6.4 Regras de derivação
Antes de começar a usar derivadas, é necessário estabelecer algumas regras de derivação, que respondem essencialmente à seguinte pergunta: se e sáo deriváveis, e conhecidas, como calcular , , , ? Nesta seção, será sempre subentendido que as funções consideradas são deriváveis nos pontos considerados. Comecemos com o caso mais fácil:
Regra 1.
para toda constante .
Demonstração.
Usando a definição de e colocando em evidência,
∎
Por exemplo, .
Regra 2.
Demonstração.
Aplicando a definição e rearranjando os termos,
∎
Por exemplo, .
Regra 3.
(Regra do produto de Leibniz).
Demonstração.
Por definição,
Para fazer aparecer as derivadas respectivas de e , escrevamos o quociente como
Quando , temos e . Como é derivável em , ela é também contínua em (Teorema 6.1), logo . Assim, quando , o quociente inteiro tende a . ∎
Por exemplo,
Exercício 6.16.
Dê contra-exemplos para mostrar que em geral, .
Exercício 6.17.
Mostre a fórmula usando indução e a regra de Leibniz. (Dica: .)
Estudemos agora a derivação de funções compostas:
Regra 4.
(Regra da cadeia).
Demonstração.
Fixemos um ponto . Suporemos, para simplificar, que para todo suficientemente pequeno 11 1 Sem essa hipótese, a prova precisa ser ligeiramente modificada.. Podemos escrever
(6.10) |
Sabemos que o segundo termo quando . Para o primeiro termo chamemos e . Quando , , logo
∎
Para aplicar a regra da cadeia, é importante saber identificar quais são as funções envolvidas, e em qual ordem elas são aplicadas (lembre do Exercício 2.22).
Exemplo 6.7.
Suponha por exemplo que queira calcular a derivada da função , que é a composta de com : . Como e temos, pela regra da cadeia,
Para calcular , que é a composta de com , e como , temos
Exemplo 6.8.
Para calcular a derivada de , que é a composta de com , e como , , temos
De modo geral, deixando ser uma função qualquer, derivável e não-nula em ,
Regra 5.
(Regra do quociente).
Demonstração.
Exemplo 6.9.
Usando a regra do quociente, podemos agora calcular:
Essa última expressão pode ser escrita de dois jeitos:
Exercício 6.18.
Use as regras de derivação para calcular as derivadas das seguintes funções. Quando for possível, simplifique a expressão obtida.
-
1.
-
2.
-
3.
-
4.
-
5.
-
6.
-
7.
-
8.
-
9.
-
10.
-
11.
-
12.
-
13.
-
14.
-
15.
-
16.
-
17.
-
18.
-
19.
-
20.
-
21.
Exercício 6.19.
Calcule a derivada da função dada.
-
1.
-
2.
-
3.
-
4.
-
5.
-
6.
-
7.
-
8.
-
9.
-
10.
-
11.
Exercício 6.20.
Verifique que as derivadas das funções trigonométricas hiperbólicas são dadas por
Às vezes, um limite pode ser calculado uma vez que interpretado como uma derivada.
Exemplo 6.10.
Considere o limite , que é indeterminado da forma . Como , vemos que o limite pode ser interpretado como a derivada da função no ponto :
Ora, como , temos . Isto é: .
Exercício 6.21.
Calcule os seguintes limites, interpretando-os como derivadas.
-
1.
-
2.
-
3.
-
4.
-
5.
Exercício 6.22.
Considere as funções
Mostre que é derivável (logo, contínua) em todo . Mostre que é contínua em todo e derivável em todo , mas não é derivável em .
6.4.1 Derivar as potências ; exponenciação
Definir uma potência para é imediato. Por exemplo,
. Mas como definir para uma potência
não-inteira, por exemplo ?
Um jeito de fazer é de se lembrar que qualquer pode ser exponenciado: . Como , é natural definir
Observe que com essa definição, as regras habituais são satisfeitas. Por exemplo, para qualquer ,
Mas a definição dada acima permite também derivar , usando simplesmente a regra da cadeia:
Assim foi provado que a fórmula , inicialmente provada para
, vale também para expoentes não-inteiros.
O que foi usado acima é que se é derivável, então pela regra da cadeia,
Exemplo 6.11.
Considere uma exponencial numa base qualquer, , . Exponenciando a base , temos . Logo,
Essa expressão permite calcular as derivadas das funções da forma . De fato, se , sempre podemos escrever , transformando . Por exemplo,
Exemplo 6.12.
Considere , com . Escrevendo o (de baixo) como , temos , logo
Exercício 6.23.
Derive as seguintes funções (supondo sempre que ).
-
1.
-
2.
-
3.
-
4.
6.4.2 Derivadas logarítmicas
Vimos que derivar uma soma é mais simples do que derivar um produto: a derivada da
soma se calcula termo a termo, enquanto para derivar o produto, é necessário
usar a regra de Leibniz repetitivamente.
Ora, lembramos que o logaritmo transforma produtos em soma, e que esse
fato pode ser usado para simplificar as contas que aparecem para derivar um
produto.
Considere uma função definida como o produto de funções, que suporemos todas positivas e deriváveis:
Para calcular , calculemos primeiro
e derivamos ambos lados com respeito a . Do lado esquerdo, usando a regra da cadeia, . Derivando termo a termo do lado direito, obtemos
Logo, obtemos uma fórmula
Exercício 6.24.
Derive, usando o método sugerido acima:
-
1.
-
2.
-
3.
6.4.3 Derivar uma função inversa
Sabemos que e , mas como derivar as suas
respectivas funções inversas, isto é, e ?
Vimos que o inverso de uma função , quando é bem definido, satisfaz às relações:
Logo, derivando em ambos lados com respeito a , e usando a regra da cadeia do lado esquerdo,
Logo,
Exemplo 6.13.
Calculemos a derivada do , que é por definição a inversa da função , e bem definida para . Como , a fórmula acima dá
Usando a identidade provada no Exemplo 2.26: , obtemos
Observe que, como pode ser visto no gráfico da Seção 2.4.3, as retas tangentes ao gráfico de são verticais nos pontos , o que se traduz pelo fato de não existir nesses pontos.
Exercício 6.25.
Mostre que
Exercício 6.26.
Calcule as derivadas das funções abaixo.
-
1.
-
2.
-
3.
,
-
4.
,
-
5.
,
Exercício 6.27.
Seja . Mostre que a reta de equação é tangente ao gráfico de em algum ponto .