6.11 A Regra de Bernoulli-l’Hôpital
Vejamos agora como a derivada fornece uma ferramenta útil para calcular alguns limites de formas indeterminados do tipo “”, “”, “”, tais como
Os métodos apresentados até agora não permitem calcular esses limites. Nesta seção veremos como derivadas são úteis para estudar limites da forma , quando , , ou quando , . A idéia principal é que limites indeterminados da forma (ou ) podem, em geral, ser estudados via uma razão de duas derivadas. Os métodos que aproveitam dessa idéia, descritos abaixo, costumam ser chamados de Regra de Bernoulli-l’Hôpital 33 3 Johann Bernoulli, Basileia (Suiça) 1667-1748. Guillaume François Antoine, marquis de L’Hôpital (1661 - 1704). (denotado por B.-H. abaixo). Comecemos com um exemplo elementar.
Exemplo 6.33.
Considere o limite
Já que e , esse limite é indeterminado da forma . Mas observe que, dividindo o numerador e o denomindor por ,
Dessa forma, aparecem dois quocientes bem comportados quando . O numerador, , tende à derivada da função em , isto é, . O denominador, tende à derivada da função em , isto é: , diferente de zero. Logo,
A idéia do exemplo anterior pode ser generalizada:
Teorema 6.4 (Regra de Bernoulli-l’Hôpital, Primeira versão).
Sejam , duas funções deriváveis no ponto , que se anulam em , , e tais que existe. Então
Demonstração.
Como antes,
∎
Exercício 6.49.
Calcule os limites:
O resultado acima pode ser generalizado a situações em que não existe, ou em que e nem são definidas em :
Teorema 6.5 (Regra de Bernoulli-l’Hôpital, Segunda versão).
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1.
Limites : Sejam , duas funções deriváveis em , com , para todo . Suponha que e são tais que e , com . Se existir, ou se for , então
(6.30)(Uma afirmação equivalente pode ser formulada para .)
-
2.
Limites : Sejam , duas funções deriváveis em todo suficientemente grande, e tais que , , com . Se existir ou se for , então
(6.31)(Uma afirmação equivalente pode ser formulada para limites .)
Demonstração.
Provemos somente o primeiro item. Fixe . Podemos definir , , de modo tal que a função seja contínua em e derivável em . Como , o Teorema de Rolle 6.2 garante a existência de um tal que , isto é, , que pode ser escrito
Observe que se , então . Logo, com a mudança de variável ,
o que prova a afirmação. ∎
Exemplo 6.34.
Considere . No Capítulo 4, calculamos esse limite da seguinte maneira:
Vejamos agora como esse mesmo limite pode ser calculado também usando a Regra de Bernoulli-l’Hôpital. Como o limite é da forma , com e ambas deriváveis em , que e não se anulam nesse intervalo, e como , o Teorema 6.5 implica . Do mesmo jeito, , o que implica .
Observação 6.9.
A Regra de Bernoulli-l’Hôpital (que será às vezes abreviada "regra de B.H.") fornece uma ferramenta poderosa para calcular alguns limites, mas é importante sempre verificar se as hipóteses do teorema são satisfeitas, e não querer a usar para calcular qualquer limite! Também, ela pode às vezes se aplicar mas não ser de nenhuma utilidade (ver o Exercício 6.50).
Às vezes, é preciso usar a regra de B.H. mais de uma vez para calcular um limite:
Exemplo 6.35.
Considere o limite , já encontrado no Exercício 4.19. Como e ambas tendem a zero e são deriváveis na vizinhança de zero, as hipóteses do Teorema (6.5) são satisfeitas:
Já sabemos que . Mesmo assim, sendo também da forma , esse limite pode ser calculado aplicando a regra de B.-H. uma segunda vez: . Logo, . Como a função é par, o limite lateral é igual ao limite lateral , logo .
Vejamos agora um exemplo de limite :
Exemplo 6.36.
Vejamos em seguida um exemplo em que é necessário tomar um limite lateral:
Exemplo 6.37.
Considere . Aqui, consideremos e , ambas deriváveis no intervalo . Além disso, e para todo . O limite pode ser escrito na forma de um quociente, escrevendo . Logo,
onde B.H. foi usada na segunda igualdade.
Um outro jeito de calcular o limite acima é de fazer uma mudança de variável: se , então implica . Logo,
e já vimos no último exemplo que esse limite vale .
Exercício 6.50.
Calcule os limites abaixo. Se quiser usar a Regra de Bernoulli-l’Hôpital, verifique primeiro que as hipóteses sejam satisfeitas.
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1.
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27.
Vários outros tipos de limites, por exemplo indeterminações “”, podem ser calculados usando o Teorema 6.5. Aqui usaremos exponenciação.
Exemplo 6.38.
Para calcular , que é da forma c“”, comecemos exponenciando
Como é contínua, (lembre da Seção 5.2). Ora, o limite pode ser escrito na forma de um quociente:
A segunda igualdade é justificada pela regra de B.-H. (as funções são deriváveis em todo suficientemente grande), a última por uma conta fácil de limite, colocando em evidência. Portanto,
Exemplo 6.39.
Considere . Como e são ambas deriváveis na vizinhança de zero, e como
temos
Exercício 6.51.
Calcule:
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1.
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11.
Exercício 6.52.
(Segunda prova, 27 de maio de 2011) Calcule os limites