exemplo, se , então . Se então . A cada escolhido corresponde um único que satisfaça a relação acima. Os pares definem uma curva no plano. Essa curva é definida pela relação (6.20).
Quando varia, o correspondente varia também, logo é função de : . Na verdade, pode ser obtida isolando em (6.20):
o que significa que . A relação (6.21) dá a relação explícita entre e , enquanto em (6.20) a relação era só implícita. Com a relação explícita em mão, pode-se estudar mais propriedades da curva , usando por exemplo a derivada de .
Exemplo 6.27.
Considere agora a seguinte relação implícita
Não o faremos aqui, mas pode ser provado que a cada corresponde um único que resolve a última equação. Ora, apesar disso permitir definir a função implicitamente, os seus valores são difíceis de se calcular explicitamente. Por exemplo, é fácil ver que , , etc., mas outros valores, como ou não podem ser escritos de maneira elementar. A dificuldade de conhecer os valores exatos de é devida ao problema de isolar em (6.22).
Se os valores de uma função já são complicados de se calcular, parece mais difícil ainda estudar a sua derivada. No entanto, veremos agora que em certos casos, informações úteis podem ser extraidas sobre a derivada de uma função, mesmo esta sendo definida de maneira implícita.
Exemplo 6.28.
Considere o círculo de raio centrado na origem. Suponha, como no Exercício 6.5, que se queira calcular a inclinação da reta tangente a no ponto . Na sua forma implícita, a equação de é dada por
Para calcular a inclinação da reta tangente, é preciso ter uma função que represente o círculo na vizinhança de , e em seguida calcular a sua derivada neste ponto. Neste caso, ao invés de (6.22), é possível isolar na equação do círculo. Lembrando que pertence à metade inferior do círculo, obtemos . Logo, como a função é dada explicitamente, ela pode ser derivada, e a inclinação procurada é dada por
Essa inclinação foi obtida explicitamente, pois foi calculada a partir de uma expressão explícita para .
Vamos apresentar agora um jeito de fazer que não passa pela determinação precisa da função . De fato, suponha que a função que descreve o círculo na vizinhança de seja bem definida: (ou ). Já que o gráfico de passa por , temos . Mas também, como a função representa o círculo numa vizinhança de , ela satisfaz
(Estamos assumindo que a última expressão define , mas não a calculamos expliciamente.) Derivamos ambos lados dessa expressão com respeito a : como , (regra da cadeia) e , obtemos
Isolando obtemos
Assim, não conhecemos explicitamente, somente implicitamente, mas já temos uma informação a respeito da sua derivada. Como o nosso objetivo é calcular a inclinação da reta tangente em , precisamos calcular . Como , a fórmula (6.24) dá:
Em (6.23) derivamos implicitamente com respeito a . Isto é, calculamos formalmente a derivada de supondo que ela existe. Vejamos um outro exemplo.
Exemplo 6.29.
Considere a curva do plano definida pelo conjunto dos pontos que satisfazem à condição
Observe que o ponto pertence a essa curva. Qual é a equação da reta tangente à curva em ?
Supondo que a curva pode ser descrita por uma função na vizinança de e derivando (6.25) com respeito a ,
Logo, a inclinação da reta tangente em vale , e a sua equação é .
Lembre que quando calculamos , na Seção 6.4.3, derivamos ambos lados da expressão , que contém implicitamente a função . Nesta seção voltaremos a usar esse método.
Exercício 6.45.
Calcule quando é definido implicitamente pela equação dada.
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1.
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2.
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3.
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4.
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5.
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6.
Exercício 6.46.
Calcule a equação da reta tangente à curva no ponto dado.
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1.
, .
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2.
, .
-
3.
, .